Morre musicólogo Carlos Palombini, precursor das pesquisas no funk nos anos 2000
Ele tinha 68 anos e sofreu um infarto em seu apartamento em Belo Horizonte
Morreu, na manhã de domingo (10), o musicólogo Carlos Palombini, pioneiro dos estudos acadêmicos sobre o funk no Brasil. Ele tinha 68 anos e sofreu um infarto em seu apartamento em Belo Horizonte, cidade onde lecionou por muitos anos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, era professor visitante do Museu Nacional. A morte foi confirmada à Folha de S. Paulo pela irmã, Analice.
Palombini foi o primeiro pesquisador de um departamento de música no país a estudar o funk —ainda nos anos 2000. Em um cenário acadêmico que, em grande parte, enxergava o gênero apenas como manifestação sociológica, ele defendia o valor estético e o potencial criativo da música que emergia das favelas cariocas. Também se destacou como um dos primeiros a discutir, de forma sistemática, a relação entre música e questões de gênero.
Em maio de 2025, ele concedeu entrevista à Billboard Brasil para o especial “Uma linha do tempo do funk proibidão”, escrito pelo jornalista Guilherme Lucio da Rocha. Ele criou o site Proibidão para catalogar a história do gênero.
“O proibidão, musicalmente, é a coisa mais subvalorizada dos gêneros brasileiros”, diz o pesquisador Carlos Palombini. “Se tornou algo extremamente experimental.”. Na virada dos anos 2000, o funk proibidão teve seu auge”
Entre diversas publicações em revistas brasileiras e estrangeiras, é autor do capítulo “Funk Proibido”, no livro “Dimensões Políticas da Justiça” (Civilização Brasileira, 2013).
No artigo “Como tornar-se difícil de matar: Volt Mix, Tamborzão, Beatbox” (leia aqui), ele traça breve cronologia das batidas do funk a partir do Volt Mix, Tamborzão e Beatbox até a chegada dos anos 2000.
Em entrevista ao site Volume Morto, ele reconhece o funk como o primeiro gênero brasileiro de música dançante.
O funk é um gênero essencialmente experimental, como o foram o hip-hop e a house na origem. Seus criadores não partiram de uma educação musical formal para fazer a música, mas inventaram-na por meio da prática dos recursos de um instrumentário novo. Essa prática e suas descobertas resultaram no primeiro gênero brasileiro de música eletrônica dançante
Antes de se dedicar ao funk, já era reconhecido como um dos principais estudiosos da obra de Pierre Schaeffer, criador da música concreta — gênero baseado em sons de objetos, e não de instrumentos, gravados e manipulados em estúdio. Foi essa pesquisa que lhe rendeu o título de doutor em música pela Universidade de Durham, no Reino Unido, em 1992.