Apesar de ser muito fã de Madonna, o ator e dublador Nestor Chiesse, de 54 anos, planejava assistir ao show da cantora em Copacabana, deste sábado (4), do conforto de casa. Mas mudou os planos de última e viajou para o Rio nesta sexta-feira (3). Ele já marcou presença em seis turnês da Rainha do pop, incluindo “The Celebration Tour”, nos Estados Unidos.
“Não me aguentei!”, diz Nestor em bate-papo com a Billboard Brasil. O primeiro contato do ator com a música de Madonna foi no início da adolescência, com o lançamento de “Borderline”, primeiro álbum da Rainha do pop. Anos depois, o impacto da cantora na sua vida pessoal seria ainda mais forte.
“Meu namorado na época morreu de AIDS. Ele também era muito fã da Madonna, fizemos boa parte da minha coleção juntos. Em 1993, vimos os shows dela [aqui no Brasil]. O conheci quando ele já era soropositivo. Ele foi corajoso e me contou. Vivi essa relação que durou quatro anos e cuidei dele. Foi um namoro maravilhoso”, conta.
“Ela foi a primeira grande artista do mainstream a falar sobre isso no palco. Foi de uma coragem extrema fazer as pessoas discutirem e conviverem com aquela doença Iorque isso era considerado um castigo mesmo. […] A Madonna ativista e política começou a fazer mais sentido na minha vida. Depois, com ‘Erotica’, foi revolucionário. Celebrar e falar de sexualidade em um momento que todo o mundo associava os gays e o sexo com a morte, a uma condenação. Ela me ajudou a resgatar a alegria do sexo.”
Nestor aguarda ansioso pela homenagem de Madonna aos artistas brasileiros vítimas da AIDS, como Cazuza e Renato Russo, além do ativista e sociólogo Betinho. “Isso mostra uma empatia muito grande. Vai ser lindo, vou chorar com certeza. Acho que é um círculo se fechando.”
Feliz da vida
Em março, o ator viajou para Houston, nos Estados Unidos, onde assistiu aos shows da “The Celebration Tour”. A diferença na performance de Madonna, comparada às anteriores, chamou a atenção de Nestor.
“Um jeito que nunca tinha visto antes. Depois do susto, ela está mais emotiva. Fala muito sobre a relação com os filhos, está soltinha. Foi muito prazeroso, como fã, assistir uma Madonna que ri do erro, que conversa com a plateia sem texto decorado, como já vi outras vezes. Saí muito feliz do show porque ela estava celebrando a vida”, detalha.
O susto que o dublador se refere foi a internação de Madonna em junho passado na UTI com uma infecção bacteriana grave. Desde então, a cantora falou diversas vezes em shows que teve medo de morrer e foi cuidada pelos filhos.
“Isso trouxe a noção de mortalidade para ela. Imagina a quantidade de sensações de poder que vive dentro dessa mulher? Quando a gente é promovido, já ficamos com outra postura. Imagina alguém que manda no mundo? [risos]. Acho que isso trouxe um pouco a humanidade para ela de volta.”
Fã crítico, como ele se define, Nestor exalta a importância da habilidade de Madonna na comunicação para a carreira.
“Ela tinha que ser ensinada para todos os artistas do pop. Tem momentos [dela] que eu não gosto, às vezes discordo, mas respeito. Ela tem uma importância inegável para a indústria pop, para a cultura gay e clubber. Ela nunca foi conhecida como alguém que tivesse uma grande extensão vocal, mas o talento dela é exatamente no poder em pegar tudo e te fazer refletir: ‘O que você está fazendo na vida? O que está consumindo? Quem é você? Qual a sua escolha?’”.