Entrevista: KINO lança novo álbum e se liberta da imagem de perfeição
Cantor sul-coreano encara a raiva e transforma a vulnerabilidade em força
O novo álbum de KINO é resultado de uma fase libertadora para o cantor. Aos 27 anos, o sul-coreano decidiu traduzir as frustrações e desilusões com a carreira em música.
Em “EVERYBODY’S GUILTY, BUT NO ONE’S TO BLAME”, ele aborda momentos de ansiedade, raiva e também de desejo – tema frequentemente implícito em canções no K-pop, mas dificilmente abordado de forma direta pelos ídolos.
“Somos todos humanos. Desejo, atração, essas são partes de nós. Através da música, posso mostrar que expressar desejo não é sobre ser provocativo, é sobre ser sincero. Todos nós desejamos, todos nós queremos, e isso é normal”, diz KINO em entrevista para a Billboard Brasil.
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“Por muito tempo, tentei ser quem as pessoas esperavam que eu fosse. Educado, brilhante, perfeito. Mas agora, me permito ser desorganizado, confuso e real. Artisticamente, me sinto mais livre porque finalmente há mais tópicos sobre os quais posso escrever”, explica.
Além de um desabafo, o álbum foi uma forma de terapia para KINO lidar com as próprias expectativas e questões da juventude. “Me sinto mais leve porque não estou mais tentando me tornar o que eu achava que as pessoas gostariam que eu fosse.”
Leia a entrevista completa com KINO
Billboard Brasil: Você disse que esse álbum é sobre dar uma reviravolta em tudo. Em que momento você decidiu que era hora de fazer isso?
KINO: Escrevi e cantei uma música chamada “Back In Time” durante minha última turnê, incluindo [um show no] Brasil. Embora não fosse tecnicamente perfeita em termos de arranjos, as pessoas se identificaram com ela. Depois, percebi que aquela música, amada há muito tempo, vem da honestidade, mesmo que o que ela expressa seja positivo ou negativo. Para fazer isso, tive que entender quem eu realmente sou e finalmente percebi que não sou uma pessoa que vive a vida apenas com pensamentos otimistas.
Descobri que, principalmente nos últimos três anos, tenho acumulado raiva. Principalmente pela frustração e ansiedade por não atingir meu objetivo como artista. Por um grande acaso, eu estava ignorando esses sentimentos para ser o bom rapaz perfeito. Então, com esse álbum eu queria que as pessoas soubessem que há mais lados do KINO do que vimos na mídia. Ser vulnerável é uma coisa assustadora, mas eu queria mostrar meu outro lado para elas, na esperança de ser amado por mim como um todo.
Como foi confrontar esses sentimentos que você evitava?
O fato de admitir que eu tinha esses sentimentos me deixou mais ansioso e me machucou quando enfrentei cada emoção. Demorou um pouco para eu aceitar. Além disso, a decisão de mostrar esses sentimentos para outras pessoas foi outra coisa; eu tinha medo de que elas aceitassem.
Como era esse processo de autoaceitação no dia a dia?
Começou sendo honesto comigo mesmo. Mesmo quando eu não gostava do que via. Tentei parar de rotular as emoções como “boas” ou “ruins”. Alguns dias me sentia deprimido, outros me sentia vazio e, em vez de fugir disso, simplesmente aceitei. Aprendi que amar a mim mesmo nem sempre significa sentir orgulho… Mas significa aceitar todos os lados, mesmo aqueles que me assustam.
Você sentiu medo de que isso pudesse mudar como seus fãs o veem?
Esse era meu maior medo até o lançamento… A chance de que eu poderia ser abandonado pelas pessoas que me amavam. Especialmente como alguém que sempre quis ser amado por todos, esse lado meu continuava tentando me impedir de seguir em frente. Não foi uma decisão fácil, considerando meus fãs, porque todo mundo prefere valorizar momentos positivos e bonitos, e não o contrário. Mas eu também acreditava que, se eu fosse sincero e genuíno, poderia ser amado como um humano, Kang Hyunggu. Vendo tantos fãs ainda no mesmo lugar hoje, estou aliviado por não ser uma escolha errada.
O que liberdade significa para você agora?
É o que quero para o meu futuro. Para mim, “liberdade” não se trata apenas de atos de rebeldia, como xingar em público. É mais sobre “não me esconder do desejo de ser amado pelas pessoas” e “não tentar constantemente me tornar a pessoa que as pessoas esperam que eu seja”. “Ser honesto com meus sentimentos” e “Coragem para ser criticado” são duas coisas principais que aprendi fazendo este álbum e acredito que isso abrirá as portas para essa “liberdade” no futuro.
Você descreve esse projeto “a emancipação do KINO”… Como está sendo isso?
Por muito tempo, tentei ser quem as pessoas esperavam que eu fosse. Educado, brilhante, perfeito. Mas agora, me permito ser desorganizado, confuso e real. Artisticamente, me sinto mais livre porque finalmente há mais tópicos sobre os quais posso escrever. Até mesmo sobre coisas que costumavam me assustar. Pessoalmente, me sinto mais leve porque não estou mais tentando me tornar o que eu achava que as pessoas gostariam que eu fosse.
No K-pop, temas como desejo e atração são frequentemente vistos como tabu. O que fez você decidir explorar esse lado?
Porque somos todos humanos. Desejo, atração, essas são partes de nós. Através da música, posso mostrar que expressar desejo não é sobre ser provocativo, é sobre ser sincero. Todos nós desejamos, todos nós queremos, e isso é normal.
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Você acha que o público hoje está mais preparado para aceitar a imperfeição e a complexidade de seus ídolos?
Acho que sim. Ou pelo menos quero acreditar que sim. As pessoas hoje são inteligentes e sabem o que é real. A imagem perfeita costumava ser um escudo para os ídolos, mas agora a honestidade conecta mais profundamente. Acho que as pessoas querem ver autenticidade, mesmo que não seja perfeita. E, sabe, alguns podem criticar porque é algo com o qual não estão acostumados no início, mas acredito que se eles se identificarem com isso, essas músicas ficarão com eles por mais tempo. Afinal, os ídolos também são pessoas que fazem música. Existem diferentes maneiras de liberar o estresse com música, e este álbum tenta oferecer outra opção para eles escolherem, um álbum que expressa o que pensam, algo que eles não ousariam expressar por conta própria.
Como aceitar a imperfeição influenciou sua criatividade?
Isso me deu mais liberdade e mais palavras para escrever. Antes, eu estava muito focado no que as pessoas gostariam. Mas agora, a honestidade me dá infinitas coisas para dizer. Acho que ganhei mais coragem para me expressar porque o “eu” de que falo agora é muito mais tridimensional do que o KINO das minhas letras anteriores. O eu imperfeito pode escrever sobre minha tristeza, minha raiva, até meus erros, e ainda chamar isso de arte.
Olhando para trás, quão diferente este KINO é daquele que debutou anos atrás?
Naquela época, eu era obcecado em ser perfeita. Cada movimento tinha que ser certo, cada palavra tinha que soar bem. Agora, me importo mais em ser real. Aprendi que vulnerabilidade não é fraqueza. É poder. Então, eu diria que ainda sou o mesmo sonhador, apenas mais honesto e sem filtros.
Teve alguma música ou um momento durante a produção que fez você pensar: “Esse sou eu”?
Honestamente, todas as músicas fizeram [risos]. Mas a que mais se aproximou das emoções que senti ao fazer este álbum foi a faixa seis, “WURK”. Eu estava com raiva o tempo todo, cansado de falhar e decepcionado com as rejeições. Quanto mais ansioso eu ficava, mais furioso eu ficava. Tiveram momentos em que pensei: talvez eu não queira mais viver assim. Mas, ainda assim, todas as manhãs eu me forçava a fingir que estava tudo bem, voltar para o escritório, abrir meu laptop e repetir o mesmo ciclo. Essa música capturou exatamente como isso me fez sentir. A frustração, a exaustão e o ritmo estranho da sobrevivência.
Você vê este álbum como o encerramento de um capítulo ou como o início de um novo?
Gostaria de dizer que é uma continuação, uma estrutura mais ampla da mesma história. A versão passada de mim não era falsa, ele ainda é parte de mim. É que agora me tornei a versão completa de mim mesmo. Continuo aprendendo sobre a vida e não sei o que é certo ou errado. Mas, independentemente de a escolha de hoje ser boa ou ruim, ela criará algum tipo de futuro. E mal posso esperar para ver como será.
Quando você pensa no seu eu futuro, o KINO de 30 anos, o que você espera que ele tenha aprendido com esse período?
Espero que ele ainda ria alto. Ainda seja corajoso o suficiente para cometer erros e honesto o suficiente para admiti-los. Não quero que ele esteja completamente curado ou perfeitamente estável. Só quero que ele continue sentindo as coisas profundamente, que chore quando doer, que comemore quando parecer certo, que ainda tenha curiosidade sobre o mundo. Talvez eu ainda esteja descobrindo as coisas aos 30, mas tudo bem. Prefiro estar perdido e vivo do que acomodado e entorpecido.
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Você tem sua própria gravadora, a NAKED. Qual tem sido a parte mais difícil de assumir os dois papéis, CEO e artista?
A parte mais difícil é o equilíbrio e não me perder no processo. Alguns dias estou revisando contratos, agendas e algumas reuniões por Zoom até a 1 da manhã, e aí tenho que ir direto para o estúdio tentar compor novas músicas. É engraçado, às vezes estou negociando contratos por telefone enquanto continuo coberto de maquiagem esfumado de um ensaio fotográfico. Essa é a minha vida agora. É exaustivo, mas também percebi que essa dualidade é quem eu sou. Alguém que ama arte, mas também quer protegê-la. Então, continuo mesmo quando isso me esgota.
Que tipo de cultura você está tentando construir na NAKED, tanto para você quanto para futuros artistas que possam se juntar a você?
Quero que a NAKED seja um espaço onde a honestidade seja celebrada, não punida. Um lugar onde as pessoas não precisem esconder suas dúvidas ou dificuldades e ainda possam criar algo bonito com elas. Para mim também. Quero crescer em um lugar que aceite mudanças, riscos e até mesmo o fracasso. Essa é a cultura que tento criar. Honestidade sem medo.
Para encerrarmos, você pode mandar uma mensagem para seus fãs brasileiros?
O Brasil é um país muito especial no meu coração. Nunca vou esquecer a energia e o amor dos shows que fizemos no Brasil. Toda vez que encontro fãs brasileiros em turnê, eles me fazem quebrar meu próprio recorde de “o show mais apaixonante da minha vida”. Ainda não consigo superar a emoção que senti lá. Obrigado por entenderem minha música. Não apenas a melodia, mas a emoção por trás dela. Prometo que voltarei em breve! Prometo!