João Carlos Martins e Marcelo Bratke mostram o poder curativo da música
O maestro e o pianista se apresentam nesta segunda-feira na Sala São Paulo
Marcelo Bratke, 60, tinha 14 anos quando presenciou um milagre que só a música pode dar. O pianista – hoje maestro– João Carlos Martins, 85, fez uma visita à família de Bratke e debulhou uma peça de Bach no piano da residência. “A energia contagiante com a qual João Carlos Martins tocou Bach foi o suficiente para que eu, que nunca havia estudado música, decidisse me tornar um pianista de concerto”, diz Bratke, que por motivos óbvios se tornaria pianista tempos depois.
A obra não foi somente um deleite para os ouvidos dos Bratke, mas também serviu como um bálsamo aos problemas de saúde pelos quais Marcelo e João Carlos estavam passando. Bratke nasceu com catarata congênita e ambliopia (uma atrofia do nervo ótimo) e tinha 2% de visão num olho e 7% no outro. Martins, por seu turno, exibia os primeiros sinais da distonia focal, problema neurológico que afetou sua destreza ao piano –ainda que execute peças com toda a emoção que elas exigem de um instrumentista de sua importância.
Segunda-feira, na Sala São Paulo, João Carlos Martins e Marcelo Bratke sobem ao palco para mostrar que a música não apenas vence (um dos bordões do maestro) como salva e inspira. À frente da Bachiana Filarmônica Sesi SP, orquestra que comanda desde 2006, João Carlos Martins rege Bratke no terceiro “Concerto para Piano” de Ludwig von Beethoven, peça que marcou a estreia do pianista como solista. Em seguida, Bratke rege João Carlos Martins –que, sim, irá para o piano– em peças de Tom Jobim, Astor Piazzolla e temas para o cinema criados por John Williams e Ennio Morricone.
Em entrevista para a Billboard Brasil, Martins e Bratke lembram de como aquele primeiro momento ao piano foi fundamental para os dois. “Sempre disse para o pai do Marcelo que o filho dele veria se tornar pianista”, diz João Carlos. “Quinze dias depois que fui à casa dos Bratke, peguei o Marcelo colocando a partitura na cara para aprender a tocar piano”, lembra. Bratke devolve o elogio inspirador. “Eu era um garoto inseguro com uma deficiência visual congênita grave e com muitas limitações. Fiquei encantado com aquela música e com aquele personagem. Comecei a ter aulas de piano e aprendi o concerto de Bach praticamente de ouvido”, lembra. “Seus discos do ‘Cravo Bem Temperado’ e das Partitas de Bach são uma referência para mim e os tenho até hoje”, completa.
Em 2018, Bratke se submeteu a uma operação nos Estados Unidos a fim de remediar seus problemas de visão. Hoje ele possui 95% de visão no olho esquerdo e 10% no direito. Em dezembro de 2024, estreou, na TV Cultura, o programa “Momento Musical”, uma espécie de pílulas de informação de dois minutos que contam a história de grandes compositores da música. João Carlos Martins, por sua vez, fez outra apresentação histórica no Carnegie Hall, lendária casa de espetáculos em Nova York, no dia 09 de maio. “Eles raramente abrem a parte de cima do Carnegie Hall para o público. Conseguimos esse feito”, anima-se.
João Carlos Martins e Marcelo Bratke são ainda famosos por sua abordagem na praia do crossover, onde a música erudita e popular se cruzam nas salas de concerto. O maestro regeu desde Chitãozinho & Xororó ao DJ Anderson Noise e Marcelo Bratke tocou ao lado de Sandy, Fernanda Takai e Naná Vasconcelos. “O que importa é a música de bom gosto. A outra você deixa de lado depois de quinze dias”, comenta João. Bratke cita então o grande compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos que não via distinção entre os gêneros musicais –a ponto de incluir temas populares como o choro entre as suas criações. O concerto da Sala São Paulo, além de mostrar esse poder curativo da música, será um exemplo de como diferentes linguagens musicais se conectam.
Veja a entrevista completa de João Carlos Martins e Marcelo Bratke
SERVIÇO
MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS E BACHIANA FILARMÔNICA SESI SP
Onde: Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, s/n)
Horário: 20h30
Ingressos: INTI








