Jeff Satur hipnotiza com universo artístico em show no Brasil
Apresentação na capital paulista abriu a turnê 'The Red Giant'
Após exatos dois anos da sua primeira passagem pelo Brasil, o cantor tailandês Jeff Satur deu início à sua turnê mundial “The Red Giant”, com datas já anunciadas para passar por outros (poucos) países latino-americanos, como México e Chile. A apresentação por aqui aconteceu em São Paulo, no Terra SP, reunindo cerca de 3 mil pessoas no domingo (6).
Em pouco mais de 1h30 de show, Jeff apresentou um setlist de hits antigos, canções recém-lançadas e conversas com SATs (apelido para Saturdayss, o nome do fandom).
Os momentos de performance e interações, inclusive, pareciam ser feitos por duas personalidades diferentes do artista: enquanto a persona musical dava vazão para um lado sexy e envolvente, o lado carismático vinha à tona entre sorrisos e brincadeiras com fãs – que ele tratava como velhos conhecidos, em uma reunião familiar ansiada pelos dois lados.
Carregando a dualidade como marca registrada da “The Red Giant”, a Billboard Brasil preparou uma lista dos melhores momentos de Jeff Satur no Brasil, para destrinchar a jornada de uma das vozes mais proeminentes da nova geração do pop tailandês em sua ascensão para a dominação mundial.
1. O conceito: ‘The Red Giant’
Antes mesmo de pisar no palco, o telão de LED ao fundo do palco deu início ao que seria uma história contada em atos, não apenas na música, mas no audiovisual. Os gráficos e animações seguiam a identidade visual usada em seu 1º álbum completo, “Space Shuttle No. 8”, lançado em fevereiro de 2024, com 18 faixas originais co-criadas por um time de colaboradores, artistas e produtores, além do próprio Jeff.
Se na época do lançamento do álbum a obra foi descrita como “nascida dos pensamentos e experiências de Jeff, para levar os ouvintes em uma jornada através da imaginação de Satur”, o storytelling cinematográfico foi um complemento potente à entrega de Satur e banda ao vivo. O design e direção de arte de “The Red Giant” são assinados pelo time HEREODD, do estúdio de design tailandês homônimo, que ganhou o prêmio de “Best Album Packaging” no Toty Awards 2024, com um time criativo multidisciplinar, mas seguindo o conceito e história creditados ao próprio Jeff Satur.
Mais da metade do show foi dedicada às cenas de apoio e vídeos de interlúdio com um tom de filme de terror, com gráficos em preto, branco, cinza e vermelho e sorrisos maliciosos; escadas, o planeta Saturno – sua marca registrada – e a imagem de Jeff no final com um sorriso diabólico: o público assistia ao filme que está dentro da mente do artista, que se preocupa com cada detalhe da experiência multissensorial que é o show da turnê “The Red Giant”.
2. A experiência: o culto do show
Levando em conta a composição audiovisual e a ambientação, Jeff dançava na linha tênue entre performance artística e uma experiência quase religiosa. Sob a liderança de uma autoconfiança inabalável do cantor que sabe que entrega voz mais do que suas versões de estúdio, Jeff cantou, encantou e desencantou: o “Gigante Vermelho” poderia muito bem ser uma energia mágica, que respondia aos comandos vocais do artista e hipnotizou o público. Para onde se olhava, pessoas em situação de êxtase, olhos vidrados e movimentos de louvor.
Entre os tantos destaques do setlist, “DUM DUM (ลืมดื่ม)” foi um desses momentos. A performance do hit, que alcançou a posição de n° 24 e ficou 22 semanas nos charts da Billboard Tailândia, começou após um jogo de luzes vermelhas, e uma introdução de instrumentos clássicos e sintetizadores. Entre reboladas e um agudo digno de um rockstar, a multidão gritava em uníssono, em resposta. Ali, Satur abriu provavelmente o portal para uma dimensão alternativa, representada por simbologias diabólicas – mas, que no fim, eram apenas o grito de liberdade de um artista sendo finalmente reconhecido, após anos de trabalho.
A Billboard da Tailândia nomeou Jeff Satur como um dos três artistas de T-pop em ascensão internacional, com seis canções entre as mais ouvidas, no 1º semestre de 2024, também apresentadas durante a “The Red Giant”, como “ซ่อน (ไม่) หา (Ghost)” e “ลืมไปแล้วว่าลืมยังไง (Fade)”.
3. Covers
Já que não é suficiente dominar a própria discografia, Satur entregou dois covers como se as canções de outros intérpretes fossem suas desde o começo. Seguindo a energia intensa e avermelhada dos primeiros ⅔ do show, “Take Me To Church” do cantor Hozier acertou o alvo. O título da música, “leve-me à igreja” (em tradução livre), faz alusão a experiência entre amor e sexo, e critica a homofobia e manipulação religiosa no clipe de Hozier. É uma grande metáfora com o poder do amor, em um contexto de transformação da fé – e se encaixou como uma luva no meio de “The Reg Giant”.
Em outro momento, já ao fim do show, e em meio a visuais que puxavam o azul e o branco, Satur surpreendeu ao cantar “Quando a Chuva Passar”, de Ivete Sangalo, após declarar: “Eu estive praticando meu português”. Em uma pronúncia quase perfeita, a escolha inusitada da balada emotiva de uma das artistas mais famosas do Brasil há décadas levou o público a responder em coro, como se fosse um braço da sua banda.
O inverno paulistano não teve espaço no ambiente, onde até os covers foram pensados para deixar uma reflexão que aqueceu o coração de quem pode testemunhar ao vivo.
🇧🇷 TRAGAM O CPF! O Jeff cantando em português a música “Quando a chuva passar” da Ivete Sangalo.
JEFF SATUR NO BRASIL #RedGiantTourInBrazil pic.twitter.com/wfPBwu8WL7
— BoysLove Hub (@hubboyslove) July 7, 2025
4. Amor ao Brasil
“O tailandês de vocês é melhor que o meu. (…) Eu só quero dizer que essa é a 1ª parada da minha turnê e pode não ser educado o que eu vou dizer, mas… Vocês mandaram bem para caralho!”.
A troca de energia foi uma via de mão dupla que deu um tom especial para a “The Red Giant” no Brasil. Jeff respondeu a cada interação, grito e declaração de amor, garantindo que a entrega do público brasileiro era exatamente como ele se lembrava (e sentia falta). Após um dos momentos de maior vibração do público, durante os momentos finais do show, Jeff foi surpreendido por uma homenagem em vídeo preparada por fãs, que se lia ao fim: “Agora julho é você” – remetendo a coincidência das duas vindas do artista ao Brasil acontecerem neste mês. “Agora vocês são meu julho também”, ele respondeu. A música para a homenagem foi “Julho”, de Jão.
Reconhecendo parte importante da sua jornada artística como ator e a relevância do drama “KinnPorsche” na sua vida, Jeff introduziu a trilha sonora original do BL com orgulho, como um presente com dedicatória ao Brasil: “Meu amigo Bible esteve aqui esse ano. Nós viajamos tão longe para estar aqui no Brasil. E eu sei que muitos de vocês me conheceram ali. Essa música se chama ‘Why Don’t You Stay'”.
“São quase 30 horas da Tailândia para o Brasil, é um voo longo. E vocês fazem valer a pena. Eu sei que pode demorar para eu voltar para esse palco. Mas quando eu vim para cá há 2 anos, eu soube que eu tinha que fazer uma turnê na América Latina. Eu amo vocês.”
5. Redenção
Chegando ao fim da monta-russa emocional que foi “The Red Giant”, a canção “Ghost” emociona de outro jeito: agora, o fundo de led exibe o alto de uma cúpula com figuras que parecem com arcanjos, e um céu azul com nuvens passando ao fundo. Jeff Satur levou todos do inferno ao céu. O show encerrou em seu momento de redenção – e o coro era realmente celestial.
Ao fim de tudo, o Terra SP pareceu unido na fé pela arte crua, bem pensada e maravilhosamente executada: “Até que a gente se encontre novamente… Essa música se chama Fade”.
A “The Red Giant Tour” no Brasil foi uma experiência religiosa, onde o deus é um artista tailandês de 30 anos, que está apenas no começo de uma carreira universal, sem limites impostos pela geografia, referências ou línguas.
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Uma publicação compartilhada por Érica Imenes (Afro K-Popper) ⚡️ (@ericaimenes)