Filho de Bira, baixista de Jô Soares, homenageia o pai com house music
Músico morreu um mês após homenagem do filho, que é DJ e produtor de house
Ubirajara Penacho dos Reis, o Bira (1934-2019), marcou as noites de gerações que se acostumaram com o formato talk-show apresentado por Jô Soares no SBT e na TV Globo. As entrevistas do apresentador eram pontuadas por um estampido de risada que vinha do baixista do Quinteto (depois Sexteto) do Jô. Além de deixar sua gargalhada na lembrança de um país, Bira deixou quatro filhos. Um deles é David Reis, DJ e produtor de house que lança “Father”, com seu projeto BAIYA e em co-autoria com Darick Gyorgy e participação de Chad Gerber.
Bira sofreu uma parada cardíaca decorrente de um AVC isquêmico e morreu em 2019, deixando vago o cargo de baixista do Jô mas também de ídolo de David. “Meu pai mudou a vida dele toda. Ele era funcionário da Petrobrás nos anos 1960 e decidiu dedicar-se à música”, conta.
Bira nasceu em Salvador, mas mudou-se para São Paulo com a família quando já arriscava-se como cantor. Foi na capital paulista que ele aproveitou uma brecha para tornar-se baixista.
“A gente é músico frustrado”, diz o publicitário David, citando os irmãos Danilo e Daniel (formados em administração de empresas e jornalismo, respectivamente). Mas a coleção interminável de discos de jazz do pai não passou desapercebida e levou os irmãos para o contrabaixo, para o violão e também para a house music.
“Eu queria ter meus equipamentos e lançar meus projetos. Depois de 20 anos, com a minha carreira profissional já consolidada, as coisas começaram a fluir. Depois de um período em Londres para um MBA, aproveitei para conhecer a cena eletrônica lá de fora e as portas foram se abrindo, muito por causa do meu pai”, admite.
Foi em uma dessas portas abertas que ele conheceu o produtor Darick Gyorgy que, sabendo da filiação, sugeriu uma linha de baixo vinda de Bira. “Eu mostrei para ele [para o pai] e ele ficou meio surpreso com a dinâmica de gravação”, diz David contando de um Bira que estava havia três anos aposentado, com saudade da música e ainda acostumado com o processo analógico dos estúdios que frequentava.
Ainda assim, o filho teve medo de soar oportunista. Um mês após finalizar a produção, Bira morreu. “A gente ficou nessa. Segura a música? Solta? Não vai parecer meio oportunista?”, lembra o saudoso filho, que viu a perda ocorrer próximo à pandemia de covid-19. “Eu falei com o Darick que não adiantava soltar naquela época, a gente ia querer tocar para uma pista, se divertir”.
Agora, com a homenagem na rua, David levará o riff de baixo do pai com o BAIYA e justamente à cidade onde o pai e ele nasceram, Salvador. “O nome da música é em homenagem a ele e o nome do projeto também”, finaliza.