Como Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz uniram música e futebol
Os três comunicadores morreram entre a noite de quarta e a manhã de quinta (15)
Os comunicadores Washington Rodrigues, o Apolinho (1936-2024), Antero Greco (1954-2024) e Silvio Luiz (1934-2024), coincidiram em algo mais do que a data de suas mortes: a música. O primeiro viu seu time do coração sofrer com um bordão criado por ele próprio; o segundo, foi notado pela banda Kiss e o terceiro honrou, com sua voz, peladas musicais sofríveis no maior canal de música da TV.
O chocolate (também amargo) de Apolinho
Ícone do rádio esportivo carioca, Apolinho extrapolou as cabines de transmissão. Em 1995, por exemplo, tornou-se técnico do Flamengo, seu time do coração, com a responsabilidade de fazer o time funcionar ao redor do craque Romário. Mas a história inusitada de Washington Rodrigues com a música envolve Nat King Cole e um Maracanã lotado gritando “É chocolate!”.
No Brasileirão de 1981, o Internacional goleava o Vasco por 4 a 0, em pleno Estádio Radialista Mário Filho. Esperto e afinado com o sonoplasta, Apolinho soltou a canção “El Bodeguero” do cantor cubano Ricard Egues e regravada por Cole. Na letra, o cantor diz: “Toma chocolate, paga lo que debes!”. Foi a senha para que “chocolate” virasse sinônimo de goleada.
O plot twist viria com o próprio Vasco e, com requintes de crueldade, em cima do time do coração de Apolinho. Em um domingo de Páscoa, em 2000, o cruzmaltino aplicou 5 a 1 no rubro-negro, com direito a três gols do outrora comandado Romário. A data e a lavada no placar fez com que a torcida vascaína aproveitasse: “É chocolate! É chocolate!”, gritava um Maracanã lotado.
Apolinho morreu, aos 87 anos, vítima de um câncer no fígado.
Queria ser padre e foi notado pela banda Kiss
Antero Greco ficou marcado na memória dos “fãs de esporte” da ESPN como o âncora risonho e sacana do programa SportsCenter. Ao lado de Paulo Soares, o Amigão, Antero garantia doses diárias de humor em um jornalismo esportivo cada vez mais sisudo. Sua maior marca, talvez, fosse a capacidade de ir além do esporte —uma marca presente também em seus contemporâneos José Trajano, Juca Kfouri.
Mesmo assim, quando apareceu de terno mas maquiado tal como um membro do Kiss, Antero surpreendeu também os fãs de esporte e música. Era dia 13 de julho de 2011 e a dupla surgiu assim nos televisores dos assinantes:
Antero tinha um sonho juvenil de se tornar padre, mas parece que a vida reservou outros caminhos para o comunicador também formado em Letras. A aparição roqueira ganhou destaque com a própria banda norte-americana, com direito a nota no site oficial para a brincadeira de Gene ‘Amigão’ Simmons e Paul ‘Antero’ Stanley. Antero morreu, aos 67 anos, em decorrência de um tumor no cérebro descoberto em 2022.
Um locutor que topava tudo —inclusive jogos horríveis entre músicos
Já Silvio Luiz eternizou-se como uma das vozes mais brilhantes do rádio e da TV esportivos. Seus bordões se tornaram referência cruzando entretenimento e transmissão esportiva muito antes de isso se tornar um padrão. Nos anos 1970 e 1980, o locutor era visto como um rebelde. Naturalmente, portanto, a música e rock and roll cruzou seu caminho.
O lendário campeonato entre perebas da música, o Rockgol, da MTV, contou com sua voz. Antes de ser capitaneado por Paulo Bonfá e Marco Bianchi, em 1997, a peleja musical ganhou a voz de Silvio Luiz, no início da mesma década. Descontraído e com ainda mais espaço para piadas, o programa parecia feito para o locutor —que, orgulhoso, postou sua participação no próprio canal de You Tube. Em entrevista ao ex-VJ Thunderbird, o locutor disse ser fã de Rolling Stones, Beatles e que, no trânsito de São Paulo, ouvia muita música clássica.
Anos depois, em 1997, ele seria voz na canção de “Futebol, Mulher e Rock And Roll”, da banda Dr. Sin. Silvio morreu aos 89 anos, em decorrência de uma falência múltipla de órgãos.