O Encontro das Sanfonas mostrou que o forró segue vivo entre gerações ao atrair jovens ao lado dos fãs mais antigos. No recente show realizado em João Pessoa, três mestres da sanfona com décadas de estrada, Flávio José, Waldonys e Dorgival Dantas, subiram ao palco diante de uma plateia lotada e diversa, repleta de famílias. Enquanto jovens casais dançavam abraçados ao som dos clássicos, não era incomum ver pais, filhos e netos cantando cada canção.
O projeto Encontro das Sanfonas, repaginado em 2025, tem a proposta de celebrar a tradição do acordeon nordestino e o objetivo de manter o forró pé de serra pulsante entre os mais jovens. Na capital paraibana, gerações distintas se misturavam na pista, confirmando o forró como elo cultural entre avós, pais e filhos.
Parte desse apelo intergeracional vem do repertório atemporal dos artistas. Flávio José é um ícone do forró tradicional, com cerca de cinco décadas de carreira e um repertório de clássicos que marcaram gerações. Um exemplo vivo é o paraibano Guilherme Thauan Gomes Félix. Natural de Ingá, no interior do estado, ele tem 15 anos e admira muito o sanfoneiro.
“Sou muito fã, ele canta e toca muito. Desde criança, lembro de escutá-lo junto com a minha avó. Sempre gostei dele. Aliás, meu estilo musical é das antigas”, diz à Billboard Brasil o jovem aspirante a jogador de futebol em uma mensagem pela internet. “Meus pais sempre me ensinaram a ouvir músicas que tenham letras, que tenham alegria e paz. Além de forró, gosto muito de moda sertaneja e brega”.
No camarim do Encontro das Sanfonas, Flávio José diz que o caso de Guilherme não é o único. Ele contou que um de seus momentos inesquecíveis da infância foi um show de Luiz Gonzaga em uma praça pública. O forró chega cedo para os nordestinos.
“Eu me vejo neles. As pessoas jovens que me acompanham fazem por questão de memória afetiva. Lembram da família, da casa, da fazenda, do almoço de domingo. Todo meu repertório que foi cantado há 30 anos hoje tem jovens curtindo porque ouviram desde cedo.”
TRÊS MESTRES, UM REPERTÓRIO QUE ATRAVESSA O TEMPO
Dorgival Dantas, o “Poeta”, conquistou o público compondo xotes românticos que viraram hits entre as novas bandas de forró e chogaram à televisãp. Waldonys exibe irreverência e virtuosismo na sanfona, acumulando fãs ao longo de três décadas de estrada. Cada um deles carrega a herança de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, mantendo viva a linhagem do forró. Ao ser questionado sobre a popularidade do gênero entre crianças e jovens adultos, ele fez uma comparação com a sétima arte.
“É como a felicidade de ver e entender um filme antigo. Quando você começa a se envolver e encontrar a beleza daquilo, é realmente mágico”, diz ele, que pondera. “Mas um problema da cultura brasileira hoje é que é muito fácil falar coisas bonitas, mas não atuar para preservá-las”.
Não é por acaso que muitos jovens sabem de cor as canções desses mestres. Em muitas famílias nordestinas, o forró faz parte da rotina festiva: toca nos encontros de fim de semana, nas festas juninas e em celebrações de São João, criando um repertório sentimental passado de geração em geração. Assim, quando esses artistas sobem ao palco, encontram muitos jovens já familiarizados com suas músicas e prontos para cantar e dançar junto com os mais velhos.
Essa transmissão cultural explica por que, mesmo após tantos anos, eles continuam lotando shows com plateias rejuvenescidas. O mesmo acontece entre os artistas: muitos deles são filhos e netos de sanfoneiros, que deixam seu legado para as futuras gerações. Luciano Moreno, filho de Waldonys, foi convidado por Dorgival para subir ao palco no Encontro das Sanfonas e não decepcionou.
TRADIÇÃO VIVA E PÚBLICO RENOVADO
Flávio José sempre reforça que os jovens devem abraçar o forró não só nas festas juninas, mas o ano inteiro, valorizando as raízes culturais. O ritmo musical foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 2021 e agora busca o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Sem dúvidas, um incentivo a mais para que a juventude se orgulhe e siga levando o gênero adiante.

No show de João Pessoa, essa ponte entre gerações ficou evidente e emocionou o público. Quando clássicos eram entoados em uníssono pela multidão, pais e filhos exibiam a mesma alegria. O grand finale reuniu Flávio, Dorgival e Waldonys tocando juntos canções de Gonzagão em momentos apoteóticos. Com aplausos de pé e pedidos de bis, ficou claro que o forró permanece um patrimônio vivo. Graças ao amor repassado de pai para filho e à dedicação de seus mestres, o gênero segue conquistando novas gerações sem deixar suas raízes para trás.








