Você está lendo
Eloy Casagrande, o toque brasileiro no heavy metal do Slipknot

Eloy Casagrande, o toque brasileiro no heavy metal do Slipknot

Avatar de Sérgio Martins
Eloy Casagrande

No dia 8 de dezembro de 2023, o Sepultura reuniu a imprensa para anunciar sua turnê de despedida. Mas as atenções dos jornalistas presentes –com todo respeito à história do quarteto mineiro de thrash metal– estavam voltadas para o baterista Eloy Casagrande e o boato de que iria se bandear para o combo de nu metal norte-americano Slipknot.

A (então) suposta ida de Eloy para a banda era discutida em todas as rodinhas de jornalistas que se formaram antes da entrevista coletiva. E o próprio instrumentista, que se aventurou a percorrer algumas dessas rodas, foi questionado –por esse redator, inclusive– se aceitaria ou não qualquer oferta feita para se unir aos mascarados. Educadamente, ele disse que não sabia de nada. No início de fevereiro, no entanto, ele anunciou seu desligamento do Sepultura. Dois meses depois, seria integrado ao… Slipknot! A primeira pergunta desta entrevista, claro, não poderia ser outra: Eloy Casagrande, você já tinha sido contratado naquele 8 de dezembro?

“Não, não tinha. E não esperava ser chamado, embora houvesse todo esse boato”, diz Eloy. “Além disso, fazia mais de um mês da demissão do Jay Weinberg, baterista anterior do Slipknot. Pensei que não seria mais convidado por eles e foquei no Sepultura”, completa. Os testes foram realizados em janeiro. Foram cinco dias de ensaio, mais cinco dias de composição. “Eles mostrando algumas melodias pré-gravadas e eu tendo que compor em cima da hora. Queriam ver qual era o meu nível de criatividade e para qual caminho eu ia levar aquilo lá, né? Então eles realmente querem alguém que participe ativamente na banda, que não seja só um reprodutor de músicas no palco”, diz o baterista.

VEJA TAMBÉM

Saxon formacao atual

A opção do Slipknot por Eloy Casagrande, apesar de polêmica (explicaremos melhor nos próximos parágrafos), foi acertada. No universo atual do heavy metal, poucos instrumentistas possuem o talento desse paulista de 33 anos, nascido em Santo André, no ABC paulista. Eloy une o melhor dos dois mundos. Possui a técnica de bateristas mais refinados, como Mike Portnoy (do Dream Theater) e de Matt Cameron (atual Pearl Jam), mas soca seu kit com a selvageria de um Iggor Cavalera, seu antecessor no Sepultura, ou de um John Bonham, lendário espancador de peles do Led Zeppelin. Como se ainda não bastasse, tem talento para composição. O guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, declarou em entrevistas que várias canções de “Quadra”, derradeiro álbum do quarteto, foram feitas em parceria com Eloy.

O baterista tinha 7 anos quando apareceu tocando um minikit de bateria no quadro “Se Vira nos 30”, do “Domingão do Faustão” (Globo). Foi o apresentador quem deu novamente a grande chance à carreira de Eloy. Durante sua participação no “Pistolão” , Eloy foi assistido por Roy Z –produtor das lendas do heavy metal Bruce Dickinson e Rob Halford–, que estava no Brasil para trabalhar no disco do cantor Andre Matos. 

“Roy falou que tinha acabado de assistir a um baterista que seria a sensação do futuro”, diz o empresário Paulo Baron, que então respondia pela carreira de Andre. Eloy tinha 16 anos, e sua entrada na banda de Andre exigiu cuidados além do mundo musical, como pedir autorização para a mãe dele liberá-lo para as turnês. “Prometemos que iríamos cuidar bem do menino.” Hugo Mariutti, guitarrista da banda de Andre, reforça as palavras do empresário. “A primeira vez que toquei com o Eloy tive a certeza de que ele seria um dos bateristas mais importantes do estilo. Um músico incrível, completo e uma pessoa muito legal!”

Em 2011, depois da passagem pelo grupo de Andre Mattos, Eloy migrou para a banda de hard rock Gloria. No fim daquele ano, ele entraria para o Sepultura. Eloy tocou nos discos “The Mediator”, de 2013, “Machine Messiah”, de 2017, e “Quadra”, de 2020, que deram uma nova personalidade à banda mineira.

O anúncio de sua saída, menos de um mês antes do início da turnê, pegou mal. Claro que é, como diria Don Corleone, “uma oferta que não se pode recusar”. Mas ficou um mal-estar por causa do pouco tempo que o grupo teve para achar um substituto. Comenta-se, inclusive, que teria havido ameaças físicas ao instrumentista. O boato foi negado por Eloy. “As coisas foram resolvidas de uma forma profissional, então não houve nenhum tipo de ameaça. A gente não sai batendo em todo mundo, é assim que a gente resolve as coisas.” Um detalhe curioso na relação de Eloy com o Sepultura é que, embora fosse um integrante-chave para a nova sonoridade do grupo, ele nunca participou da empresa Sepultura. “Era músico contratado, de emitir nota e não ter nenhum vínculo empregatício. Nunca participei efetivamente do contrato social da empresa Sepultura.” No Slipknot, as coisas são diferentes? “Eu tenho um contrato de confidencialidade.”

A entrada de Eloy no Slipknot foi comemorada como poucas. A começar pela mãe do baterista, dona Lídia, que sapecou um “te amo mais que o infinito” no post do grupo que anunciou a chegada do novo instrumentista. “Minha mãe é fã número 1, não tem jeito. Acompanhou todas as fases e sabe o que a gente passou até chegar neste ponto: ela acompanhou o Eloy, moleque, o adolescente chato e o Eloy adulto”, declarou. Atualmente, o baterista está em turnê com o grupo –o que inclui dois shows no Brasil no fim de outubro– e já trabalha nas composições do próximo álbum do Slipknot. “Eles querem o Eloy baterista de metal e também o Eloy de influência da música brasileira. Me sinto completo”, encerra.

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.