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É preciso muito esforço para não admirar o trabalho do Menos é Mais

É preciso muito esforço para não admirar o trabalho do Menos é Mais

Os números – incluindo o Billboard Brasil Hot 100 – não mentem

Menos é Mais

Por mais uma semana, o grupo Menos é Mais tem a música mais ouvida do Brasil: “P de Pecado”, parceria com Simone Mendes, está no topo do Billboard Brasil Hot 100. Os pagodeiros de Brasília também têm o single “Coração Partido” no top 10 do Billboard Brasil Hot 100 – e chegou a primeira música do gênero a atingir o topo da lista.

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Além desse fato, o grupo também colocou o pagode num lugar jamais visto: o pot-pourri com as regravações de “Melhor eu ir/Ligando os Fatos/Sonho de Amor/Deixa eu te querer” atingiu 1 bilhão de streamings no YouTube.

“Coração Partido”, inclusive, foi a música mais ouvida nas plataformas de streaming em 2025, segundo relatório da Pró-Music – desbancando o reinado do sertanejo após sete anos –, além de ocupar a lista das 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras, segundo pesquisa da Crowley.

Esses números dão uma ideia do que os pagodeiros de Brasília vêm fazendo desde 2019, furando a bolha do eixo RJ-SP e alcançando novos públicos. Mas, mesmo assim, muitos fãs do gênero torcem o nariz para eles.

Além da óbvia resistência em aceitar um grupo jovem vindo do Centro-Oeste, quando os redutos mais tradicionais do samba são no Sudeste e Nordeste, há quem se queixe de duas questões: as constantes regravações feitas pelo grupo de sucessos antigos; e seu estilo de conversar com outros gêneros, principalmente o sertanejo, o que acaba atingindo um público para além do pagode – aquela festa que, entre os anos 1980 e 1990, ganhou forma de gênero musical.

Diferente do que diz mestre Paulinho da Viola — quando versa e sugere: “…mas não altere o samba tanto assim”, o argumento aqui não é tão fácil de aceitar. Explicamos o porquê:

Releituras como estratégia

As regravações dos sucessos do pagode, principalmente aqueles dos anos 1990, é uma tendência que cresceu na última década, mas está muito longe de ter nascido por esses tempos. Aliás, pergunte para qualquer pagodeiro dos tempos atuais como se iniciaram pelos bares e rodas deste país. Nove em cada 10 responderão: cantando sucesso dos outros.

É assim que, muitas vezes, se constrói cancha e uma certa estrutura para lançar canções autorais. E não é uma verdade que o Menos é Mais se baseia apenas em regravações.

Lá no próprio audiovisual “Churrasquinho do Menos é Mais”, o grupo lançou “Vai Me Dando Corda”, canção que se tornou presente nos shows do grupo e conquistou o público. Em 2024, o Menos é Mais lançou o projeto “Virado no Pagode“, apenas com canções autorais. Neste ano, “P de Pecado” chegou ao topo das mais ouvidas.

Não estamos falando de clássicos do gênero, que ultrapassaram gerações. Mas, sim, de sucessos sólidos, que tocam em rodas de pagode pelo Brasil e conectaram uma juventude a um gênero que estava com dificuldades de se aproximar dessa molecada.

Estilo adaptável e diálogo entre gêneros

O segundo argumento, que rechaça o diálogo do pagode do Menos é Mais com outros gêneros, simplesmente nega a história do que se convencionou a chamar de pagode nos anos 1990. Só Pra Contrariar e Art Popular, para dar dois grandes exemplos, cansaram de fazer parcerias com o sertanejo naquele período.

Sorriso Maroto, Turma do Pagode e tantos outros grupos também fizeram feats com artistas do forró e do próprio sertanejo. Pode não parecer, mas o pagode tem essa capacidade de dialogar com os mais variados ritmos.

E, talvez, seja exatamente esse desprendimento em fazer um pagode diferente que coloque o Menos é Mais nessa condição de “grupo popular”. Sem tirar o tantan, o pandeiro e o cavaquinho, o grupo trouxe outros elementos para a cena. Criou tendência e passou a dialogar com uma nova geração, que tem dificuldade de se conectar com o que acontecia há 30 anos.

Impacto cultural e comercial

Isso tudo, obviamente, não deve ser uma muleta para se apagar a história do samba. Inclusive, está longe de ser a proposta do grupo. Para dar um exemplo: Liomar, vocalista do grupo carioca Pique Novo, voz que marcou o clássico “Ligando os Fatos” nos anos 2000, faz questão de ressaltar que o grupo brasiliense foi uma ponte para que novas pessoas conhecessem a obra do Pique Novo por conta da regravação.

Talvez o Menos é Mais não te cative – e tudo bem. O grupo está alinhado às tendências atuais e dialoga especialmente com um público jovem, habituado a consumir diferentes gêneros musicais ao mesmo tempo, com atenção tanto à forma quanto à experiência. E é justamente assim que a roda da música gira: em movimento constante, acompanhando o espírito do tempo.

Mas, até para o mais conservador dos pagodeiros, fica difícil não colocar o orgulho de lado e bater palmas para o que o Menos é Mais é capaz de fazer.

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