Disco e documentário explicam o surgimento do folk brasileiro
Renato Teixeira e a dupla Sá & Guarabyra são dois principais nomes do gênero

Um documentário e um disco estão trazendo à tona um dos movimentos musicais mais curiosos do cenário brasileiro dos anos 1970: o rock rural. Basicamente, era a versão caipira e regional de bandas folk americanas –a principal inspiração era o trio anglo americano Crosby, Stills & Nash.
O trio Sá, Rodrix e Guarabyra foi quem deu o pontapé inicial do gênero, ao lançar o disco “Passado, Presente e Futuro”, de 1972. Um combinado de canções que falavam de estrada e do modo de vida hippie, repletas de misturas sonoras interessantes –escute, por exemplo, “Hoje ainda é Dia de Rock”, um blues rock temperado pelo som da viola. Coube ao cantor Zé Rodrix e seu parceiro, Tavito, a criação do termo “rock rural”. Em “Casa no Campo”, gravada também por Elis Regina, ele diz na letra: “Eu quero uma casa no campo/ Para compor muitos rocks rurais.”
O trio se desfez em 1973 e coube a Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra a missão de levar esse amálgama sonoro à frente. Eles são os porta-vozes do movimento (Zé Rodrix morreu em 2009) e contam a sua história em “Sá & Guarabyra – A História do Rock Rural”, um documentário em seis episódios exibido no canal Music Box. Com direção do especialista Jodele Larcher, ele conta a trajetória da dupla em seis episódios, que vão de suas participações em festivais de MPB, ao encontro com Rodrix e a brilhante carreira trilhada pelos dois. A história é pontuada por depoimentos de gente importante, como a jornalista e radialista Patrícia Palumbo e os músicos Flávio Venturini e Gabriel Sater.
Cada episódio é pontuado por números musicais de Sá & Guarabyra –autores de clássicos como “Sobradinho”, “Dona”, “Espanhola” e “Roque Santeiro”, entre outros– e depoimentos de grupos atuais que foram influenciados pela musicalidade da dupla. Um documento precioso e muito bem cuidado.
O paulistano Renato Teixeira, por sua vez, perambulou por diversos gêneros até se reencontrar com suas raízes. Ele é, por exemplo, autor de “Madrasta”, canção que Roberto Carlos gravou no disco “O Inimitável”, de 1968. Certa feita, ao se deparar com Paulinho da Viola cantando o seu cotidiano, Teixeira teve um estalo: ele tinha de colocar suas influências para fora. Criado em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba, ele recuperou a música caipira local, a que chama de folk.
O disco “Relicário: Renato Teixeira ao vivo no Sesc” traz muito dessa sonoridade folk. A começar por “Romaria”, feita por Renato e que Elis Regina gravou no seu disco de 1977. Foi a partir dessa gravação que o compositor se tornou um sucesso popular, tendo emplacado sucessos como “Amora” (também presente no disco) e “Frete”, tema de “Carga Pesada”, seriado da Rede Globo dos anos 1980. No álbum, o repertório é enriquecido com canções de Tonico & Tinoco (“Canta Moçada”) e causos que ele conta para a plateia. Renato Teixeira ainda é co-protagonista de outro projeto que, embora não traga nada de rock rural, evidencia seu talento como compositor. “Destinos” (Kuarup) é o segundo trabalho em parceria com o cantor e autor cearense Fagner e traz faixas inéditas e uma bonita regravação de “Romaria”, além de participações especiais de talentos emergentes da MPB.