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Dia do Samba: por que o gênero segue imbatível no Brasil?

Dia do Samba: por que o gênero segue imbatível no Brasil?

O grupo Só Pra Contrariar, liderado por Alexandre Pires, foi homenageado no 'Altas Horas'

O samba e o pagode continuam entre os gêneros mais amados do país. E, no Dia Nacional do Samba, celebrado em 2 de dezembro, a data ganha um peso especial: mais do que comemorar um ritmo, o Brasil celebra um ecossistema inteiro – um conjunto de pessoas, espaços, plataformas, marcas e histórias que se conectam o tempo todo, mantendo essa cultura viva, relevante e altamente consumida.

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Thiaguinho (Billboard Brasil)

Mesmo com a ascensão de outros estilos, o samba segue onipresente em diferentes frentes: rádios FM e web rádios, plataformas de streaming, festas populares, carnaval e eventos corporativos, botecos, rodas, quadras e grandes festivais.

Em linguagem de mercado, isso significa alta conexão emocional + alta frequência de consumo. Em linguagem de quem trabalha com música: o samba continua sendo ouro – inclusive para as marcas.

O ano de 2025 ainda não terminou, mas o recorte do ciclo 2023–2025 já mostra um cenário claro: foi, sim, um período forte para o samba e o pagode em vários sentidos.

Pelos rankings anuais de entidades como Pro-Música/IFPI e pelas principais plataformas de streaming, samba e pagode aparecem de forma consistente entre os gêneros mais consumidos no Brasil, puxados por nomes como Thiaguinho, Menos é Mais, Jorge Aragão, Sorriso Maroto, Ferrugem, Péricles, Belo, Alexandre Pires, entre outros.

Relatórios recentes de plataformas como Spotify e Deezer apontam um dado curioso e poderoso: há um crescimento contínuo do consumo de catálogos de “samba/pagode retrô” – especialmente anos 90 e 2000 –, com aumento de buscas por grupos como Raça Negra, Só Pra Contrariar, Negritude Jr., Exaltasamba e afins. Na prática, o que isso mostra é que o pagode de época segue muito vivo nas playlists, nos churrascos e nos projetos de resgate de memória.

Playlists editoriais e de usuários de samba e pagode estão entre as que mais geram retenção – ou seja, o público aperta o play e fica, escuta por mais tempo. Para quem trabalha com mídia, esse é um argumento valioso em qualquer pitch comercial ligado ao gênero.

Em 2025, samba e pagode estão longe de qualquer ideia de “nicho deprimido”. Pelo contrário: tratam-se de nichos estáveis, com catálogo muito forte, sustentado por nostalgia e por uma base de fãs fiel. Para marcas que querem construir conexão emocional e memória afetiva, é um terreno perfeito.

Mesmo sem todos os relatórios anuais fechados, o cenário pós-pandemia consolidou um movimento visível a olho nu: a retomada do samba e do pagode nos palcos.

Turnês de grupos clássicos voltaram com força (“Casa do Salgado”, de Salgadinho – ex-Katinguelê; Soweto com a participação de Belo; “Samba 90 Graus”, com Netinho de Paula – ex-Negritude Jr.; Marcio Art – ex-Art Popular; Chrigor Lisboa – ex-Exaltasamba). Festivais de pagode (como grandes resenhas, projetos tipo “Tardezinha”, de Thiaguinho; “Pagode do Pericão”, de Péricles; “Churrasquinho do Menos é Mais”; “Paggodim”, de Léo Santana; “Ivete Clareou”, de Ivete Sangalo; “Pagonejo Bão”, de Alexandre Pires, entre outros) se espalharam pelo país, e projetos de samba de raiz em casas de médio porte passaram a registrar ingressos esgotados com frequência.

Ao mesmo tempo, cresce o modelo “pagode + experiência”: rooftops, sunsets, botequins temáticos, festas em praias, cruzeiros de samba/pagode.

O gênero deixa de ser apenas música para se afirmar também como produto de experiência. O público não quer só ouvir: quer viver o samba em ambientes instagramáveis, com serviço, cenografia, ativação de marca e narrativa.

Se os números já contam uma parte da história, os prêmios ajudam a completar o quadro. Nos últimos anos, a categoria Samba/Pagode do Grammy Latino vem consagrando nomes de grande apelo popular, como Sorriso Maroto, Grupo Revelação, Xande de Pilares e outros representantes do gênero, jogando luz internacional sobre um repertório que nasceu nas rodas, nas quadras e nos bares brasileiros.

Em 2025, o prêmio para o Sorriso Maroto com o projeto “Sorriso Eu Gosto – Canta Fundo de Quintal” funciona como um símbolo poderoso em várias camadas: consagra o repertório clássico do Fundo de Quintal, um dos pilares do samba contemporâneo; consagra também uma banda de pagode romântico/pop, traduzindo esse repertório para novas gerações.

Além disso, Péricles (nossa capa da Billboard) foi o homenageado do Prêmio Potências, com vários outros momentos icônicos.

Outro dado importante para entender o Dia Nacional do Samba em 2025 é a força do catálogo. Samba e pagode têm um acervo de clássicos que tocam em rádio há décadas, seguem presentes em bares, botecos, churrascos, estádios e quadras de escola de samba, e geram regravações, feats, samples, medleys e mashups constantes.

O catálogo de samba/pagode é vasto e atemporal. Músicas dos anos 90, 2000 e 2010 permanecem extremamente presentes em playlists, shows e rodas. Clássicos de Raça Negra, SPC, Negritude Jr., Exaltasamba, Soweto, Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione, Revelação e tantos outros continuam sendo regravados e aparecem em trilhas de vídeos virais e temas de novela, como, por exemplo, Thiaguinho cantando “Clareou” na abertura da novela “Três Graças”, da Rede Globo; challenges em redes sociais; campanhas publicitárias; shows de grandes artistas pop, que incorporam o repertório em seus medleys.

Na visão da indústria, isso quer dizer: não é só sobre lançamento. É sobre longevidade. Samba e pagode não dependem apenas do hit do momento; são gêneros de “cauda longa” – o catálogo gera impacto, receita e lembrança de marca por décadas.

Nesse contexto, o samba se consolida como um dos grandes ativos de memória afetiva do brasileiro. É um gênero que atravessa gerações e, para as marcas, isso se traduz em oportunidades claras: ativações em festas, rodas, festivais e projetos especiais, usando o samba como cenário de convivência e celebração; projetos de resgate e releitura de catálogo, que unem nostalgia, storytelling e inovação; conexão com causas e narrativas de brasilidade, diversidade, comunidade e ascensão social, muito presentes na história do samba.

No Dia Nacional do Samba, o Brasil celebra uma história centenária que começou em terreiros, quintais e morros, mas hoje se desdobra em rankings de streaming, turnês esgotadas, grandes festivais, conquistas em premiações internacionais e campanhas publicitárias multimilionárias conectando pessoas.

Em 2025, comemorar o 2 de dezembro é reconhecer que o samba continua sendo, ao mesmo tempo, memória e futuro, raiz e business, afeto e estratégia. E que, quando o assunto é contar a história do Brasil em forma de música, ele ainda ocupa o centro do palco.

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Patricia Liberato é radialista, apresentadora, jornalista e mestre de cerimônias. Trabalhou nas rádios transcontinental FM ( SP), Band FM, Rádio Disney e criou a RÁDIO Liberato

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