Clara Mendes, CEO da 30PRAUM, quer achar a ‘Doja Cat brasileira’
Em entrevista, a empresária revela os próximos planos da gigante do trap
Talvez você ache que não, mas se você já ouviu alguma música de Matuê, Teto e/ou WIU, queridinhos do Billboard Brasil Hot 100, já ouviu falar na 30PRAUM. Afinal, a tal “30” é mencionada em tom de devoção nas letras de três dos trappers que mais aparecem nos charts. A gravadora e produtora se tornou uma das maiores responsáveis por desafiar o jogo da indústria, incluindo o trap no mapa dos gêneros mais populares do país nos últimos anos. Mas, antes disso, foi preciso lapidar a visão que tornaria esses versos realidade.
Uma das maiores responsáveis por isso é a alemã Clara Mendes. CEO, cofundadora da 30PRAUM, ela é uma das responsáveis pelo Festival Plantão, especializado em trap e rap, que acontece em Fortaleza, no Ceará. Mas até acumular tantos predicados, Clara percorreu um longo caminho. Literalmente. Nascida em Berlim, na Alemanha, estudou administração e veio ao Brasil para um intercâmbio, em busca de inspiração.
“Vim antes de saber que trabalharia com música, vim para Fortaleza aprender português. Eu me chamo Clara Mendes de Freitas e achava ridículo não saber falar o idioma. O Brasil foi a minha primeira paixão”, diz ela, que é filha de portuguesa com alemão. Chegando aqui, deparou-se com Matheus Brasileiro Aguiar, hoje (muito) conhecido como Matuê. Os dois namoraram, e o cantor chegou a morar com Clara em Berlim, onde dava aulas de inglês para chineses. Em 2015, decidiram voltar ao Brasil para se dedicar à música.
“Sinto que fui abençoada pela ignorância. De onde eu venho, o rap já era uma realidade da indústria. Uma mulher ser dona de uma gravadora como essa também não era algo estranho. Só depois de anos consegui ver o quão louco agente foi por ter começado isso, principalmente no Nordeste”, revela Clara sobre o nascimento da 30PRAUM, em 2016, fundada para gerenciar, inicialmente, apenas a carreira do então companheiro, com quem hoje mantém uma relação profissional e de amizade.
Assim, sem saber que era impossível, Clara foi lá e fez. Mas, óbvio, não sem enfrentar percalços pelo caminho, afinal, o trap estava apenas engatinhando. “A gente nem sonhava em estar nos charts, e os contratantes estranhavam quando a gente queria assinar contrato para fechar shows”, lembra. “Sinto que ainda estamos no início do percurso do trap no Brasil. Estamos conseguindo provar para as marcas que o público pede a presença de artistas do gênero. Recentemente, Matuê fez um trabalho para a Yves Saint Laurent, e ele, Teto e WIU assinaram uma coleção com a Renner. Mesmo assim, ainda é difícil. Há muito preconceito”, lamenta.
Quando questionada sobre o processo de seleção de casting para a gravadora, Clara ri ao admitir que a 30PRAUM só trabalha com os três artistas no momento.“Oficialmente, é o que temos. Mas quem sabe isso não muda em breve?”, brinca. Para isso, o talento vem primeiro, mas, segundo ela,“ter a cabeça no lugar e não se encantar tanto com a fama” é tão importante quanto –afinal, a 30 quer construir carreiras a longo prazo, e não estrelas do trap instantâneas. A meta, agora, é contratar uma trapper: “Meu sonho é encontrar a Doja Cat brasileira”.
A presença de mais mulheres no trap é claramente uma das missões de Clara. “Hoje, não sofro mais tanto com isso, mas no começo era muito difícil ser levada a sério, principalmente por ter sido casada com o Matheus. Era mais fácil dizer que eu era apenas a mulher dele, e não sócia. Foi difícil conquistar esse respeito, mostrar que meu trabalho falava por mim”,desabafa. “Tenho tentado reverter isso contratando mulheres, mandando mulheres para as turnês. Os meninos também pedem por essa diversidade. No entanto, como foi com o rap, estamos só no início.”