Bruce Dickinson faz aniversário; relembre feitos e tretas da voz do Iron Maiden
O estilo do cantor influenciou boa parte dos vocalistas do rock pesado
Em 1981, quando o Iron Maiden (leia-se o baixista e compositor Steve Harris e o empresário Rod Smallwood) decidiu substituir o errático Paul Di’Anno por alguém com mais potência vocal, o eleito foi um jovem intérprete em ascensão no cenário do rock pesado inglês daquele período. Bruce Bruce (sim, era conhecido por esse apelido) cantava no Samson, grupo que compunha um movimento chamado new wave of british heavy metal e os gritos do cantor renderam a ele o apelido de “sirene de ataque aéreo”.
A voz referência do heavy metal
A escolha de Harris e Smallwood não poderia ter sido mais acertada. Rebatizado como Bruce Dickinson, o novo vocalista tinha um estilo mais ao gosto do público americano –o maior mercado do showbiz no mundo– e sua entrada na banda coincidiu com alguns dos discos mais bem-sucedidos do (hoje) sexteto inglês – a saber, “The Number of the Beast”, de 1982, “Piece of Mind”, de 1983, e “Powerslave”, de 1984.
Bruce Dickinson, que completa 67 anos neste dia 7 de agosto, é um artista de canto e temperamento fortes. O approach quase operístico que deu a canções como “Hallowed Be the Name”,”Flight of Icarus” e “Alexander the Great”, por exemplo, foi imitado por diversos intérpretes do chamado melodic metal, subgênero do rock pesado que adicionou elementos de música erudita à pauleira do rock. Por outro lado, as confusões nas quais Bruce se meteu também são tão marcantes quanto as performances no palco.
Mesmo Paul Di’Anno, que foi substituído por Bruce, reconhece o valor ímpar da atual voz da ‘donzela de ferro’: “Eu acho que Bruce é um cantor maravilhoso. E aqui está o que as pessoas não dão crédito. O Bruce Dickinson é um dos cantores mais importantes da música – não apenas no metal, mas na música, porque ele influenciou tantas pessoas em diferentes gêneros que ouviam o Maiden. O metal era a música mais importante do mundo quando o Maiden estava surgindo. Então é uma coisa diferente”, disse Di’Anno à rádio “Linea Rock“.
As tretas épicas de Bruce Dickinson
Embora tenha sido o melhor vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson volta e meia entrava em rota de colisão com Steve Harris, dono da marca e principal compositor da banda. O cantor sempre reclamou que o baixista tolhia suas ideias e certa vez escapou um “eu quero matá-lo” durante uma entrevista realizada no início dos anos 1990.
Dickinson pediu o boné no final de 1993 e a decisão se mostrou infeliz para ambos. Blaze Bayley, o substituto, não tinha carisma e voz suficientes e o Iron Maiden passou de apresentações em estádios para locais beeem menores. Bruce, por seu turno, nunca repetiu o sucesso comercial que obteve no antigo emprego. Mas fez algumas malcriações. Uma delas aconteceu em 1997, quando lançou o disco “Accident at Birth”. A capa trazia um boneco desenhado por Derek Riggs (o mesmo das ilustrações mais celebradas do Iron Maiden), que foi batizado como “Edison” –uma corruptela de “Eddie’s son”, ou seja, o “filho de Eddie”. Para quem não sabe, Eddie é a caveira mascote do Iron Maiden.

Bruce Dickinson e Iron Maiden voltaram às boas no início de 1999. Uma das exigências do cantor para a sua volta foi a reintegração de Adrian Smith, outro ex-Iron, que estava na banda do vocalista. Por isso é que o Iron Maiden tem hoje três guitarristas: Dave Murray, Janick Gers (que também tocou com Bruce em sua carreira solo) e Smith.
Entre talaricagens e carecas
Outra briga famosa do vocalista foi com o Motley Crue, banda de hair metal dos anos 1980. Em especial com o baixista Nikki Sixx. Em sua autobiografia, “Heroin Diaries”, o músico americano confessou ter sido “talarico” com o cantor. A resposta do inglês veio na canção “Tattooed Millionaire”, faixa-título do disco em 1990. “Você e toda a sua comitiva/ Para mim, vocês são todos iguais/ Você e toda a sua comitiva/ Fazendo joguinhos bobos/ Não quero sua cidade grande brilhando/ Não quero seu lado bom/ Não quero ser um milionário tatuado”, diz a letra.
A língua ferina de Bruce causou ainda outras confusões. Ele, por exemplo, entregou que Ritchie Blackmore, lendário guitarrista do Deep Purple e do Rainbow, tinha feito implante capilar. E que Joe Lynn Turner, também cantor do Rainbow, usava peruca –em 2022, Turner confessou sofrer de alopecia desde a infância. Nota do redator: numa entrevista que fiz com Bruce, ao comentar sobre essa revelação maldosa, ele disse: “Ah, vai dizer que você não sabia”…
Bruce Dickinson entrou em rota de colisão com Jello Biafra, ex-vocalista dos Dead Kennedys, por causa de uma entrevista na qual disse que o punk rock era “música lixo” –curiosamente, sua apresentação no festival The Town, será num dia dedicado ao punk rock. Dickinson também foi um dos poucos artistas que se mostraram favoráveis ao “Brexit”, movimento que pediu (e ganhou) a saída do Reino Unido da comunidade européia. Posteriormente, ele se arrependeria da decisão. Foi o que bastou para o guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths, ironizar o mea culpa de Bruce. “Um músico apoia o Brexit, mas descobre que o Brexit prejudica os músicos e reclama. Parabéns, cara”, escreveu Marr no X.
Polêmicas à parte, o aniversariante é um dos maiores nomes do rock pesado. Embora a sua carreira solo tenha sido decepcionante em termos de venda, Bruce foi ousado ao experimentar diversas vertentes do rock –inclusive o grunge, presente no disco “Skunkworks”, de 1996. “The Mandrake Project”, lançado no início de 2024, é um disco de muitas variações estilísticas e um de seus melhores trabalhos.
Feliz aniversário, Bruce!








