Beatles, Beach Boys, Nine Inch Nails: os laços de Charles Manson com a música
Antes de ser preso por conspiração e assassinato, o criminoso queria ser cantor


Líder do culto sádico Família Manson, Charles Manson morreu em 2017 aos 83 anos. Condenado à prisão perpétua por conspiração e assassinato de sete pessoas em 1971, ele tinha o sonho de ser um músico profissional. Ele e sua “família” conheceram alguns dos artistas mais significativos da década de 1960.
Manson conheceu o produtor de discos e gerente de turnês Phil Kaufman enquanto ambos cumpriam pena na Prisão do Condado de Los Angeles, nos Estados Unidos. O empresário se mudou com a Família Manson em 1968 e incentivou o líder a gravar algumas de suas músicas, o que resultou no álbum de estreia “Lie: The Love and Terror Cult”.
Lançado em 6 de março de 1970, enquanto o criminoso estava preso sob acusações relacionadas aos assassinatos, o disco fracassou miseravelmente. O álbum vendeu apenas 300 das duas mil cópias que Kaufman prensou com o próprio dinheiro, depois de não conseguir o apoio de grandes gravadoras.
Manson interpretou erroneamente várias músicas do “White Album”, dos Beatles, lançado em novembro de 1968, como um prenúncio de uma guerra racial apocalíptica.

Manson coescreveu uma música dos Beach Boys
No verão de 1968, o baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson, pegou carona com duas mulheres que pertenciam à Família Manson. Segundo Dianne Lake, integrante do culto, o músico deixou as mulheres em casa e entrou para conhecer Manson. Os dois se tornaram amigos, compartilhando afinidades por música e maconha.
A Família se mudou rapidamente para a casa de Wilson, que fornecia tudo o que precisavam, inclusive pagando a despesa médica quando a gonorreia se espalhou pela casa.
Manson e a Família desfrutaram de sua nova vida luxuosa, enquanto Wilson, envolvido em um divórcio tumultuado de sua primeira mulher, Carol Freedman, aproveitou a oportunidade de viver livremente.
O baterista convidou o líder para gravar algumas de suas músicas em seu estúdio. Só que Manson não gostou nada da interferência dos produtores da banda na faixa e sacou uma faca durante as sessões.
A Família se mudou pouco depois. A estadia custou mais de US$ 100 mil em despesas médicas, propriedade danificada e itens pessoais roubados. Mas o baterista teve a redenção no final.
Em setembro de 1968, os Beach Boys recriaram a música de Manson “Cease to Exist” alterando a letra e renomeando-a para “Never Learn Not to Love”. A música apareceu em seu álbum “20/20” no ano seguinte, com Wilson creditado como o único compositor.
Vários artistas regravaram as músicas de Manson ao longo dos anos, desde a versão sombria de “Your Home Is Where You’re Happy”, dos Lemonheads em seu segundo álbum, “Creator”, até a animada “Look at Your Game Girl”, dos Guns N’ Roses, uma faixa bônus escondida no final de seu álbum de covers, “The Spaghetti Incident?”.
Uma das referências mais famosas é Marilyn Manson, que criou seu nome artístico ao justapor o nome do criminoso com o da atriz Marilyn Monroe. O cantor regravou “Sick City” do assassino em 2000.
Cena de assassinato de Manson serviu como estúdio
Compositor premiado de trilhas sonoras e líder dos Nine Inch Nails, Trent Reznor alugou a casa da Cielo Drive onde Sharon Tate foi assassinada, enquanto estava grávida do cineasta Roman Polanski, pela Família Manson. Em 1992, a banda usou o local como estúdio para o EP “Broken” e a gravação do segundo álbum, o elogiado “The Downward Spiral”.
Demonstrando seu senso de humor macabro, Reznor rebatizou o estúdio de “Pig”, uma referência à escrita deixada pela Família Manson nas paredes com o sangue de Tate.
Ele também filmou o clipe de “Gave Up”, que contou com a participação de seu pupilo, Marilyn Manson (que gravou seu álbum de estreia, “Portrait of an American Family”, no mesmo local em 1993).
Reznor não compreendeu a gravidade de suas ações até encontrar a irmã de Tate, Patricia, durante a gravação. Ele se arrependeu e não quer mais ser visto como alguém ligado ao criminoso. A casa foi demolida em 1994.