Arlindo Cruz: sambista tinha mais de 800 músicas registradas; entenda
Cantor morreu aos 66 anos e deixou um grande legado na música
Morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, Arlindo Cruz, um dos maiores sambistas de todos os tempos. Apelidado de “sambista perfeito”, além de um grande instrumentista, Arlindo era conhecido por ser um grande compositor.
Segundo dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), Arlindo tem 847 músicas cadastradas em seu nome.
Na sua obra, boa parte das canções está ligada ao grupo Fundo de Quintal, onde o músico deu início à sua trajetória. Na sequência, Arlindo embarcou em dupla com seu parceiro de Fundo de Quintal, Sombrinha, antes de seguir solo a partir dos anos 2000.
Arlindo está presente no repertório de grandes nomes do samba, como Beth Carvalho, Alcione, Reinaldo e (muitos) outros.
Entre seus principais parceiros de composição, além do próprio Sombrinha, estão Zeca Pagodinho e Almir Guineto.
Além de sambas clássicos, Arlindo também compôs para artistas de outros gêneros e até mesmo jingles de TV, como o “Samba da Globalização”, que virou música tema da emissora.
Arlindo Cruz e o Carnaval
Em 2023, foi o homenageado no desfile do Império Serrano, escola do coração, com “Lugares de Arlindo”. Saiu como destaque no último carro junto com parentes e a esposa, Babi Cruz, que foi porta-bandeira da verde e branco.
O desfile marcou o retorno da escola ao Grupo Especial, porém a agremiação passou pelo rebaixamento no mesmo ano. Ele também foi homenageado, em 2019, pela X-9 Paulistana com o tema: “O Show Tem Que Continuar! Meu Lugar é Cercado de Luta e Suor, Esperança Num Mundo Melhor”.
Foi, por três vezes, agraciado com o Estandarte de Ouro — todos pela Império Serrano: em 2001 pelo samba-enredo “Navegar é Preciso”; em 2006 com “O Império do Divino”; em 2012 com “Dona Ivone Lara , Enredo do Meu Samba”. Ao todo, Arlindo emplacou 12 sambas na escola do coração —restaria fôlego, ainda, para sambas na Vila Isabel (3), Grande Rio (2), Leão de Nova Iguaçu (2).
Arlindo Cruz: como a TV ajudou sua imagem
Após o sucesso da dupla Arlindo Cruz & Sombrinha nos anos 1990, Arlindo — como o samba em geral — parecia sofrer os agouros de um mercado em decadência. E, de alguma forma, sofreu. Sua discografia ficara mais espaçada, por exemplo. Entre 2000 e 2017, lançou apenas três álbuns de inéditas (“Sambista Perfeito”, de 2008, “Batuques e Romances”, de 2011, e “Herança Popular”, de 2016). No entanto, suas composições ainda encontravam lugar nas rádios e nas rodas de samba. Foi nesta década que compôs grandes sucessos como o hino suburbano carioca “Meu Lugar” e “O Bem”.
Desta época, destacam-se os álbuns ao vivo “Pagode do Arlindo”, “MTV Ao Vivo”, “Batuques do Meu Lugar”, além de “2 Arlindos”, gravado com o filho Arlindinho.
Nesse período, Arlindo era (pouco) visto na TV, apenas em programas de entrevista durante períodos de divulgações dos trabalhos musicais. Foi uma característica natural sua que o aproximou de um global e, assim, tudo fez mais sentido na relação dele com a telinha – principalmente com a TV Globo.
Arlindo se consolidou como uma figura televisa, coroada com a cadeira cativa que tinha no programa “Esquenta!” — do qual também foi responsável pela trilha de abertura.
Graças a TV e com ainda mais visibilidade, atingiu novos públicos. Em 2007, viu Maria Rita popularizar seus sambas em rádios voltadas para a MPB. A cantora transformou a inédita “Tá Perdotrado” em sucesso, além de regravar hits como “O Que É O Amor”. Da turma mais jovem, foi também regravado por Diogo Nogueira, Fabiana Cozza, Zélia Duncan, Seu Jorge, Paula Lima, Marcelo D2, Xande de Pilares, entre outros.