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Apaixonado por bossa nova no acordeon, João Gilberto sugeriu disco a Caçulinha

Apaixonado por bossa nova no acordeon, João Gilberto sugeriu disco a Caçulinha

Músico faleceu nesta segunda (5) após infarto e mais de 30 discos gravados

Caçulinha (1940-2024) e João Gilberto (1931-2019): unidos pela bossa nova e pelo acordeon

“Pode pagar e mandar embora”, contava Caçulinha (1940-2024) imitando João Gilberto e o comportamento do nome mór da bossa nova quando sentia que algum músico não estava pronto para se apresentar em um de seus shows —ou ser compreendido por seu ouvido absoluto. No entanto, Caçulinha foi aprovado pelo baiano, ficando no primeiro, no segundo e estendendo sua participação até o quinto show que o bossa novista exigente fazia em São Paulo, no final dos anos 1960.

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Conhecido por liderar os momentos musicais do “Domingão do Faustão”, da TV Globo, Caçulinha morreu nesta segunda (5), deixando 31 discos que passearam pela história da música brasileira: samba canção, rancho e bossa nova nos anos 1960; Beatles e Benito di Paula nos anos 1970 e sertanejo e forró nos anos 1980.

Mas foi uma pergunta de João Gilberto que fez o músico, em 2006, voltar a gravar a síncope da bossa nova. “Ele (João Gilberto) me perguntou: por que não fazer um CD de bossa com acordeon?”, contou, à época, ao jornal A Tarde. O resultado foi “Caçulinha Na Bossa Nova” com participações graúdas de nomes como Marcos Valle, Roberto Menescal, João Donato e Rildo Hora.

Contracapa do álbum “Samb’Ação”, de 1965, em que Caçulinha já adentrava a bossa nova (Reprodução/Discogs)

‘Você sabe alguma coisa que eu toco? E as harmonias?’

A série de cinco shows que iniciou a amizade entre um músico que era fã da bossa nova e o criador do gênero começou naquela série de cinco shows em São Paulo. “Ele amava o jeito como eu tocava samba no instrumento”, relembra Caçulinha, repetindo as perguntas que João fez antes do primeiro show em que se conheceram. “Você sabe alguma coisa que eu toco? E as harmonias?”. “Sim, sei, todas”, respondeu Caçulinha que tocaria escondido, quase na coxia, separado do palco por um tapume que impedia o público de entender de onde vinha o som que fazia cama para João.

Quando o baiano de Juazeiro anunciou “Corcovado” e Caçulinha introduziu a harmonia, João não se aguentou e pisou na tábua que garantia o anonimato do sanfoneiro. “Eu tomei um susto danado”, contou Caçulinha, ressaltando as reverências que João fez questão de entoar. “Ele me apresentava para a platéia, o jeito dele… Era uma coisa”.

Caçulinha, nos anos 1970, de visual e repertório atualizado: gravações de Benito di Paula a Lupicínio Rodrigues (Reprodução/Discogs)

Em 2017, ao UOL, Caçulinha revelou que tinha planos de incursionar no bolero.”Anos atrás lancei o ‘Caçulinha na Bossa Nova’. Foi bom, ainda estava na Globo. Tenho vontade de continuar lançando. Qualquer hora vou fazer. Quero fazer um disco de bolero. Acho que tem tudo a ver fazer um [disco] agora com grandes sucessos de bolero. Tipo Luis Miguel. Bem orquestrado, bem feito. Com piano, acordeon. Fazer um negócio diferente”.

Não aconteceu, mas ele teve tempo de gravar “No Arraiá”, disco em que se dedicou às canções tradicionais dos festejos juninos.

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