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‘Alô, galera de cowboy”: Dallas Country volta aos palcos após 18 anos

‘Alô, galera de cowboy”: Dallas Country volta aos palcos após 18 anos

Conheça a trajetória da banda que marcou época no Brasil

Dallas Country (Reprodução YouTube)

Já dizia o velho berranteiro: “em terra de boi bravo, quem teme o tombo não monta”. Foi assim, nos rincões mais esquecidos do Brasil, que o rodeio se fez altar — onde um peão e um touro duelavam por oito segundos e uma eternidade de esperança.

No intervalo da poeira, a voz do locutor virava oração, salpicada de provérbios de arena: “Aqui não se corre da briga. Corre-se atrás do sonho.”

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Em 1998, em um desses intervalos surgiu um som que parecia já nascer clássico. Com batida contagiante e refrão de arquibancada, a Dallas Country colocou sua marca definitiva nas arenas do país:

Alô, galera de cowboy / Alô, galera de peão / Quem gosta de rodeio bate forte com a mão.

Não foi apenas uma música. “Clima de Rodeio”, da banda capixaba Dallas Country, virou reza de arquibancada, trilha de asfalto de caminhoneiro e bordão sagrado nas narrações das rádios sertanejas.

Entrou onde moram as coisas que ficam: não passa, não envelhece — apenas permanece. Queira você ou não, goste ou não — ela ficou.

Das arenas ao BBB: o auge da primeira fase

Fundada em Colatina (ES), a banda surgiu como Dallas Company, misturando o country norte-americano dos anos 1990 com o sertanejo tradicional. “A gente ouvia Alan Jackson, Alabama, Garth Brooks. E até os riffs de guitarra nos discos do Leonardo pareciam coisa de Nashville”, lembra Marcelo Kju, guitarrista, compositor e fundador.

O grupo ganhou projeção nacional com o álbum Clima de Rodeio (2002). A faixa-título, composta por Kju, chegou à trilha do Big Brother Brasil,  foi regravada por Rionegro & Solimões e se tornou hino em Barretos. Tocou também no 1º Rodeio de Portugal e em turnês nos Estados Unidos.

Em 2003, a banda lançou um disco ao vivo e vendeu 150 mil cópias. A projeção nacional ganhou um empurrão inesperado: Clima de Rodeio foi inserida na trilha sonora do Big Brother Brasil  após um produtor da Globo ouvir a faixa em uma rádio do Espírito Santo.

A música acabou sendo associada ao personagem Rodrigo Cowboy e passou a tocar em momentos do programa. “Ver a guitarra e o refrão da nossa música soando na TV, em horário nobre, foi uma das experiências mais surreais da nossa carreira”, relembra Kju. Três anos depois, o álbum Galera do Chapéu consolidou de vez sua presença nas arenas.

O tempo do silêncio: 18 anos longe dos palcos

Mas o sucesso veio com um preço. “A gente estourou a música na época mais difícil da pirataria em São Paulo”, lembra Kju. “O maior arrependimento foi não ter conseguido lançar uma segunda música forte. Nosso empresário achava que não precisava de ninguém mais na gestão. A música abriu portas, mas faltou estratégia.”

O Dallas Country ficou 18 anos fora dos palcos. Alguns seguiram tocando em casamentos e eventos. Outros deram tempo ao tempo. “A gente não queria colocar qualquer pessoa no lugar da vocalista anterior. Tinha que ser alguém com alma”, diz Marcelo.

Uma nova voz, o mesmo coração

Em 2025, a Dallas Country retorna com nova formação. Reúne três membros fundadores e duas novas adições, marcando o encontro entre gerações:

  • Marcelo Kju – Fundador, guitarrista e compositor. Autor de “Clima de Rodeio”, continua à frente da direção musical.
  • Murilo Fonseca – Violinista e cofundador. Reconhecido em festivais, agora divide o palco com o filho.
  • Adailton Giles (Dadah Giles) – Tecladista e vocalista, presente desde o início. Parte do núcleo criativo da banda.
  • Marcelo Fonseca Jr. – Filho de Murilo, multi-instrumentista e arranjador com passagem por grandes nomes da música brasileira.
  • Jenifer Ott – Cantora e musicista capixaba de 28 anos. Assumiu os vocais em 2025, marcando a nova fase da banda.

O estalo veio num show dos Titãs, em 2020. “A gente percebeu que os filhos da gente não tinham vivido aquilo que a gente viveu. Precisávamos voltar.”

“Recebi a ligação do kju dizendo que eu seria a nova vocalista. Aceitei na hora”, conta Jenifer. “Cavalo arreado não passa duas vezes.”

A escolha de uma nova voz feminina manteve a assinatura da banda. “Já teve gente perguntando por que não colocar um vocal masculino, mas a nossa alma sempre foi essa”, explica Kju. “A Jenifer trouxe frescor, potência e simplicidade. Chegou grandona no ensaio.”

Do estúdio para a Matrix (e da Matrix para o Brasil)

O retorno oficial veio com show gravado ao vivo no Matrix Music Hall, em Cariacica (ES), e transmissão nacional no Domingão com Huck. O repertório misturou clássicos como “Festa de Peão”, “Galera do Chapéu”, “Saudade”, além da inédita “Só Fé” e uma versão de “Man! I Feel Like a Woman”, de Shania Twain. “Tudo foi tocado ao vivo, de verdade. Sem correção de afinação. Do jeito que tem que ser”, afirma Marcelo.

Participações especiais como a da dupla Breno & Bernardo deram o tom da nova fase. E com a turnê Alô Galera de Cowboy já em andamento, a banda volta à estrada com maturidade e parceria. “Hoje um cuida do outro. Se um não pode ir, o outro representa. É uma banda com alma de família”, diz Kju.

O que vem pela frente

Entre os sonhos declarados estão um feat com Ferrugem, outro com Maiara & Maraisa e — por que não? Um show em Dallas, Texas. “A gente quer misturar, trazer gente de fora do nosso universo. O country sempre foi fusão”, diz Kju.

Marcelo completa: “Quero um show com LED, estrutura gigante, bailarinos. Tipo Fernando & Sorocaba.”

E assim, depois de 18 anos de pausa, a Dallas Country retorna com os dois pés fincados no chão batido das arenas. Com música nova, passado respeitado e futuro sem freio.

Foram 18 anos longe dos palcos — mas o eco nunca cessou. Hoje, a Dallas Country retorna sem nostalgia vazia, mas com trabalho, público e estrada. Se antes você batia palma sozinho ouvindo “Clima de Rodeio” no rádio ou na lembrança, agora pode aplaudir de pé, com a banda no palco — ao vivo e de volta ao seu lugar.

 

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