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Dueto de Alcione e Fresno marca retomada do Turá Porto Alegre

Dueto de Alcione e Fresno marca retomada do Turá Porto Alegre

Um ano após adiamento por enchentes, festival retorna à capital gaúcha

Alcione e Lucas Silveira, da Fresno, no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)

Em um dia de calor e com participação tímida de uma chuva inesperada, o Festival Turá acertou suas contas com o passado e realizou edição em Porto Alegre que estava prometida para 2024. Isso porque, depois de uma estreia bem-sucedida em 2023 na capital gaúcha, o evento precisou ser adiado em decorrência das enchentes que vitimaram o Rio Grande do Sul no último ano. O local escolhido pela produção, o Anfiteatro Pôr do Sol, fica ao lado do Lago Guaíba, uma das regiões mais prejudicadas pela tragédia.

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Não deixa de ser curioso o fato de que um festival com esse peso simbólico tenha sido, de certa forma, sobre origens. No sábado (25), o primeiro de dois dias de rolê, se apresentaram atrações das mais diferentes sonoridades, mas com uma linha mestra em comum: o orgulho ao lugar de onde vieram.

Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Valorizando o talento regional, a maioria das atrações era do próprio RS: Ultramen, Fresno e Armandinho — sem falar nas apresentações de DJs que faziam a transição entre os shows. E mesmo jogando em casa, não significava que a responsabilidade era menor, ou que o desafio era mais tranquilo. Com exclusividade à Billboard Brasil, Armandinho confessou que se apresentar em Porto Alegre era mais difícil do que em qualquer outro lugar do mundo. A responsabilidade era grande.

Já o trio mais queridinho de São Gonçalo/RJ, Os Garotin, mostrando uma sintonia enorme com o público gaúcho, referenciava constantemente o orgulho por sua terra. Nascida no Maranhão, mas residente do Rio de Janeiro há muitos anos, a rainha Alcione fazia o mesmo, no caso, mostrando sua devoção e senso de pertencimento à escola de samba da Mangueira, pois é uma carioca de coração.

E encerrando o primeiro dia de Turá, o BaianaSystem trouxe todo seu caldo sonoro e conceitual de Salvador, em um show explosivo e carregado de referências não apenas do solo baiano, mas também, em um recorte mais amplo, de toda a América Latina.

Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Os shows 

A abertura do primeiro dia ficou por conta da Ultramen, que possui forte conexão com Porto Alegre e deixa isso bastante claro em suas canções. Em 2025, a banda lançou duas novas músicas, incluindo um compacto em vinil, e em 2026 completa 30 anos de carreira.

À Billboard Brasil, revelaram que o seu disco de maior sucesso, “Olelê”, terá uma edição em vinil em comemoração dos 25 anos de seu lançamento. Ou seja: 25 anos de músicas como “Dívida”, “Preserve” e “Esse é o Meu Compromisso”, sucessos que integraram o repertório do show.

Ultramen no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Ultramen no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Com sua sonoridade neo soul brasileira, Os Garotin embalaram o público, que estava bastante crescente, animado e cantando junto os hits da banda, que apesar de recente, já carrega alguns feitos bastantes significativos, como Grammy Latino pelo álbum “Os Garotin de São Gonçalo”, de 2024. Léo Guima, Anchietx e Cupertino trouxeram carisma e suingue, no corpo e no som.

Um dos comentários que surgiram do público foi uma comparação com o grupo Fat Family, que há 27 anos tomou conta de todas as paradas de sucesso com o hit “Jeito Sexy”.

A performance teve dois grandes picos: quando rolou “Zero a Cem” e o coro do público ficou ainda mais alto, e quando começou “Nossa Resenha”, música que foi gravada em parceria com ninguém mais, ninguém menos que Caetano Veloso, e que virou hit nacional após entrar na trilha sonora do remake da novela “Vale Tudo”.

Os Garotin no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Os Garotin no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Às 16h35, quem subiu ao palco foi Armandinho, que era aguardado ansiosamente por boa parte do público. Acompanhado de Luciano Granja, Pedro Porto, Vini Bondan, Lúcio Dorfman e Renato Batista, o poeta apresentou um show nostálgico para os porto-alegrenses, com sucessos como “Rosa Norte”, “Ursinho de Dormir”, “Analua” e “Outra Noite que se Vai” — parceria com Charles Master, da TNT.

O ídolo local criticou o dióxido de carbono e citou catástrofes e eventos climáticos que assolaram — e ainda assolam — o Brasil, como as enchentes e as secas.

Armandinho no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Armandinho no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Na sequência, ficamos com o rock motivacional, sensível e emocionado dos também porto-alegrenses da Fresno, que se apresentaram enquanto ainda chovia e entregaram um repertório com sucessos mais recentes, como “Me and You”, do álbum “Eu Nunca Fui Embora” (2024) — mas também com canções dos primeiros discos, como os sucessos “Onde Está”, “Quebre as Correntes” e “Redenção”.

O vocalista Lucas Silveira falou emocionado sobre essas composições terem sido feitas em bairros da cidade de Porto Alegre, num momento em que a banda estava em ascensão e ocupando cada vez mais espaços pelo Brasil inteiro.

Lucas Silveira, da Fresno, no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Lucas Silveira, da Fresno, no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Por volta da metade da apresentação, a chuva parou e deu espaço a um pôr do sol flamejante e um arco-íris cinematográfico, no exato momento em que a banda tocava “Infinito”. Lucas fez tudo ficar ainda mais bonito adaptando a letra da música: “Mas se eu pintar um arco-íris infinito / E caminhar / Do jeito que eu acredito / Eu vou chegar em um lugar só meu”.

Importante destacar a presença de palco da incrível baixista Ana Karina Sebastião, referência dentro do cenário nacional. Querida pelo público local desde que começou a engatinhar, a Fresno ainda prestou uma homenagem a um dos maiores expoentes do rock gaúcho, a banda Cascavelletes, quando tocou “Sob um Céu de Blues” assim que a noite caiu, acendendo ainda mais a chama da nostalgia.

Ana Karina Sebastião, da Fresno, no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Ana Karina Sebastião, da Fresno, no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Que rufem os tambores pois o momento é da majestade: a única, a Marrom, a nossa Alcione, que criou forte expectativa antes de entrar no palco e já chegou com “Retalhos de Cetim”, emocionando a todos com sua voz, sua beleza e com suas vestes inconfundíveis: um kaftan brilhoso, traje já icônico e característico da sambista, que não apenas pelas roupas foi um dos acontecimentos mais brilhantes da noite de sábado. Acompanhada de mais 12 músicos, tomou conta do palco do Turá e demonstrou imenso apreço pelo público gaúcho.

“Antes de eu vir pela primeira vez, minha mãe me falou que não gostavam de pretos no Rio Grande do Sul. A verdade é que nunca mais largaram essa pretinha”, disse, em diálogo com o público.

Com elegância e uma voz poderosa, o tempo do show de Alcione foi preenchido por clássicos em um repertório impecável. Resgatou sucessos como “Estranha Loucura”, “A Loba”, “Meu Ébano” e “Você Me Vira a Cabeça”, entregou versões de “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, e “As Rosas Não Choram”, de Cartola.

E as emoções não foram poucas: em estilo piano e voz, Alcione convidou sua sobrinha Sylvia Nazareth, que também é sua backing vocal, para uma interpretação belíssima de “Separação”.

Logo em seguida, surpreendendo geral, Lucas Silveira, da Fresno, com muito carinho e carisma faz um dueto com Alcione para interpretar o grande sucesso “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó. Uma síntese perfeita do encontro de gêneros e gerações que um festival como este pode proporcionar.

Após um bloco de sucessos arrebatadores, Marrom se despede do público com o clássico imbatível “Não Deixe o Samba Morrer”. O que ninguém esperava é que ela fosse voltar para o palco cantando um dos maiores sucessos da música tradicional do Rio Grande do Sul: “Canto Alegretense”, de Neto Fagundes, que foi performada enquanto uma bandeira do Rio Grande do Sul estampava os telões do festival. A icônica artista se despediu agradecendo ao público pelo carinho de sempre.

Alcione no Turá Porto Alegre (foto - @rollingwithjohnny)
Alcione no Turá Porto Alegre (foto – @rollingwithjohnny)

Para fechar o primeiro dia com chave de ouro e máscaras nos rostos, o afro-rock do BaianaSystem tomou conta do palco na última hora da programação de sábado, trazendo o show mais pesado, enérgico, dançante e político da ocasião. Uma performance multimídia, em que os visuais complementam as músicas, que complementam as danças hipnóticas de Elivan Conceição.

Quem já foi num show do Baiana sabe a força que essa performance carrega, seja pelas críticas ao sistema, seja pela forte presença da sonoridade afro. “Vamos abrir a roda”, pediu o vocalista Russo Passapusso algumas vezes, abrindo espaço para que o público se libertasse, se encontrasse e se entregasse completamente ao momento, em rodas punk verdadeiramente catárticas.

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