‘Nothing Compares’: cinebiografia de Sinéad O’Connor está a caminho
Informação foi revelada pela Variety
Cinebiografia de Sinéad O’Connor está em desenvolvimento, reunindo alguns dos nomes mais prestigiados da indústria cinematográfica —é o que informa apuração da Variety. O longa vai retratar os primeiros anos e a ascensão da icônica cantora irlandesa, que morreu em 2023 aos 56 anos. A produção é assinada pela irlandesa ie: entertainment, produtora responsável pelo elogiado documentário “Nothing Compares”, este que já investigou e revelou momentos em que tornou-se revelação musical do pop, dona de um dos hits mais memoráveis dos anos 1990 e também alvo de uma polêmica com o papa.
O projeto, que já estava sendo gestado desde o lançamento do documentário em 2022, contará com a produção de Fodhla Cronin O’Reilly, Neil Chordia e os vencedores do Oscar Iain Canning e Emile Sherman (“O Discurso do Rei”, “Lion”), além de ter apoio da BBC Film no desenvolvimento. A trama deve explorar como uma jovem de Dublin conquistou o mundo com sua voz e se tornou sinônimo de coragem ao denunciar abusos cometidos pela Igreja Católica e pelo Estado irlandês, sem abrir mão de seu papel como ativista.
Sinéad O’Connor entrou para a história com o álbum “I Do Not Want What I Haven’t Got” (1990), que passou seis semanas no topo da Billboard 200 e trouxe o hit “Nothing Compares 2 U”, um dos maiores sucessos do ano e vencedor de prêmios como Brit Awards e MTV Video of the Year — este último, sendo ela a primeira mulher a conquistar. Sua carreira foi marcada tanto por conquistas artísticas quanto por gestos que desafiaram o status quo, como a icônica (e polêmica) performance no “Saturday Night Live” em 1992, quando rasgou uma foto do Papa João Paulo II em protesto contra casos de abuso na Igreja.
Mas, afinal, o que tanto fez Sinéad O’Connor à Igreja Católica?
Em 3 de outubro de 1992, a cantora fez uma das performances mais polêmicas da história do programa norte-americano Saturday Night Live. Convidada musical da noite, ela apresentou uma versão a capella da canção “War”, de Bob Marley, alterando parte da letra para denunciar casos de abuso sexual dentro da Igreja Católica. No final, em vez de seguir o roteiro previsto, ergueu uma foto do Papa João Paulo II diante das câmeras e, olhando fixamente para a lente, rasgou a imagem em pedaços, dizendo: “Lutem contra o verdadeiro inimigo”.
O gesto gerou uma reação imediata e massiva: enquanto alguns aplaudiram sua coragem, grande parte do público e da mídia condenou o ato, interpretando-o como um ataque pessoal ao Papa e não como um protesto contra o encobrimento de abusos. A repercussão foi tão intensa que, no programa seguinte do SNL, o apresentador Joe Pesci segurou a foto do Papa intacta diante da plateia e afirmou que “teria dado um tapa” nela se estivesse presente. Shows da cantora foram boicotados, suas músicas banidas de algumas rádios e ela recebeu vaias em eventos públicos — incluindo uma memorável aparição no Madison Square Garden, durante um tributo a Bob Dylan, poucos dias depois.
Anos mais tarde, com a revelação e confirmação de múltiplos casos de abuso sexual cometidos por clérigos e encobertos pela Igreja Católica, muitos passaram a reconsiderar o gesto de O’Connor como uma denúncia profética. A própria artista afirmou que sua intenção não era “chocar por chocar”, mas sim chamar atenção para um problema que sabia ser real e sistemático, especialmente em seu país, a Irlanda, onde casos vinham sendo abafados há décadas. Hoje, o episódio é lembrado como um marco de protesto político e artístico na música pop.