Entenda por que o Boiler Room virou alvo de boicotes pró-Palestina
Plataforma é uma das maiores referências audiovisuais do techno
A edição do Boiler Room em São Paulo estava prevista para acontecer com nomes como Alírio, D. Silvestre, Thiago Martins e Delcu, mas foi oficialmente cancelada nesta sexta-feira (1). Embora não mencionado no comunicado da marca, o motivo está relacionado a um movimento crescente de boicote dentro da cena eletrônica global, que critica os vínculos da empresa com interesses sionistas e investimentos em territórios palestinos ocupados.
Desde o fim de 2024, artistas, coletivos e ativistas têm se posicionado contra a presença da gigante do investimento Kohlberg Kravis Roberts & Co (KKR) no setor cultural. A empresa americana adquiriu, por €1,3 bilhão, a Superstruct Entertainment, conglomerado que controla mais de 80 festivais ao redor do mundo — incluindo o próprio Boiler Room, além de eventos como Sónar, Awakenings, Flow e Brunch Electronik.
O cerne da polêmica está no fato de a KKR ser uma das principais acionistas da empresa de mídia alemã Axel Springer, responsável por veicular anúncios de empreendimentos imobiliários em assentamentos ilegais na Cisjordânia, por meio do site israelense Yad2. Isso levou mais de 70 artistas a assinarem cartas abertas e cancelarem suas apresentações em festivais como o Sónar, na Espanha, e o Field Day, em Londres, em solidariedade à causa palestina.
A crítica vai além da associação indireta. Para muitos artistas, a entrada da KKR no setor cultural representa uma contradição profunda entre o discurso progressista que marca boa parte da cena eletrônica e os interesses econômicos de empresas envolvidas em “sistemas de opressão”, como apontaram integrantes do duo Animistic Beliefs, que cancelou sua participação no Sónar 2025. A banda La Élite, por sua vez, retirou-se do FIB Festival, na Espanha, declarando que “ninguém quer ver seu dinheiro indo para esses canalhas”.
Em meio às crescentes pressões, o Boiler Room ainda não se pronunciou diretamente sobre os motivos do cancelamento no Brasil. Já a Superstruct declarou estar “horrorizada com a escala do sofrimento em Gaza” e que continua a operar de forma independente, mesmo após a aquisição pela KKR.
Repercussão no Brasil
No Brasil, DJs como D. Silvestre e Delcu cancelaram sua participação no Boiler Room após a mobilização ganhar visibilidade. À Billboard Brasil, Silvestre destacou a dificuldade de se posicionar, mas afirmou que “alguém tem que dar o primeiro passo”. Já Delcu se declarou abertamente contra “o genocídio palestino cometido pelo governo de Israel”.