Uma Lovefoxxx ainda superafim de reencontrar o amor e o Cansei de Ser Sexy
Cantora se apresenta com a antiga banda no Primavera Sound
Em 2011, Luísa Matsushita tentava, para um site gringo, traduzir o que era ser uma manteiga derretida. “Melted butter people”, tentou desenhar ao “TimeOut”, de Dubai. À época, ela era conhecida apenas como Lovefoxxx, a vocalista do Cansei de Ser Sexy, condição que ela voltará a assumir em 2 de dezembro, na versão paulistana do festival Primavera Sound. O hiato da banda trouxe Lovefoxxx de volta ao registro de nascimento, ao choro, a um antigo amor e a um grande sonho: a pintura.
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“É engraçado. Hoje eu sou representada pela Galeria Luisa Strina e esse sempre foi o maior sonho, na verdade”, conta a artista musical e visual, que inaugurou, em agosto, exposição chamada “Se Não For Para Chorar, Eu Nem Saio De Casa”. O título da mostra biografa uma Luísa que assume o choro como uma constante em uma vida em que já se viu como ícone indie-fashion, aprendiz de permacultura, além de ter dado a chance ao reencontro com um amor que, antes, julgava insustentável.
A permacultura é uma ciência socioambiental que, resumidamente, tenta, na moralzinha, lembrar aos seres humanos que o manejo mercantil da natureza da forma como temos feito é equivocada. Um contraponto direto ao modelo predatório do agronegócio que Luísa foi aprender com o educador agroflorestal Namastê Messerschmidt. “Eu fico muito estressada de pensar se ‘será que, com esse clima, teremos verduras daqui a uns meses?'”.
Para distrair, a cabeça de Luísa vai em direções diversas. Ora tá aprendendo no TikTok que devemos rabiscar usando a mão não-dominante para absorver melhor uma informação (“não sei se é verdade, tá!?”), ora tá ouvindo audiobooks, como “Rouge”, da escritora canadense Mona Awad (“nem sei se eu gosto dele, mas como eu comprei, vou escutar até o fim”) ou às vezes se pega mesmo pensando no reencontro com as amigas de Cansei de Ser Sexy, todas localizadas em Los Angeles hoje em dia.
Nada cansada para o reencontro
“Eu estou muito animada para encontrar as meninas, de estar na mesma hora e lugar, fazer algo que eu aprendi a fazer do lado delas. Show é uma coisa muito difícil, uma engrenagem chata de estar de volta. É um grande esforço emocional”, conta uma cantora mais preparada para o palco que encarará quatro anos após os últimos shows com o CSS.
“Eu já sei esse mapa: duas horas antes do show é uma bosta. Dá uma agonia, dá insegurança. Você não sabe se bebe água, faz xixi ou aquece a voz. Aí chega na hora, você esquece, parece que saiu do corpo, passa tudo rápido e a gente fica comemorando. É isso que vai acontecer!”, diz entre risos.
“Eu comecei a querer pintar, era uma urgência. E eu não consegui. Fui para o mato, estudei agrocultura, fiquei sozinha. Mas eu estou muito feliz com essa minha vida e esse meu espírito que é fiel a mim mesma. Sem medo de ser feliz”, rememora a também autora do projeto TUM, tocado e vivido com seu namorado Chuck Hipolitho.
Os dois tiveram um primeiro encontro por volta de 2011, quando o então guitarrista dos Forgotten Boys tornava-se VJ da MTV. Um ano após, a cantora bloqueou o sentimento por achar-se obcecada por aquele homem. Mais de 20 anos depois, a história de amor se reencontrou no TUM.
“Reencontrá-lo agora é muito importante. Ele foi, voltou. São 20 anos, sabe? É uma outra camada de magia na minha vida. Um homem tão talentoso, delicado. Materializar tudo isso em um disco é lindo. É o tipo de coisa que não dá pra imaginar que ia acontecer”, conta antes de verter lágrimas e embargar a voz.
“Eu até me emocionei ouvindo você dizendo isso [a pergunta sobre como é dar chance para o reencontro]. As coisas grandes da nossa vida… Elas apenas… acontecem. Não tem como ajudar, só acontecem”, diz indicando a própria canção “Any Resamblance Of It” como uma explicação musical do tudo ocorrido na vida de uma indiestar, a “Xuxa dos neo-clubbers”, que deu-se chance à pintura, à solidão, ao tesão do palco, ao amor bloqueado. Sexy reencontros.