‘Tive uma infância conturbada e violenta’: a trajetória de Mel Gonçalves até a fama
Cantora goiana foi revelada com a Banda Uó
A infância de Mel Gonçalves não foi fácil, mas a arte esteve sempre ali, por perto. Especialmente a música. Mais conhecida como Candy Mel, a cantora viu os holofotes do cenário musical brasileiro se voltarem para ela em 2011. Foi quando lançou a música “Shake de Amor”, versão de “Whip My Hair”, de Willow Smith, com a Banda Uó.
Ela fez parte do grupo entre 2010 e 2018 e, com ele, colecionou conquistas e prêmios, misturando o von a outros ritmos.
“Eu sou uma mulher trans que veio de Goiás, das periferias de Goiânia, e que atravessou muita coisa. Era um período em que a gente falava de outras formas sobre ser mulher trans e, por isso, considero ser tão importante olhar pelas crianças. Tive uma infância conturbada e violenta”, relembra a cantora.
Ela encontrou apoio na figura do tio, chamado Paulo, um violeiro não muito experiente que desenhava melodias para que cantasse. Depois, passou pelo coral da igreja batista, onde ficou até quando “aguentou”, como conta, um pouco antes de sua transição de gênero.
A vivência na Banda Uó, segundo Mel revela, foi desafiadora e de amadurecimento. “Quando recebi o convite, entrei direto. Tudo aconteceu de 0 a 10, com muitos desafios. Eu não fui assistida, as pessoas viram o meu desenvolvimento, o meu crescimento, e não a minha transição.
“Sou essa artista que foi se fazendo a partir das limitações que tinha, das imposições que me foram dadas, das minhas cicatrizes.” Após o fim da banda, Mel se lançou na carreira solo com o single “A Partir de Hoje”.
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Nesta nova etapa da carreira, ela promete uma metamorfose e diz que vai devolver como música tudo aquilo que recebe do mundo. Neste ano, deve lançar um álbum pop e cheio de nuances. Além disso, os fãs que sentem saudade da Banda Uó –trio formado por ela, Mateus Carrilho e Davi Sabbag– podem aguardar por um retorno.
Eles farão alguns shows para rememorar o trabalho que marcou toda uma geração Mel também é curadora da semana da visibilidade trans da Casa 1, um espaço no centro de São Paulo que acolhe pessoas LGBICIAPN+ em situação de vulnerabilidade. E reforça a importância de celebrar e lutar por espaços de acolhimento como esse.
“Quando falamos de chegar aos 35 anos e das violências que nos matam, esquecemos de quais situações estamos falando. São violências psicológicas, que vêm muito antes das físicas, as violências que nos levam a lugares decadentes e minam a nossa arte. Somos minadas o tempo todo. Tudo isso é muito desafiador”, encerra.