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‘Procurar, matar, destruir…’ (e quebrar o óculos do jornalista com um chute)*

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Lenda do rock, Iggy Pop se apresenta no The Town no domingo (7)

Iggy Pop, que se apresenta neste domingo no festival The Town (Reuters)

O Mohawk é uma garagem transformada em casa noturna e palco de eventos. Localizada na Red River Street, em Austin, e com capacidade para 900 pessoas –e olhe lá– ela recebeu, no dia 13 de março de 2013, James Newell Osterberg, um senhor de 63 anos. Quem o vê chegar mancando no local (ele tem uma perna mais curta do que a outra por causa de uma escoliose), dificilmente acredita que está para assistir a um dos shows de suas vidas. Uma ingenuidade que, pelo menos para esse que vos escreve, resultou num chute na cara. 

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James tira a camisa e se posta ao lado do palco. O jeito ansioso com o qual espera sua entrada se assemelha a de um cão raivoso, a ponto de morder o traseiro do primeiro que surgir na sua frente. James, então, dá seu lugar a Iggy Pop, pioneiro do punk, ídolo de popstars como David Bowie, dos guitarristas Steve Jones e Johnny Marr (dos grupos Sex Pistols e The Smiths, respectivamente, que aprenderam a tocar seu instrumento por conta de “Raw Power”, de Iggy Pop & the Stooges) e bandas do quilate de Ramones e Nirvana. Por pouco mais de uma hora e meia, Pop apresentou dezesseis músicas e deu inúmeros mergulhos na plateia –num deles, sua bota se enamorou do meu rosto e meus óculos se espatifaram antes mesmo de tocar no chão. Mas, vamos combinar? Pelo menos rendeu uma história e tanto.

O Iggy Pop que chega domingo ao palco do The Town pode até não ter o mesmo vigor de temporadas passadas –afinal, está com quase 80 anos–, mas ainda é garantia de uma apresentação lendária. Para começar, traz consigo um repertório de hits: “I Wanna Be Your Dog”, “Lust for Life”, “Search & Destroy”, “The Passenger” e por aí vai. Segundo –e mais importante– é a chance de assistir ao pioneiro do punk rock, movimento que se notabilizou pela volta ao rock básico e pela atitude anti-social de seus principais representantes.

Iggy Pop formou os Stooges (que antigamente eram chamados de Psychedelic Stooges) em 1967, quando se uniu ao guitarrista Ron Asheton, ao baterista Scott Asheton e ao baixista Dave Alexander. Iggy disse que seu comportamento no palco foi uma aprimoração dos trejeitos de Mick Jagger (The Rolling Stones) e Jim Morrison (The Doors), mas ele adicionou boas doses de loucura: se lambuzou de pasta de amendoim, “tocou” um liquidificador no palco e até se cortou com cacos de vidro, disparando sangue em cima da platéia. Em “The Dark Stuff”, coletânea de artigos do jornalista inglês Nick Kent, revela-se que muitas dessas loucuras eram provocadas pela alta quantidade de alucinógenos que Iggy engolia antes de entrar no palco –e seu estilo “epilético” de interpretação acontecia pelo efeito do barulho da banda em seu cérebro. Coisa fina…

O Stooges foi e voltou diversas vezes, Iggy tem uma carreira solo que rendeu no mínimo dois discos essenciais: “The Idiot” e “Lust for Life”, ambos de 1977.  O “avô do punk”, hoje, diz estar limpo. E viu muitos de seus companheiros de geração se despedir do mundo antes dele–por exemplo, Lou Reed e David Bowie. Embora os tempos de loucura tenham ficado para trás, a adrenalina de suas performances, como bem sua cristalina voz de baixo barítono, continuam firmes. Iggy ainda é uma apresentação imperdível. Por mais que muitas vezes possa render um chute na cara.

*O título faz referência a um episódio do seriado “Perdidos no Espaço”, no qual um andróide era programado para “procurar, matar e destruir”. E Iggy tem uma canção chamada “Search & Destroy” (Procure e Destrua), certo? Mas o chute na cara foi comigo mesmo…

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