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O extraordinário Sorriso Maroto
O grupo Sorriso Maroto durante ensaio no Maracanã

O extraordinário Sorriso Maroto

Do subúrbio carioca ao Abbey Road, grupo mostra por que é gigante no pagode

Os números podem dar uma ideia de grandeza. Mas, sem o devido contexto, eles ficam frios e podem até mesmo diminuir a importância de um fato. No caso do Sorriso Maroto, eles jogam a favor. Com 28 anos de história, 20 álbuns no currículo e duas indicações ao Grammy Latino, o grupo já é tido como um dos maiores nomes da história do pagode. Mas foi só há três anos que todo esse tamanho passou a ser percebido como tal, quando os resultados começaram a falar por si.

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E quem diz isso é o vocalista Bruno Cardoso. Em entrevista para Billboard Brasil, feita no estádio do Maracanã, o cantor foi perguntado como ele via a dimensão do Sorriso para o segmento. Agarrando-se na matemática, ele pregou a humildade que a estrada cobra.

“Falando de tamanho, eu vou para o lado mais prático, dos números, que fica claro para todo mundo. Estamos dentro do Maracanã. Hoje podemos falar que temos 70 mil pessoas para cantar o repertório do Sorriso. Isso é muito sério. No samba, não tem essa coisa de gostar só de um grupo ou artista, então é mais difícil. Chegar até aqui não é fácil, não é um roteiro previsível ou comum, e essa visão que eu tenho agora é muito por conta do que estamos vivendo há três anos”.

Bruno Cardoso, integrante do grupo Sorriso Maroto
Bruno Cardoso, integrante do grupo Sorriso Maroto (Dani Valverde/@daniivalverdee)

Nesse período, o grupo nascido no Grajaú, na Zona Norte do Rio de Janeiro, decidiu revisitar todo o seu repertório com o projeto “Sorriso Maroto – As Antigas”. Como o nome sugere, a turnê era baseada em shows repletos de nostalgia, que vão desde a vestimenta dos integrantes até, claro, as canções que marcaram época.

O sucesso é garantido e tem um contexto que favorece essa tônica. Na última década, o pagode ganhou incontáveis labels, projetos de turnê com uma temática específica. Thiaguinho, Mumuzinho, Ludmilla, Menos é Mais, Tiee… a lista é imensa e todos têm algo em comum: além de sucessos próprios, os artistas revisitam clássicos de outros grupos. A principal diferença do projeto do Sorriso Maroto consiste aí: o público presente vai ouvir, por mais de 3h, só os hits do grupo.

Desde 2023 rodando o Brasil, o “Sorriso – As Antigas” lotou o Maracanã por duas vezes, fazendo sua despedida do Rio de Janeiro no dia 11 de outubro – o projeto chega ao fim em 2025, com o último show em 20 de dezembro, em Florianópolis. O grupo, que de tão íntimo do estádio, pode até chamá-lo de Mário Filho, diz que ainda sente “friozinho na barriga” quando tem a abertura de ingressos (mesmo estando invictos no quesito lotação do espaço).

Cris, integrante do grupo Sorriso Maroto
Cris, integrante do grupo Sorriso Maroto (Dani Valverde/@daniivalverdee)

Sorriso Maroto em busca dos três pontos

Em 2013, o Sorriso Maroto pegou um avião e foi até o Avatar Studios gravar o disco “Riscos e Certezas”. Pisar no local onde estrelas como Madonna e John Lennon gravaram era um sonho realizado. À época, em entrevista ao g1, Bruno disse que ir até os EUA não foi uma “jogada de mercado”. 12 anos depois, o grupo revela que ir ao Avatar era apenas uma “parada” rumo a um sonho que estava a mais 5 mil quilômetros de Nova York.

Em 2025, o grupo lançou o projeto “Sorriso Eu Gosto No Pagode Vol. 3 – Homenagem ao Fundo de Quintal”. A gravação aconteceu no lendário Abbey Road Studios, em Londres. Sim, o mesmo que ficou imortalizado pelos Beatles. Estar ali não era apenas um feito técnico: era a realização de um desejo antigo, daqueles que pareciam distantes demais para um grupo formado no subúrbio carioca.

Fred, integrante do grupo Sorriso Maroto
Fred, integrante do grupo Sorriso Maroto (Dani Valverde/@daniivalverdee)

Depois de uma longa negociação, o Sorriso Maroto conseguiu não só a liberação para gravar no estúdio, mas também para transformá-lo em uma autêntica roda de samba. O álbum, como o título já entrega, reverencia o grupo que moldou o pagode como o conhecemos hoje e, ao mesmo tempo, resgata as próprias origens do Sorriso — que, antes da fama, tinha no repertório várias das canções dos crias do Cacique de Ramos.

“Foi isso que trouxe o tempero para que a gente soubesse que podia entrar no Abbey e tirar um som. A gente não seria capaz de cantar as nossas composições, tinha que ser algo que fizesse sentido ir até Londres. E o repertório do Fundo deu essa importância”, diz Bruno.

“Era a primeira vez que um grupo de pagode pisava ali. Pedimos a Deus para que não fossemos os últimos. Para fazer algo tão grandioso assim”, complementa Sérgio.

Sergio Jr., integrante do grupo Sorriso Maroto
Sergio Jr., integrante do grupo Sorriso Maroto (Dani Valverde/@daniivalverdee)

Menos de um ano depois, o álbum já rendeu um grande fruto: o Sorriso Maroto está concorrendo ao seu terceiro Grammy Latino na categoria de melhor álbum de samba e pagode. E o discurso já está pronto: a disputa entre os grandes já é uma vitória.

“O Grammy, obviamente, vem pra gratificar, coroar todo esse trabalho. Mas ele está além disso. Nosso prêmio veio quando a gente teve a oportunidade de apresentar para eles. Esse trabalho tem um princípio que não é nem comercial, é um lugar que nem cabe premiações. Ele, por si só, já é um prêmio”, comemora Bruno.

O grupo de música que toca pagode

Bruno (voz), Sergio Jr (violão e voz), Fred (percussão), Cris (pandeiro) e Vini (teclado e piano) fazem parte de uma história rara no pagode: o Sorriso Maroto mantém a mesma formação desde sua fundação. O grupo “sobreviveu” a tentação inerente do estrelato de um quinteto onde o vocalista é sempre alçado à figura principal.

Um dos principais motivos para essa união é sabido por todos que acompanham o pagode de perto: os cinco integrantes levam o profissionalismo ao extremo.

“Eu faço uma analogia com os dedos de uma mão: os cinco têm tamanhos diferentes e cada um tem uma importância para que tudo funcione bem. Eles não têm vaidade, é tudo decidido em prol do grupo”, conta Wilson Rodrigues, o Prateado, que trabalhou com o Sorriso em meados dos anos 2000 e é um dos principais produtores do gênero.

Vini, integrante do grupo Sorriso Maroto
Vini, integrante do grupo Sorriso Maroto (Dani Valverde/@daniivalverdee)

E essa coesão do Sorriso Maroto serve de suporte para o segundo ponto de diferença do grupo: a ousadia musical.

Desde os primórdios, o grupo carioca se propôs a fazer um “pagodinho diferente”, frase que virou uma espécie de lema do grupo. Já no segundo álbum de estúdio, “Por Você”, eles gravaram a balada que ganhou o Brasil na voz de Frejat. Desde então, o Sorriso sempre vem misturando ritmos, do R&B ao rock. No entanto, a grande sacada foi a mistura com forró.

Ali no final dos anos 2000, o gênero passava por uma espécie de transição. O sucesso do chamado “Pagode 90” se diluía e os pagodeiros perdiam força para o forró e o sertanejo. Contudo, os cariocas do Grajaú souberam usar muito bem a união entre o cavaco e a viola para não sucumbirem. Um dos grandes sucessos do grupo até hoje é “Assim Você Mata O Papai”, que poderia facilmente estar na voz de muita dupla sertaneja por aí.

20 anos depois, “P de Pecado”, do grupo Menos é Mais, em parceria com Simone Mendes, está por meses na lista de músicas mais ouvidas do país, segundo o Billboard Brasil Hot 100, se tornando uma confirmação de que a fórmula dá certo. Não é como se o Sorriso Maroto tivesse reinventado a roda, até porque em 1990 já tinha Daniel cantando com Só Pra Contrariar, por exemplo. O grande trunfo é que o grupo carioca conseguiu fazer essa mistura se tornar algo quase orgânico e que o mercado entendesse a importância de os dois gêneros mais populares andarem juntos.

“A gente sempre se entendeu como pagodeiros, sambistas, mas muito amplos. Nunca colocamos que ‘isso não combina com aquilo’. Somos músicos que fazemos – música”, resume Bruno.

ASSISTA A ENTREVISTA COMPLETA DO SORRISO MAROTO PARA BILLBOARD BRASIL:

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