Rom Santana: cantor é febre da noite de SP e viu sucesso o reaproximar da mãe
Noite boa de farra, quase sempre, termina em show dele no Bixiga

Faz quase dois anos que uma noite boa e ébria em qualquer lugar de São Paulo acaba terminando no Bixiga ou na Barra Funda e em ritmo de piseiro e pagodão —o baiano, que fique claro. Sejam assíduos frequentadores do bairro ou clubbers sem rave que estejam procurando um baile, todos os caminhos fazem criaturas da noite desembarcarem em um show de Rom Santana, cantor de 31 anos.
Onde tem Rom Santana em SP hoje?
— FLX. (@felixbarross) May 2, 2025
Ele tinha 17 anos quando chegou em São Paulo, em 2010, a convite do irmão mais velho. Vindo da roça de Iramaia, cidade a 400 quilômetro de Salvador (BA), acabou se tornando pizzaiollo —e ia trabalhando no que dava para levantar um dim. Parecia tudo certo, então: tirando a solidão, os interurbanos que fazia para o pai e para a madrasta eram contando boas novas e agradecimento pelo momento em São Paulo que rompia junto com a maioridade.
Nem ele, nem o irmão e nem os pais —que venderam uma vaca da roça para levantar uma “vaquinha” para a compra da passagem— imaginariam que, 15 anos após chegar em São Paulo, Romário (“por isso o Rom”) Silva Ramos fosse ser uma das principais estrelas da noite da cidade. Além de tudo, ele tem sido um personagem importante da revitalização das aglomerações musicais na rua da região central de São Paulo.
Agora, ele é queridinho dos fãs de pagodão e dos alternativos da música eletrônica, faz de 20 a 25 shows por mês, se prepara para gravar seu primeiro audiovisual — e chamou atenção de um dos maiores artistas da televisão brasileira no momento.
A cara, a coragem, um celular e vídeos no Facebook
A vida em São Paulo era solitária e Romário, nas horas vagas, fazia o que qualquer aspirante a cantor estava fazendo em 2020: gravando vídeos para rede social. Umas curtidas aqui e acolá deram o mínimo de coragem para Rom. Certa vez, parando em um bar vazio, ele e um colega viram que havia um som dando sopa. O parceiro, então, ofertou o talento do desconhecido Romário. Com a permissão do dono do bar, ele fez seu primeiro show usando um microfone de verdade.
“Muita vergonha. Não tinha ninguém no bar e eu tava com muita vergonha. Cantei uma, outra e o cara gostou. E eu fiquei meio otimista com aquilo tudo. Alimentou minha esperança. Eu não tinha microfone, nada”, relembra.
Depois de ganhar um microfone (daqueles de fio, ainda), passou a bater de bar em bar e pedir para cantar. Como não tinha tecladista ou DJ para soltar as bases, passou a usar o celular como instrumento. Aos poucos, foi dando certo. “Mas não pensava em nada disso com profissão. Os colegas de trabalho se surpreendiam com minha voz. Mas eu sempre tive muita gente que desacreditava de mim e isso batia forte. Pensei em parar várias vezes”.
quem é rom santana, meu pai? Todo mundo do meu Instagram tava no show desse homi e eu nunca ouvi falar kk
— veia dos gatos (@thayllandy) August 3, 2025
Sucesso na carona do roubo de uma moto
Dois anos se passaram, e a música ainda era um desafogo espiritual de Rom em São Paulo. O batente mesmo era trabalhando como motoboy e foi justamente o instrumento deste trabalho que possibilitou que cantar fosse algo maior. “Foi meu último trabalho. Tudo deu um pontapé maior depois que roubaram minha moto, em 2023”, conta. Foi neste ano que ele começou a ser reconhecido como sinônimo de farra boa na rua Treze de Maio, o fervo noturno do Bixiga, bairro tradicional da capital paulistana.
O público passou de 20 perdidos que colavam na Mercearia para 200 fãs de um cantor que passeia com sensualidade e vozeirão por hits de qualquer gênero estilizado com o toque do pagodão. “O dono da mercearia começou a ter problema com a rua lotada, tivemos que migrar para outra casa”, dimensiona.
Foi cantando na Treze que o som de sua voz despertou a atenção de um vizinho. O produtor artístico Robson Araújo já havia trabalhado com Natiruts e com o grupo de comédia 4 Amigos quando viu o que Rom fazia. O que era uma carreira improvisada, após o roubo da moto (e muita coragem na cara), foi virando um show que, pouco a pouco, chegou ao Instagram de Pabllo Vittar e que, agora, em forma de “label”, estreará na Europa com o nome de “Baile do Felino”.
chegou chegou, o gostoso do rom santana chegou nas mãos da pabllo vittar
— a extraordinária canceriana que (@choraebebe) July 28, 2025
Queridinho dos alternativos e, agora, também xodó da mãe e de Paulo Vieira
No início, Rom achou que ia encontrar a diáspora nordestina em São Paulo pronta para lhe abraçar. De fato, isso ocorreu, mas o que gerou o boca-a-boca daquele showman com sobrenome igual ao de Léo Santana foi também o apreço de uma galera mais alternativa. “Quando você começa a cantar pagodão, você quer atingir o nordestino. Eu achei que ia ser assim”, pondera. Mas, não. Ratos noturnos em busca de um fôlego na noitada passaram a recomendar os shows de Rom como o melhor fim de noite possível.
Muito desse sucesso vem da improvisação das apresentações. Rom, acima de tudo, é um músico que gosta da rua. É papo de botar alguma coisa pra subir (às vezes é um banco, às vezes é o que tiver por perto), ligar o microfone e sair cantando. A polícia passa, ele desliga o som, os homi se vão, volta a farra. No fim, ele acaba sendo um contraponto em uma cidade que há muito perdeu a capacidade de ficar acordada na madrugada —mas cuja prática resiste em bairros como o Bixiga e a Barra Funda, atraindo os perdidos (e os achados) da noite.
E é numa dessas que ele acaba cantando para famosas criaturas da noite como Liniker e Pabllo Vittar. A drag, inclusive, registrou o show de Rom em outra casa bombada do bairro, a Funilaria. “Eu achei muito humilde da parte dela porque ela estava ali, curtindo meu show, me colocou nos stories e ainda me seguiu de volta. Quando eu paro pra pensar, fico sem acreditar. Outro dia cantei no Bar do Chagas e quem tava lá? O Eduardo Sterblitch. Quando tem um famoso, você fica meio balançado”.
Paulo Vieira também é um dos que olharam para Rom. O ator, comediante e roteirista de “Pablo e Luisão” também é conhecido por ter um olhar carinhoso para a música popular —em seus dois trabalhos recentes para a Globo, como “Avisa Lá Que Eu Vou”, ele prestou homenagens a artistas como Genésio Tocantins e Dorivã, ícones do Tocantins. “Alguma coisa está acontecendo que a gente não sabe explicar”, reflete Robson sem dar muitos detalhes sobre a relação com o global.
O sucesso também o aproximou de um sentimento que estava esquecido. Criado pela madastra Teresa desde os dois anos, ele não viu sua mãe biológica se mudar para São Paulo e a relação praticamente não existiu. Ter se estabelecido naquilo que o faz feliz também o fez buscar dona Rosilda. “Ela estava morando em Cubatão e agora mora em Araraquara. Eu percebi que o problema da separação dela com o meu pai não era meu! E que estava tudo bem no meu coração quanto a conhecê-la. Agora, quero trazê-la para São Paulo”, finaliza.