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Nova série ‘Rauls’, da Netflix, tem potencial para marcar a história da música

Nova série ‘Rauls’, da Netflix, tem potencial para marcar a história da música

E olha que o projeto nem tem data de lançamento…

Nova série da Netflix vai se chamar 'Rauls'

Nesta terça-feira (14), a Netflix anunciou que tem uma nova série brasileira vindo aí: “Rauls”, criada por Konrad Dantas, o KondZilla, Kaique Alves e Felipe Braga, os mesmos criadores de “Sintonia”, sucesso estrondoso da plataforma de streaming.

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A Netflix não deu nenhum detalhe do que vem por aí, inclusive brincou com os curiosos, ao simular um contrato com a seguinte cláusula:

“Se você tá aqui lendo esse contrato, dando zoom pra tentar pegar alguma pista, já fica o aviso: só vai descobrir mesmo quando a série lançar”, diz a parte 3 do acordo.

Mas, ao que tudo indica e ao que o nome da série sugere, o projeto mergulhará no universo dos Rauls, gíria paulista para estelionatários.

A Billboard Brasil já explicou o que o termo significa e seu impacto para indústria musical. Relembrando o conceito:

Raul é a gíria para o especialista em golpes bancários, praticante do estelionato.

Segundo o artigo 171 do Código Penal, é crime “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. A pena para um Raul é reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Quem explica a gíria é o escritor Alexandre de Maio, autor do livro “Raul“, lançado em 2018. “Eu conheci um cara do rap que foi preso porque era ‘Raul’. Decidi contar essa história, com ideia de também ensinar pessoas a não caírem nos golpes”, conta o autor.

Alexandre acredita que o termo tenha vindo do chupa-cabra que clonava cartões em caixas eletrônicos: o aparelho era chamado de “Raul” já na década de 1980.

No entanto, a nova produção audiovisual tem tudo para levar o conceito a outro nível.

MC Kapela, autor de “Bonde do 171”, de 2018 e BolinhoXZ, o maior raul açucarado da história.

Desde 2012, ninguém documenta visualmente os anseios das periferias do estado de São Paulo como a KondZilla. Seus videoclipes, criados pelas mentes de diretores como próprio KondZilla e Kaiques, responsáveis por sucessos geracionais da música brasileira, instituíram um paradigma. Há mais de 10 anos, todo funkeiro quer estar associado a KondZilla. Se antes era musicalmente, agora é de formas variadas — incluindo a atuação.

Ou seja, não há ninguém melhor que Konrad Dantas e a KondZilla para registrar esse momento. Mas se estamos falando de uma série que fala sobre estelionatários, onde a música entra nisso?

A relação intrínseca entre funk e Rauls

Há pelo menos uma década os MCs paulistas vêm documentando a evolução e o desenvolvimento dos Rauls pelas mais variadas áreas da sociedade. Se o funk, desde a sua origem, tem o papel de retratar (e documentar) o que acontece nas periferias do Brasil, o fenômeno dos “7” (como também são chamados os Rauls ) não poderia ficar de fora.

Da moda ao dialeto, os estelionatários do século XXI tomaram conta do imaginário das periferias do estado mais rico do Brasil. Isso porque, com o avanço da tecnologia e a financeirização da sociedade, a rede de atuação desses profissionais do crime aumentou exponencialmente.

Se ficou mais fácil mexer com dinheiro, ficou mais fácil de roubá-lo. Simples assim.

Canções como “300 no 7”, do MC GP, detalham minuciosamente a vida de um Raul, quase como um quadro do Globo Repórter.

Arranquei 300 [mil reais] no 7 [abreviação do artigo 171]
Nóis faz e acontece
Busca as duas no flat e joga na Macan [modelo do carro Porsche]
Ativei o modo esquece
Travei seu cartão Black
Gastei lá no S
Quero só Macallan [marca de uísque]

O ramo de cantar a vida de estelionatários cresceu tanto que artistas como MC Kapela, MC Amaral e MC Negão Original se tornaram especialistas no tema e passaram a acumular milhões no YouTube e no Spotify.

Mas cantar sobre esses crimes envolve certo risco, já que uma das grandes vantagens do estelionatário é atuar na clandestinidade. Ter seu modus operandi descrito em músicas que acumulam mais de 100 milhões de reproduções pode ser ruim para os negócios e gerou certo incômodo nos estelionatários da vida real, como explicou Negão Original (ele mesmo um ex-estelionatário) em conversa com a Billboard Brasil.

Ao contrário de “Sintonia”, que é uma história que nasceu como reprodução de dilemas diversos das periferias de São Paulo, tendo a música (mais precisamente o funk) como um dos seus enredos, Raul tem tudo para ter a música como pilar documental.

Foram anos de registros históricos hiper detalhados de como vivem, o que gostam, o que vestem e como se reproduzem os Rauls. Seria um grande marco para indústria fonográfica brasileira ver todo esse acervo dando vida a uma série e reforçando o papel de cronistas por parte dos MCs paulistas, quem sabe até mesmo criando uma nova geração de funkeiros que escolherá registrar de forma detalhada as possíveis novas dinâmicas do mundo do crime.

Torcemos para que tudo o que o funk catalogou esteja na série.

Mynd8

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