Como nasce uma estrela: a história de Dita Ribeiro
Cantora de rádio consagrou-se como trunfo de 'Êta Mundo Melhor', da Globo
Em “Êta Mundo Melhor”, a personagem Dita Ribeiro, vivida pela atriz Jeniffer Nascimento, interpreta uma grande estrela do rádio. A novela se passa num período da história brasileira marcado por grandes artistas que conquistaram o país com suas vozes exuberantes entoando clássicos de samba-canção, bolero, baião, sertanejo, tango e foxtrote.
As primeiras experiências com o rádio no Brasil aconteceram ainda no século 19 e, a partir da década de 1920, teve início a popularização do meio de comunicação que viveu seu auge na época retratada em “Êta Mundo Melhor!”. Emissoras como Rádio Nacional, Tupi e Mayrink Veiga se destacaram no período compreendido entre os anos 1940 e 1950 e serviram de inspiração para a criação da fictícia Rádio Paraizo, estação onde a cantora Dita tem seus dias de glória e é coroada Rainha da Rádio.
Fora das telas, a realeza pertenceu a musas que inspiraram a criação da personagem: a elegância de Nora Ney; o talento precoce e a carreira meteórica de Dolores Duran; a coragem e a vida conturbada de Maysa; a exaltação da cultura sertaneja executada por Inezita Barroso; a popularidade e a disputa pelo amor dos fãs entre Marlene e Emilinha Borba; além do brilho incontestável das irmãs Linda e Dircinha Batista; da “Sapoti” Ângela Maria; de Dalva de Oliveira; e de Zezé Gonzaga.
Naquele tempo, paixões impossíveis, dor de cotovelo, saudade, solidão, boemia, retratos da vida rural e temas carnavalescos diversos marcaram as canções que colocavam o público para cantar ao lado do rádio em suas casas ou, então, levavam os ouvintes até os estúdios das emissoras para assistir aos artistas ao vivo. Em uma época onde a TV ainda não havia chegado ao Brasil, as apresentações realizadas na sede das estações eram a forma com que alguns espectadores privilegiados encontravam para ter contato com a materialização da voz que saía dos aparelhos valvulados e chegava aos seus ouvidos em seus lares.
Nesse contexto, diversos compositores se destacaram, com suas obras interpretadas pelas cantoras do rádio. Estão entre eles nomes que ficaram marcados na história da música brasileira, como Lupicínio Rodrigues (autor de “Esses Moços” e “Vingança”, gravadas por Ângela Maria) e Herivelto Martins (com quem Dalva de Oliveira viveu um casamento conturbado, e gravou canções como “Ave Maria no Morro” e “Quarto Vazio”). Em meio às grandes vozes femininas do rádio, Dolores Duran e Maysa também se destacaram como compositoras, sendo autoras, respectivamente, de canções como “A Noite do Meu Bem” e “Meu Mundo Caiu”.
As trajetórias dessas cantoras, que combinaram talento e superação diante de origens humildes e preconceitos de uma sociedade conservadora, influenciaram a história de Dita. Na entrevista a seguir, carregada de um sotaque peculiar (como quem fala uma língua própria, cheia de licenças poéticas), a cantora compartilha momentos de sua carreira e vida pessoal, além de antecipar o que o público pode esperar dos próximos capítulos de sua jornada.

Desde quando você canta? Como foi o processo de aprender a cantar para você?
Acho que comecei a cantar antes mesmo de aprender a falar. Minha mãe dizia que até meu choro de bebê parecia que era cantado. Mas estudar para ser cantora, isso nunca fiz. Acho que é uma coisa que tenho dentro de mim, mesmo. É sentir a música e passar o que você sente pros outros.
Você veio do interior para São Paulo em busca do seu sonho de se tornar uma grande cantora. Quais têm sido os principais desafios nessa trajetória?
Desafio tem um monte, mas acho que o principal é não deixar de acreditar, porque aconteceram muitas coisas que poderiam ter me feito desistir. Ouvi gente dizendo que uma mulher como eu não ia conseguir ser cantora de rádio, mas eu acreditei e estou aqui. Se você não acreditar em si mesmo, os outros também não vão, né?
Você tem um filho pequeno, o Joaquim. De que forma ele acompanha o seu trabalho? Como é para ele ter uma mãe que é cantora e celebridade? E para você? É difícil conciliar a maternidade com a vida de artista?
Joaquim foi a primeira pessoa que me ouviu cantar, porque eu sempre cantei pra ele dormir! Mas, essa coisa que você falou, de ser celebridade… Não sou nada, que besteira! Agora, ser mãe e trabalhar não é fácil. Já tive até que abrir mão de um contrato na rádio, porque queriam que eu viajasse, sabia? Não tinha como ficar longe do meu filho, isso não aceito de jeito nenhum.
Você, além de mãe, é uma mulher negra, que veio do interior, passou por várias dificuldades e se tornou uma das principais cantoras do país. De que jeito você sente que a sua voz e a sua trajetória podem mudar a forma como a sociedade vê as mulheres negras e pobres?
Eu não sei se posso mudar a sociedade, mas eu espero que outras mulheres como eu possam me ver e acreditar nelas mesmas. Eu não quero ser a única nos lugares que eu chego, não. Quero ver outras mulheres como eu junto de mim. Depois que meus pais morreram, quem me criou foi minha tia Manoela, e ela me ensinou que quem tá por baixo tem que se ajudar, não adianta subir e estar sozinho no topo. Então, eu quero que essas mulheres possam se ver melhores, quero que elas acreditem nelas, isso pra mim já está ótimo.
E para outras mulheres que têm uma origem parecida com a sua. Sente que é vista por elas como uma referência?
Às vezes, algumas fãs falam comigo depois dos shows e também recebo muitas cartas. Elas falam que é importante para elas me verem no palco, verem alguém que parece com elas brilhando e sendo aplaudida por tanta gente. Por isso também que eu não quero mudar meu jeito e nem quem eu sou, nós temos que nos aceitar como somos, quem tem que mudar é quem tem preconceito.
Você tem se destacado na rádio, um palco importante para a revelação de grandes cantoras. Agora a sua voz também está brilhando nessa constelação em que fazem parte artistas como Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Elizeth Cardoso e Ângela Maria. Entre elas, quais são as suas maiores influências?
Eu gosto demais de todas essas cantoras. Cresci ouvindo rádio o dia inteiro, ouvia a Carmen Miranda, a Emilinha, todas elas. Eu tenho paixão pelas músicas da Adália Cotrim! Mas, para mim, não tem estrela maior que a Dalva de Oliveira! Ela é boa demais! Se eu conseguir um tico do sucesso dela, já me dou por satisfeita!
Você tem sido uma estrela não só no rádio como também no Táxi Dancing. Sente diferenças entre se apresentar nesses dois tipos de palco? Quais são elas?
Eu sempre dou tudo de mim quando canto. Pode ser no Dancing, na rádio, nos encontros de família ou quando boto meu pequeno pra dormir. Cantar é uma coisa tão poderosa que não parece que é a gente que canta as músicas, são as músicas que cantam a gente. O que eu posso dizer desses dois lugares é que tanto um quanto o outro são fundamentais na minha carreira. Claro, no rádio a gente canta pra muito mais gente, tem os equipamento sonoro que ajuda na qualidade da voz, mas no Dancing eu tenho o calor das pessoas que estão ali na minha frente cantando junto e dançando.
Você venceu o concurso de Rainha da Rádio Paraizo em uma disputa muito acirrada. O que você pode nos contar sobre como foi participar dessa competição?
Eu estava nervosa demais! Era a primeira vez que eu cantava, assim, em um concurso, valendo alguma coisa! Mas, graças a Deus, e aos meus fãs, deu tudo certo! Acho que foi ali que entendi que eu podia ser cantora de verdade, sabe? De agora em diante eu sempre vou ser a Rainha da Rádio Paraizo.
O que a Dita de hoje, cantora, estrela do rádio, gostaria de dizer para a Dita do passado, empregada doméstica, que sofreu tanto na fazenda?
Acho que essas Ditas aí que você falou são todas a mesma pessoa. Sinto que não mudei, mas aprendi com a vida, isso sim. Então acho que se tivesse que falar alguma coisa, seria que tudo que aprendi lá na roça foi o que me fez a cantora que sou hoje.
O que podemos esperar sobre os próximos passos da sua carreira?
Eu não sou muito de fazer planos. Tudo o que eu mais quero é cantar muito e alegrar as pessoas. Meu maior sonho é gravar um disco só meu. Mas uma coisa é certa: tudo que eu faço, eu boto meu coração! E sempre que eu estiver cantando, é pra alegrar os coração dos fãs.
Sobre a novela
“Êta Mundo Melhor” foi criada e escrita por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson, a partir de uma ideia original de Walcyr Carrasco, com colaboração de Letícia Mey, Cleissa Regina Martins, Bruno Segadilha, Rodrigo Salomão e Nilton Braga. A novela tem direção artística de Amora Mautner, direção geral de João Paulo Jabur e direção de Mayara Aguiar, Nathalia Ribas e Alexandre Macedo. A produção é de Betina Paulon e Isabel Ribeiro, a produção executiva, de Lucas Zardo e a direção de gênero, de José Luiz Villamarim.
O folhetim estreou em 30 de junho de 2025, substituindo “Garota do Momento”, sendo a 102ª “novela das seis” exibida pela Rede Globo.








