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‘Primavera nos Dentes’ ajuda a explicar o fenômeno Secos & Molhados

‘Primavera nos Dentes’ ajuda a explicar o fenômeno Secos & Molhados

Documentário dividido em quatro partes traz a história do conjunto

Gerson Conrad Paulo Mendonça e Ney Matogrosso (Julia Bruce_Divulgação)

Secos & Molhados foi um dos maiores fenômenos da música brasileira em todos os tempos. João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad venderam mais discos do que pão quente na padaria com uma combinação de rock e música folk americanos, letras tiradas de poesias (há, por exemplo, escritos de Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Solano Trindade e João Apolinário, pai de Ricardo) e um visual que remetia à androginia do início dos anos 1970. O toque final –e mais importante– era dado pela voz agudíssima de Ney.

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A primeira formação do grupo durou de 1971 a 1974, lançou dois discos elogiadíssimos e terminou sob acusações de mau gerenciamento financeiro por parte de João Ricardo. A série “Primavera nos Dentes: a História do Secos & Molhados”, em cartaz desde sexta-feira no Canal Brasil, explica um pouco a ascensão e a derrocada deste grupo que fez história. A direção é de Miguel de Almeida, autor do livro de mesmo nome e a biografia mais completa que se pode fazer sobre o grupo.

O Secos & Molhados nasceu da mente de João Ricardo e de seu parceiro, Gerson Conrad, amigos desde o tempo de adolescência. Ney Matogrosso, o vocalista (e bota vocalista nisso!) foi uma sugestão da compositora e cantora Luhli, que o apresentou à dupla.

O trio, aliado a outros instrumentistas de alta patente –como o baixista Willy Verdaguer, o tecladista e pianista Emílio Carrera e o guitarrista John Flavin– lançou seu disco de estreia em 1973. Impulsionado por canções como “O Vira”, “Sangue Latino” e “Rosa de Hiroshima”, ele vendeu tanto que a Continental, gravadora do trio, foi obrigada a derreter álbuns de outros artistas para colocar nas lojas mais lotes de Secos & Molhados.

O documentário do Canal Brasil peca apenas pela ausência de João Ricardo. E que ausência… Criador dos principais sucessos da banda, ele se recusou a falar para a série e ainda vetou suas composições para serem usadas no documentário. A solução foi apelar para uma trilha genérica e os depoimentos de Verdaguer e Carrera. Se o recurso tira a força da narrativa, por outro lado traz a visão de integrantes igualmente importantes na história dos Secos & Molhados. Há, inclusive, uma canção feita para o seriado – “Ouvindo o Silêncio”, de Gerson Conrad e Paulo Mendonça–, interpretada por Gerson e Ney e que traz a participação de Verdaguer e Carrera.

 

O seriado tem uma narrativa correta, com alguns pequenos deslizes – os depoimentos de Ana Canãs e Duda Brack, por exemplo, carecem de contexto histórico, visto que elas pouco viveram naquele período. As frases de Ney muitas vezes parecem saídas mais do fígado do que do cérebro. Por exemplo, quando relatou maus tratos de João Ricardo a compositoras parceiras.

Por fim, a tese de que o Kiss imitou o Secos & Molhados (corroborada por um baterista que se diz pesquisador musical) é uma das maiores falácias da história da música em todos os tempos. Mas “Primavera nos Dentes” é um ótimo ponto de partida para entender Secos & Molhados.

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