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O futuro do sertanejo é agora
Capa Digital da Billboard Brasil

O futuro do sertanejo é agora

Bruna Lipiani, Clayton e Romário e Marília Tavares inovam o gênero com ousadia

A música sertaneja faz parte do imaginário brasileiro há anos, com suas origens pautadas pelas modas de violas lá no início de 1900, com a exaltação da vida no campo. Não demorou muito para que ela se tornasse grande, imponente e apreciada em diversos lugares do país. Com mais gente ouvindo, mais pessoas queriam se arriscar nos modões e, com o tempo, isso trouxe inovações: guitarras mais acentuadas, vozes diferentes, a chegada de mais mulheres, debate sobre outros temas e por aí vai. Isso continua até hoje. O gênero se renova diariamente, e desde Roraima, passando por Goiás até Minas Gerais, ele segue mostrando sua força nas rádios, nos streamings e nas redes sociais.

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Bruna Lipiani nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em uma família movida a música. Cresceu ouvindo de tudo: rock, MPB e muito mais. Ainda criança, canalizou essa energia no esporte e se dedicou à ginástica rítmica por oito anos. “Dediquei uma boa parte da minha vida ao esporte e fiquei 8 anos treinando de forma intensa. Apesar de ter deixado a música um pouco de lado, ainda tinha contato com ela para as minhas apresentações”, conta à Billboard Brasil. A disciplina levou-a até a Bulgária, onde participou de treinos e apresentações com bola e fitas. Aos 16 anos, decidiu encerrar a trajetória no esporte, justamente quando os amigos já se preparavam para o vestibular. Bruna, por sua vez, ainda buscava seu caminho — como tantos adolescentes.

Bruna, no entanto, não estava sozinha nesse caminho de descobertas. Assim como ela, outros artistas também tiveram a infância e a adolescência como pontos de partida para suas escolhas.

Bruna Lipiani
A cantora Bruna Lipiani é uma das apostas do novo sertanejo (Divulgação/Warner Music)

A paixão pela música, por exemplo, também marcou os primeiros passos da dupla Clayton e Romário, nascidos em Goiânia. Eles começaram a cantar aos 5 anos de idade, com uma forte influência e apoio da família, especialmente do pai. A coisa tomou corpo quando eles foram para a Festa do Peão de Barretos, ainda pequenos, para tentar a sorte com o público apaixonado pelo sertanejo. “A gente veio dar uma arriscada em 2015, procurando uma oportunidade. Nós cantamos, durante 15 dias, em uma churrascaria da cidade”, contou Clayton, que tinha 18 anos na época. Romário, o mais novo, tinha 15. “A gente tentou animar a galera né”, acrescentou ele. O papo com a Billboard Brasil aconteceu quando eles estavam se preparando para participar mais uma vez do evento, mas dessa vez como uma das principais atrações da maior festa de música sertaneja da América Latina, que completou 70 anos em 2025. “Nós estávamos aqui em 2015, quando ela completou 50 anos, e agora retornamos para os 50”. Os irmãos relembram que, há 20 anos, ficavam vendo os ônibus cheios de fãs chegando, carretas de pessoas indo em direção ao Parque do Peão, montando as barracas para o camping. “A gente se perguntava: ‘Será que vai um dia?”, revela Clayton, como quem desejasse o que agora é real.

Marília Tavares viveu algo semelhante. Aos quatro anos, acompanhava a tia Simone à igreja evangélica e se encantava com a vizinha que ensaiava hinos em casa, com CDs de playback. “Eu amava ir para a casa da tia e escutar a vizinha cantar. Um dia pedi para tentar, peguei o microfone e soltei a voz. Todo mundo ficou surpreso que eu sabia cantar”, recorda. Nascida em Caracaraí, em Roraima, também se inspirava no festival local, “parecido com o de Parintins”, mas em vez de bois, celebrava a cobra e o gavião. A ‘pulguinha da música’, como ela define, foi crescendo: Marília cantava na igreja, em festas regionais, aniversários e qualquer palco que aparecesse. “Cantava em tudo. Nunca ficava de fora de nada”, brinca. A persistência a levou ao The Voice Kids: depois de duas tentativas, conseguiu uma vaga na segunda inscrição. “Na quarta-feira de cinzas me ligaram para uma audição regional. Ensaiei tanto. Escolhi ‘Como Nossos Pais’, da Elis Regina”, conta. Durante o programa, exibido em 2020, experimentou vários estilos, mas sempre voltou ao sertanejo. “É a base de tudo pra mim”, confessa.

Mais do que a infância musical e o esforço de cada trajetória, Bruna Lipiani, Clayton & Romário e Marília Tavares compartilham algo maior: fazem parte de uma nova geração do sertanejo, trazendo um frescor diferente para uma cena tão importante para a cultura brasileira.

Marília Tavares
Marília Tavares ganhou as redes com ‘Palavras de Perdão’ (Divulgação/Warner Music)

Representantes do novo

A virada de chave para Bruna veio em janeiro de 2025, depois de anos vivendo o que ela mesma chama de “monotonia”. “Em 2024 eu tinha um show ou outro, mas nada acontecia. Tudo estava muito parado, e eu sempre fui aposta de BH. Eu ia, fazia meu coverzinho, uma coisinha ou outra, nunca parei… Mas as coisas não andavam na velocidade que eu precisava”, conta. Com o novo ano, decidiu enfrentar suas inseguranças — entre elas, a de cantar diante de milhares de pessoas — e criou um projeto ousado: aparecia de surpresa em barzinhos de Belo Horizonte para soltar uma moda sertaneja. Sempre atenta às trends, registrava as reações do público e postava tudo nas redes. Em pouco tempo, os vídeos viralizaram e seu nome tomou conta dos feeds. “Depois de um ano parada, eu queria muito movimentar as coisas. Pensava: ‘Vai ter que dar certo de alguma forma’. Acho que consegui prender a atenção das pessoas e construir algo diferente com esse projeto”, resume.

A trajetória de Clayton & Romário passou por diferentes rotas: da infância em Goiânia a uma temporada na Espanha, com paradas em Guarapari (ES) e Belo Horizonte. O primeiro DVD saiu em 2009, mas o grande divisor de águas veio apenas em 2020, com o lançamento de “No Churrasco”. Durante a pandemia, seguiram o movimento de outros artistas e mergulharam nas lives, apresentando faixas como “Aí Eu Chorei” e “Água Nos Zói” — que se consolidou como um dos maiores sucessos da dupla. “A gente sempre teve o apoio da rádio, algo que somos apaixonados. Eu costumava dormir com o meu rádio ligado no ouvido”, lembra Romário. A virada seguinte veio no fim de 2024, quando, com o suporte da Warner Music, a dupla fortaleceu sua presença digital. “Ali foi a primeira vez que vimos músicas nossas ganhar força somente com a internet. A gente tem feito nosso trabalho, e o público compra”, diz Clayton, comemorando o alcance de hits como “Opa Cadê Eu?” — uma das mais ouvidas do país no Billboard Brasil Hot 100 — e “Desapaixona Eu”.

Clayton e Romário
Clayton e Romário estão na capa digital da Billboard Brasil (Divulgação/Warner Music)

A força das redes sociais também tomou conta da carreira de Marília. Apesar da exposição no The Voice Kids, exibido na Globo, a artista ainda buscava seu espaço. “Eu comecei a fazer shows em barzinhos, mas logo veio a pandemia, quando parou tudo. Depois que as coisas se acalmaram, voltei a fazer voz e violão e meu nome foi viajando.” Ela resolveu se mudar para Boa Vista, capital de Roraima, para se firmar ainda mais.

Marília sentia que seu estado a acolhia de uma forma muito positiva, mas foi graças às redes sociais e vídeos no TikTok que conseguiu retomar a projeção nacional. “A gente gravava vídeos meus cantando no barzinho e alimentava as redes. O negócio ficou tão grande que uma mulher até descobriu que estava sendo traída pelo marido, porque ele apareceu em uma live minha”, brinca. Aos poucos, a cantora passou a “furar a bolha do algoritmo” com covers de outros artistas. No entanto, foi com o projeto Maturidade, lançado em 2024, que se consolidou como uma das grandes apostas da nova geração do sertanejo, com “Palavras de Perdão” — música que se tornou uma das mais ouvidas do país. A letra, digna de um filme com uma grande reviravolta, caiu no gosto do público e, de repente, os esforços daquela menina que fez de tudo para se tornar cantora começaram a render frutos.

O futuro é agora

Para além do engajamento digital, tão presente e importante na carreira de Bruna, Clayton e Romário e Marília, eles compartilham outras características que têm renovado o sertanejo: levantar no meio da galera em um bar e soltar a voz; lançar parcerias com artistas de diferentes gêneros; e criar músicas com narrativas impactantes, perfeitas para mandar aquela indireta pro ex.

Marília, que vez ou outra é comparada à sua xará Marília Mendonça — sem que isso a incomode — planeja gravar um DVD em Roraima, seu estado natal. A ideia é acrescentar mais uma pitada de inovação ao sertanejo com o projeto “Marília Tavares Session”, que mistura pagodão e outras influências. E, junto ao sucesso que busca, vem também um desejo íntimo: garantir uma vida melhor para a família.

Bruna gravou oficialmente o projeto “Barzin”, previsto para ser lançado na íntegra ainda em 2025. A primeira música, “Pernoite”, é uma colaboração com César Menotti e Fabiano. Com esse trabalho, a cantora busca realizar o sonho de se apresentar no Pedro Leopoldo Rodeo Show, tradicional de Minas Gerais, e também no palco principal do Barretão — considerado terra sagrada para todo cantor sertanejo.

Clayton e Romário seguem colhendo os frutos do DVD “Ao Vivo em Brasília” mas já têm o próximo projeto em mente: uma colaboração com Zé Felipe, aposta da dupla para o verão. “Aprendemos com o tempo a ter persistência e resiliência, a sair de lugares que não estão dando certo e buscar novas oportunidades. Parar não é uma opção”, afirma Romário.

O futuro do sertanejo na capa da Billboard Brasil
Bruna Lipiani, Clayton e Romário e Marília Tavares estrelam capa digital da Billboard Brasil

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