Não deixe o mar te engolir: banda Heavy Metals alerta sobre contaminação nos peixes
Supergrupo de punk e metal alerta sobre a contaminação na vida marinha
Há várias teorias sobre a origem do termo heavy metal: desde que ele teria sido criado nos anos 1930, pelo escritor beat William Burroughs (1914-1997), aos escritos de críticos veteranos do rock, ávidos por usar o termo para classificar uma sonoridade mais pesada do que o rock`n`roll dos anos 1950 e 1970. Uma dessas definições, no entanto, caiu como uma luva para batizar um projeto em apoio à Sea Shepherd Brasil, uma entidade de proteção aos oceanos. Heavy metal faria alusão a metais pesados –mercúrio, por exemplo– que seriam utilizados para “envenenar” a juventude.
O Heavy Metals, por seu turno, é um supergrupo formado por integrantes de bandas de punk e rock pesado para alertar sobre a presença de metais na vida marinha. Rodrigo Lima (vocalista do Dead Fish), Dirk Verbeuren (baterista do Megadeth), Juninho Sangiorgio (baixista do Ratos de Porão) e Iara Bertolaccini (ex-guitarrista do Blastfemme) são os compositores da canção de protesto “Ciclo Metal”. Com um andamento que lembra o cancioneiro punk dos anos 1990, a canção tem versão em português e inglês e ganhou um clipe criado pelo estúdio britânico Fromm.
Os quatro integrantes do Heavy Metals têm uma qualidade musical inegável –todos são referência em seus estilos. Mas o que também chama atenção é o fato de que eles seguem uma espécie de “código de ética” do punk rock –pelo menos obedecido pela maioria– em que a conduta pessoal é tão importante quanto a profissional. Todos os músicos são vegetarianos ou veganos. “Não fazemos um julgamento de valor, mas apontamos para como afetamos o planeta com nossas escolhas. Poluir os mares com químicos, agrotóxicos, esgoto e metais pesados é prejudicial para todo mundo. Idem para a caça predatória. A mensagem é um alerta para todos”, diz Juninho.
O vocalista Rodrigo é um exemplo de como o ecossistema marinho passa por uma situação grave. Chegou a ter problemas de saúde por causa dos mergulhos que deu nas praias do Espírito Santo. Aliás, até o nome de sua banda de origem tem a ver com a causa Dead Fish (nada a ver com a situação pela qual ele passou no mar) significa “peixes mortos”, em português. Um dos vocalistas mais celebrados na cena rock, Rodrigo canta a letra em inglês com sotaque “brasileiro”. Para o cantor, é uma maneira de dar identidade à canção.
De volta ao projeto, o mar não está para peixe, muito menos para os seres humanos Dentre os principais metais pesados encontrados nos mares estão o mercúrio, arsênio, chumbo e bário, que são consumidos por pequenos animais, se tornam alimento para seres maiores e, assim, vão acumulando essas substâncias até chegar à mesa do ser humano, principalmente, se vindos de espécies que são topo de cadeia, portanto, com maior acumulação de contaminantes. Esse é o caso do atum, salmão e o tubarão, que no Brasil consumimos sob o nome de cação. Este movimento de mudança é importante, já que o Brasil é o maior consumidor de tubarão do mundo.
De acordo com estudo indicado pela OMS, a ingestão desses metais pesados pode estar associada ao aumento do risco de câncer e outras complicações no sistema nervoso, endócrino e reprodutivo. A notícia vai na contramão amplamente propagada de que é saudável o consumo de peixe. Segundo a nutricionista, Alessandra Luglio, metais pesados são uma ameaça potencial para a saúde humana. “A ingestão prolongada de arsênio e cádmio pode ocasionar lesões e câncer de pele, danos ao sistema nervoso e doenças no sistema circulatório, enquanto chumbo e mercúrio, quando ingeridos, afetam o sistema nervoso, sobretudo em crianças, bebês e fetos em desenvolvimento”.
“Transmitir essa mensagem como recurso audiovisual é uma maneira de atingir pessoas que talvez nunca tivessem acesso a esse tipo de conscientização. Esperamos que a banda possa fazer com que as pessoas repensem esse tipo de consumo, ou se conectem com outro tipo de iniciativa de proteção do oceano. O mar não foi feito apenas para gerar vida para as pessoas comerem, tem todo um ecossistema de equilíbrio que precisa ser respeitado”, finaliza Juninho.