Você está lendo
Massive Attack e Cavalera Conspiracy se unem por visibilidade indígena

Massive Attack e Cavalera Conspiracy se unem por visibilidade indígena

Max e Iggor Cavalera e Massive Attack fazem show especial no Espaço Unimed

Massive Attack e Cavalera (Reprodução/Instagram)

Nesta quinta-feira (13/11) o Espaço Unimed teve um evento único em resposta à COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) que está ocorrendo em Belém desde o dia 10 de novembro. O metal fundado pelos irmãos Max e Iggor Cavalera se uniu ao grupo britânico Massive Attack, numa apresentação que também contou com o movimento indígena G9 da Amazônia (organizações indígenas de nove países amazônicos).

VEJA TAMBÉM
Sepultura faz show histórico no Lollapalooza 2025 (Reprodução Multishow)

“A Resposta Somos Nós” é não só o nome desse mini festival, mas o jargão que faz parte desse movimento de união indígena em apoio às demandas sobre o clima, demarcação de terras indígenas e reconhecimento cultural.

Fato é que, as duas bandas que tocaram, mesmo com ideais semelhantes, têm sons e públicos bem distintos. De um lado os irmãos Cavalera, fundadores do Sepultura mesmo que tenham flertado com mixagens e samples no final dos anos 1990 nunca deixaram totalmente o lado de heavy metal extremo.

E de outro temos o Massive Attack que é uma banda mais minimalista, com um grande telão que mostra desde sátiras surreais como memes da internet ao lado da imagens de líderes mundiais, macacos jogando videogame com microchips na cabeça e até mesmo usando reconhecimento facial para “catalogar” a platéia no telão.

Como foi o show do Massive Attack com Cavalera Conspiracy

Os irmãos tocaram o clássico do Sepultura, Chaos A.D (1993), praticamente na íntegra. Entraram sem muito alarde ao som da introdução do álbum, que é um remix do ultra som das batidas do coração de Zyon, filho de Max com a empresária Glória Cavalera, mesclando com a introdução de Refuse/Resist.

O show começou um pouco morno. Havia uma clara distinção na platéia de quem estava para ver os britânicos e quem queria ver a dupla de irmãos mineiros: Max (vocal e guitarra) e Iggor Cavalera (bateria), que tocaram ao lado do filho de Max, Igor Amadeus Cavalera (baixo) e Travis Stone (guitarra solo).

Max Cavalera, no entanto, virou o jogo. Com muita energia e animando a platéia, fazendo o público bater palma, berrar junto, pular e, claro, se estapear ao som de “Biotech Is Godzilla”, “Nomad” e “Territory”. Afinal, como ele mesmo disse:

“Abre a roda aí que isso daqui é um show de metal, porra!”

Os Cavaleras sempre tiveram um pé no ativismo. Principalmente com os últimos dois álbuns quando ainda integravam o Sepultura –  “Chaos A.D.” e o “Roots” (1996),  que tinham letras co-escritas com Jello Biafra (Dead Kennedys). Caso de “Biotech”, que falava sobre uma  área da cidade de Cubatão que foi “apelidada” popularmente como “Vale da Morte” dada à alta incidência de doenças respiratórias, chuvas ácidas, céu amarelado e o nascimento de bebês com anencefalia. Ou a música “Manifest” que fala sobre o massacre do Carandiru, que aconteceu em 1992 e vitimou mais de 118 presos na rebelião que tomou de assalto aquele presídio.

O Cavalera Conspiracy driblou o tempo limitado, tocando “Chaos A.D.” na íntegra. Além disso, IIggor fez um solo de bateria na música “Itsári” (que tem participação do canto da tribo indígena Xavantes do Mato Grosso). O grupo tocou ainda  uma versão acelerada de “Roots Bloody Roots”.

No hiato entre os dois shows houve os depoimentos emocionantes na parte do movimento de visibilidade à causa indígena, com os discursos de representantes de tribos de todo o país:  Dinamam Tuxá, Luana Kaingang, Alana Manchineri e Ângela Kaxuyana fizeram do palco um palanque político e pedindo apoio da causa anti-desmatamento e de demarcação de terras.

Após isso, o telão emitiu a mensagem: “Nós somos o som do seu mundo ruindo, aumente o volume” em cores vermelho-sangue. 

Massive Attack entrou no palco liderados por Robert Del Naja (3D) e Grant “Daddy G”,  com um jogo de luz e telões que mostram vídeos diversos que vão desde o filme “Orfeu” do surrealista francês Jean Cocteau, memes virais de internet e até a cabeça de cera do presidente russo Vladimir Putin. 

Há um outro momento clássico nesta turnê do telão: “catalogar” rostos da platéia com reconhecimento facial durante a música “Girl I Love You”, cantada pelo jamaicano Horace Andy. 

O cantor também voltou no meio do set para tocar a clássica “Angel” com um palco praticamente um breu com exceção da luz sob ele.

Outros destaques da noite foram da cantora Deborah Miller que participou da “Safe From Harm” e “Unfinished Sympathy”, originalmente cantada pela inglesa Shara Nelson

Mas o ponto mais alto foi a cantora escocesa Elizabeth Fraser. Fundadora da banda de dream pop Cocteau Twins, ela  havia participado do álbum Mezzanine do Massive Attack (1998) e cantou, angelicalmente, “Black Milk”, “Song of The Siren”, “Group Four / In My Mind” e encerrando o show com “Teardrop”.

Elizabeth, timidamente tomava conta do palco com sorrisos envergonhados com a platéia que não parava de jogar charme para a senhorinha de 62 anos.

O show do dia 13 em São Paulo no Espaço Unimed foi muito mais que uma apresentação musical: foi um encontro de gerações, estilos e lutas. De um lado a bagagem pesada e visceral dos Cavalera, de outro a sofisticação atmosférica da Massive Attack, e no meio disso tudo, a presença real e simbólica dos povos indígenas e de uma causa maior: a resposta somos nós.

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.