Lô Borges é homenageado por Beto Guedes no Festival Marazul
Evento acontece há quatro edições no bairro onde a dupla morou com Milton
No primeiro show que apresentou após a morte de Lô Borges, Beto Guedes fez uma bela homenagem a seu melhor amigo e primeiro parceiro musical. Fechando a programação da quarta edição do Festival Marazul, realizado sábado (8) e domingo (09) na Praia de Piratininga, em Niterói, o músico mineiro cantou “Paisagem da Janela” (Lô Borges / Fernando Brant), jogou para a plateia uma camiseta com Lô estampado junto ao nome do festival e arrancou lágrimas dos fãs durante o “Viva Lô!”.
Desde 2022, o Marazul vem celebrando a história do Clube da Esquina com Niterói, mesclando sempre shows de uma atração oriunda de Minas Gerais com outros nomes da MPB. Na primeira edição, Lô Borges foi quem abriu a programação. Em 2023, Flávio Venturini foi o destaque mineiro e, em 2024, a banda 14 Bis.
“É sempre bom voltar a Niterói, porque aqui tem aquela história do começo do Clube da Esquina que já é conhecida. A gente ficou alguns meses aqui (em 1971) produzindo o álbum e isso me deixou muito ligado à cidade. Depois do disco feito, eu voltei várias vezes para tocar. E a foto da capa do meu disco ‘Amor de Índio’ (1978) foi tirada na janela da casa em que moramos, quando ainda estávamos lá”, contou Beto, antes de subir ao palco.
Beto Guedes foi um coadjuvante de luxo na história do álbum lançado por Milton Nascimento e Lô Borges em 1972. Sua vinda de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro e, em seguida, para Niterói – onde morou com Lô e Milton – foi uma condição imposta pelo melhor amigo quando Bituca o convidou para gravar o disco com ele. Durante a temporada que passaram em Marazul – nome de um dos loteamentos da praia de Piratininga, onde a casa está até hoje – o trio recebeu visitas dos compositores Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e de tantos outros músicos que acabaram participando, como Beto, tocando no projeto de Milton e Lô.
“Eu conheci o Lô com 11 anos, a gente praticamente estava se formando e se entendendo como pessoas. É uma coisa muito profunda. E eu que fui condicionado a procurar um nome parecido com Beatles para nossa banda. ‘Beavers’ pegou. Aí começamos a tocar nos festivais estaduais, fizemos uma música juntos, ‘Equatorial’ (Lô, Beto e Márcio Borges), e Lô quis me trazer porque ele sacou que, se viesse sem mim, ia acabar no meio de jazzistas, que era a galera do Som Imaginário que tocava com Milton. Lô quis trazer um cara do rock, e eu era um beatle: tocava tudo o que os Beatles tocavam igualzinho. Então, eu vim para tocar como um britânico e não como um americano, jazzista”, relembrou Beto.
A turma do Som Imaginário foi uma das atrações da primeira edição do Marazul, em 2022, ano em que o Clube da Esquina completou 50 anos e ocasião em que Lô, Beto, Márcio Borges, Wagner Tiso e Toninho Horta ganharam títulos de cidadãos niteroienses pelas mãos do então vereador Marcos Sabino e do então prefeito Axel Grael. Criador e produtor do Festival Marazul, o (antes de tudo) músico Marcos Sabino – quem não se lembra de seu grande hit, “Reluz”, sucesso de 1982? – contou que Lô queria participar desta edição do festival, mas não pôde se comprometer com a agenda devido ao trabalho que estava para lançar junto a Zeca Baleiro.
“Quando eu tive a ideia de fazer um evento que homenageasse a história do Clube da Esquina, em 2022, fiz logo contato com o Lô, que prontamente aceitou. E aquela edição foi especial porque permitiu a primeira reunião de vários dos músicos do Som Imaginário em um palco em mais de 20 anos. Uns dois meses atrás, Lô me ligou e disse que queria voltar ao Marazul, mas não ia poder por causa do seu novo trabalho. Mas ele ainda falou: ‘Se eu estiver no Rio, eu vou ao show do Beto’. Fiquei muito triste quando soube que ele tinha falecido”, declarou Marcos Sabino.
Pelo menos deu tempo de preparar homenagens para ele… Além do tributo de Beto, a cantora Simone também reverenciou Lô em seu show, no sábado, assim como a Orquestra de Sopro do Aprendiz Musical (projeto da Prefeitura voltado para o ensino de música para crianças e adolescentes da rede municipal) fez, na abertura do domingo. No Tributo a Erasmo Carlos que rolou no sábado (8) com Sabino e o guitarrista Rick Ferreira à frente, a produção exibiu um vídeo no telão com um depoimento de Lô durante sua participação no Marazul de 2022.

“Oi, pessoal! Tô muito feliz de voltar a Piratininga, Niterói, Marazul, lugar tão importante na minha formação como compositor do Clube da Esquina. Morei aqui quando eu tinha 20 anos de idade, com Milton e Beto Guedes, e fiz muitas coisas. É um lugar que sempre me inspirou. Sempre gostei muito de Niterói, Piratininga, e sobretudo de Marazul, que era nosso reduto, onde a gente ficava tomando banho de mar, compondo.”
No camarim, Beto se emocionou ao contar como foi a despedida do amigo:n“Nosso último encontro foi no último show que a gente fez, eu, Lô e Flávio Venturini, em Tiradentes, em julho. A gente vinha fazendo esse show juntos. Eu estava em Belo Horizonte quando soube da notícia. Fiquei chateado porque eu nunca vou a velório. Fui lá para ver dar um abraço no Telo Borges. Eu vi muitas flores e achei que o Lô não estava ali. Quando cheguei perto do Telo para me despedir, corri o olho e vi o Lô. Eu não queria ter essa imagem… Lô foi certamente um dos meus melhores amigos.”
Em seu show, Beto levou ao palco grandes sucessos, como “Feira Moderna” (Fernando Brant / Beto Guedes / Lô Borges), “Nascente” (Flávio Venturini / Murilo Antunes) e, de Beto Guedes com o niteroiense Ronaldo Bastos, “Gabriel”, “Lumiar” e “Amor de Índio”. Ele tocou acompanhado de uma super banda, usando uma das guitarras coloridas que ele mesmo construiu. Luthier nas horas vagas, Beto já está planejando uma linha em homenagem ao melhor amigo.
A história do Clube da Esquina está escrita através de depoimentos dos músicos envolvidos no livro “De Tudo Se Faz Canção: 50 Anos do Clube da Esquina”, organizado por essa que vos escreve e Márcio Borges e lançado em 2022, logo após o primeiro Marazul.








