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Kevin O Chris apresenta nova fase no funk nostalgia de ‘Voltmix’

Kevin O Chris apresenta nova fase no funk nostalgia de ‘Voltmix’

Artista lança álbum inspirado em batida clássica do funk

Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)

Kevin O Chris está de volta com novo álbum, que será lançado nesta sexta-feira (18).  Em “Voltmix”, o cantor, compositor e produtor de Duque de Caxias propõe uma reinterpretação moderna de uma das batidas mais clássicas do funk carioca, que marcou os bailes de corredor a partir do final dos anos 1980.

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Origem do “Voltmix”

Em 1988, o DJ norte-americano Battery Brain lançou o single “8 Volt Mix”, que mudaria para sempre a história do funk carioca. No lado B, o disco traz o remix “808 Beatapella Volt Mix”, faixa que serviu de base para diversos clássicos do estilo musical, como “Cerol Na Mão”, do Bonde do Tigrão, “Rap do Solitário”, do MC Marcinho, “Nosso Sonho”, do Claudinho e Buchecha e “Rap das Crianças”, do MC William e MC Duda.

A história conta que a batida chegou ao Brasil pelas mãos de Carlos Machado, o DJ Nazz. Na década de 1980, o artista costumava viajar ao exterior para comprar discos indisponíveis no país que eram revendidos no Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro. Em uma de suas viagens, o produtor trouxe na bagagem o single do DJ Battery Brain, que caiu no gosto dos adeptos do funk carioca.

Embora a nostalgia tenha sido o ponto de partida para a estética do álbum, Kevin O Chris não se limitou a reproduzir a batida de forma idêntica à que o DJ Battery Brain lançou em 1988, como acontece em alguns hinos do funk noventista. Gravado em um período de cerca de um mês na “Cápsula do Tempo”, um estúdio montado em uma cabine acústica improvisada no apartamento em que o artista está morando no Recreio dos Bandeirantes, enquanto sua casa é reformada, “Voltmix” recria o ritmo clássico com texturas contemporâneas.

Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)
Voltmix propõe uma reinterpretação moderna de uma das batidas mais clássicas do funk carioca (@raphaurjais/Divulgação)

Kevin conta como a história do disco começou: “Eu estava mexendo no computador e achei uns beats de volt mix. Isso me bateu uma nostalgia, uma vontade de fazer algo com esse estilo para relembrar essa época. As batidas da antiga são as raízes, estão na memória da galera. Eu penso que conseguir chegar mais longe com elas, trazer elas para o contexto atual, faz com que a história do funk seja mais respeitada”.

Para trazer frescor ao volt mix, Kevin trouxe timbres e texturas que dialogam com produções da música contemporânea, sem descartar as raízes da batida. O cantor considera seu processo criativo bastante espontâneo, e fala da produção do disco: “Eu amo o que eu faço, então pra mim é muito fácil criar no estúdio. Surge um tom, depois um sample, uma batida e com essa ideia já vou pensando em alguma coisa. Flui de forma muito natural. Inclui sequências de acordes mais quadradas, com no máximo quatro notas e misturei sons de pads que são muito usados hoje com a sonoridade característica dos anos 1980 e 1990”. 

Funk e inteligência artificial

Atento às tecnologias, Kevin O Chris trouxe um feat inusitado para o disco. A partir de uma ferramenta de inteligência artificial, o cantor recriou sua voz com timbre feminino para duas faixas do álbum: “O Dennis DJ me apresentou uma IA que transforma vozes, aí eu cantei e transformei minha voz em um canto feminino, que pode ser ouvido nas músicas ‘Pra Vida Inteira’ e ‘Sei Que Tá A Fim’”. Em tom de humor, o artista completou a declaração: “É bom que não preciso pagar direitos autorais para ninguém”.

Gravação do clipe

Para acompanhar o álbum, Kevin o Chris gravou uma série de vídeos para ilustrar as canções de Voltmix nas redes sociais. Para a gravação dos clipes, o artista mobilizou uma equipe de 60 pessoas que se reuniu no morro Santo Amaro, localizado no bairro do Catete, no dia 14 de maio. O time incluiu maquiadores, figurinistas, operadores de câmera, montadores de cenário e artistas visuais, além de oito dançarinos.

No dia das gravações, o trabalho de produção começou ainda pela manhã, com a preparação dos bastidores que incluíram a montagem dos cenários, preparação dos equipamentos de captação audiovisual e maquiagem das atrizes e atores dos vídeos. Kevin subiu para o Santo Amaro por volta das 14h30. 

Tímido, o cantor chegou dando boa tarde à equipe e foi almoçar. Depois, seguiu para a escolha de figurino e às 15h30 já havia concedido entrevista à Billboard e se arrumado para o registro do primeiro vídeo. Entre os dez figurinos disponíveis, o artista escolheu uma regata preta com “Errejota 021” escrito em branco para o primeiro registro.

Apesar da timidez, Kevin revelou que estava muito animado: “Meu coração está explodindo. Hoje vai ser um dia muito incrível, que marca uma transição no meu trabalho. Estou colocando minha alma inteira nesse projeto, tudo o que eu acredito, e vai dar certo. Tô muito feliz de poder mudar de fase”.

Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)
Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)

As gravações na comunidade foram feitas em cinco locações, incluindo bares, a quadra onde é realizado o tradicional baile funk do Santo Amaro, uma praça e uma pista de skate recém-inaugurada, usada como cenário de clipe pela primeira vez. Sobre a escolha do local dos registros, Kevin comenta: “Foram as meninas que escolheram, tanto a lista das músicas como a locação. Eu já vim ao baile do Santo Amaro, ele é gostosinho. Vamos gravar o clipe aqui, quem sabe se ele explodir a gente não faz uma ação social para dar uma ajuda para a comunidade?”.

Quando fala sobre “as meninas”, Kevin se refere à Camila Simonato e Yasmin Mattos, respectivamente, label manager e gerente de marketing do artista. Como o próprio cantor revela, as profissionais desempenham papel fundamental em seu cotidiano e carreira, incluindo suas tomadas de decisões.

Sobre a escolha da locação, Yasmin revela: “O Kevin é um artista com preocupação social e se sente muito em casa gravando nas comunidades. Quando fizemos o clipe da música ‘Mina Não Importa a Sua Idade’, na Cidade de Deus, ficou lotado de crianças em volta acompanhando, e ele pediu para a produção comprar lanche pra galera toda. A garotada ficou muito feliz, e agradeceram dizendo: ‘Obrigado, Tio Kevin!’”.

Já Camila comenta sobre a escolha do repertório do disco e a estratégia de divulgação das canções: “Uns dias atrás eu estava conversando com o Kevin sobre o álbum e falamos que esse disco está bem leve. Só tem um palavrão e mesmo assim ele estava querendo tirar antes do lançamento. Pretendemos trabalhar as músicas nas rádios, é um disco que tem essa leveza, ele vem para preencher uma lacuna do funk mais romântico, que hoje não está com tanta evidência”.

Sobre essa leveza e a temática das letras de Voltmix, Kevin comenta: “Tô ficando velho, né cara? A gente vai vendo, já tenho um filho, e as letras falam muito do que estou vivendo agora, uma calmaria diferente, e certamente algo que vem de dentro de mim. Estou cantando exatamente o que estou sentindo. Todo artista tem que amadurecer, seja na escrita ou musicalmente, e pra mim não foi diferente. Já tô há mais de quinze anos no funk, alguma hora tinha que vir essa vontade de fazer algo diferente, de me reinventar. É uma atualização no som e nas letras e acredito que o meu público amadureceu junto comigo. Também acho que, além deles, vou conquistar muitas outras pessoas com esse álbum”.

O repertório de Voltmix inclui cinco faixas: “Cinderela”, “Nem Se Eu Pudesse”, “Pra Vida Inteira”, “Sei Que Tá A Fim” e “Cria do Mergulho” que totalizam 14 minutos de duração. Todas serão lançadas também em vídeo, sendo a faixa 4 a escolhida como carro-chefe do álbum.

Em “Sei Que Tá A Fim”, a letra fala sobre os desencontros de um casal em uma batida onde o volt mix e o tamborzão se encontram. Kevin conta que a composição surgiu de forma espontânea: “É uma música dançante, fala de um lance que muita gente já viveu, de marcar com uma pessoa e o encontro não rolar. Nas minhas composições eu conto histórias que acontecem na vida de todo mundo, por isso que as pessoas se identificam com a letra”.

O diretor dos vídeos, Rômulo Menescal, da LordBull Filmes, revela que “Sei Que Tá A Fim” teve um roteiro criado em formato diferente em relação às outras faixas: “Desenhamos uma história completa para ela. As outras tem cenas específicas que podem ser usadas em loop e funcionar melhor em um visualizer. Passam um pouco pela letra, pelo universo do álbum, mas não tem o formato de começo, meio e fim. Nesse EP o Kevin trouxe elementos do funk das antigas, e isso para mim é muito prazeroso. Eu vivenciei essa época, ia para os bailes de corredor, então quando recebi as músicas fiquei muito eufórico. Pegar um cara dessa geração de agora e brincar com essa estética do passado é ouro pra gente que produz vídeo”.

Quem assina a coreografia do clipe é Alline Azev que, no dia das gravações, havia recém-chegado de Londres, onde estava ministrando uma série de workshops. Para o vídeo, a coreógrafa conta que optou por incluir uma série de passos fáceis para o público reproduzir: “A gente passa hoje por um mercado de dança muito focado nas redes sociais, mas pensei em fazer algo que fugisse daquele clichê do Tik Tok. Eu também quis trazer algo que remetesse aos bailes dos anos 1990, mãozinha no alto, cerol na mão. Tá bem fácil, é para todo mundo dançar”.

Voltmix chega às plataformas de streaming em 18 de julho. Ansioso pelo lançamento do disco, Kevin reflete sobre a obra: “Esse álbum toca na minha alma principalmente como uma nova etapa na minha carreira, uma mudança de fase. É um trabalho que sinto que vai reverberar por um bom tempo, se não vai ser atemporal”. 

Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)
Kevin O Cris (@raphaurjais/Divulgação)

Leia a crítica de “Voltmix” de Kevin O Chris

A paixão do MC Kevin O Chris pelas raízes do funk carioca não é novidade. Ao longo de sua obra, o artista foi de encontro a elementos clássicos do estilo musical em diversos momentos, com maior ênfase no disco “Tamborzão Raiz” (2022). Agora chega a vez do cantor usar o volt mix como base para seu novo álbum, que chega às plataformas digitais em 20 de junho e tem a batida marcante da década de 1990 como título.

Lançada em 1988 através do single “8 Volt Mix”, do DJ norte-americano Battery Brain, a batida caiu no gosto do público e dos artistas do funk carioca quando o remix “808 Beatapella Volt Mix”, incluso no disco, começou a ser usado como base pelos produtores em faixas clássicas como “Nosso Sonho”, do Claudinho e Buchecha e “Cerol Na Mão”, do Bonde do Tigrão.

Em Voltmix, o cantor, compositor e produtor de Duque de Caxias não se limitou a reproduzir de forma idêntica a batida que dominou os bailes de corredor, como acontece em alguns hinos do funk noventista. Embora o beat nostálgico seja o ponto de partida, Kevin O Chris adiciona à divisão rítmica característica do gênero elementos contemporâneos, como timbres de baterias eletrônicas, pads e leads de sintetizador que estão em alta no mercado, o ajuste de tom na voz (auto tune) como elemento estético e até o uso de inteligência artificial para criar uma versão feminina de sua voz. Outra característica da obra é o encontro de samples de tamborzão com a batida do volt mix.

O álbum possui curta duração, de apenas 14 minutos. Com cinco faixas, o repertório traz letras leves, que pretendem abranger um público maior, incluído o das rádios. Na música de abertura, a “Cinderela” sai do conto de fadas e troca o sapatinho de cristal por um tênis Nike. Em “Nem Se Eu Pudesse”, o compositor exalta o Rio de Janeiro, declarando que o amor pela cidade é mais forte do que por um relacionamento que chegou ao fim. “Pra Vida Inteira” tem o gosto de um clássico do funk melody com tempero contemporâneo. Carro-chefe do disco, “Sei Que Tá A Fim” fala dos desencontros de um casal e da vontade de simplificar uma relação. Por último, em “Cria do Mergulho” canta o orgulho por suas raízes em Duque de Caxias.

Representando, segundo o artista, uma nova fase de sua obra, Voltmix acerta em ser mais que um tributo ao beat clássico do funk noventista. Com o disco, Kevin O Chris traz frescor ao ritmo que conquistou os bailes de corredor e atualiza também o romantismo inocente característico das letras da época. Com uma batida envolvente e melodias contagiantes, é um álbum para dançar e cantar junto.

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