Gene Simmons, do Kiss: ‘Só deixarei de tocar ao vivo no dia em que morrer’
Líder da banda estreia projeto solo em apresentação no festival Summer Breeze
No dia 2 de dezembro de 2023, o quarteto americano de hard rock Kiss, um dos maiores fenômenos culturais da história, encerrou cinco décadas de carreira com uma apresentação no Madison Square Garden, em Nova York. Mas Gene Simmons, baixista, vocalista e cérebro financeiro do grupo, não quis saber de aposentadoria: dois dias depois da despedida, ele se trancafiou com uma turma de fãs no estúdio Electric Lady, também em Nova York, a fim de relatar fatos importantes da sua história musical e fazer uma versão de “Rock and Roll All Nite” pelo “módico valor” de US$ 5 mil por cabeça.
A sede de palco –que define como “o maior prazer de sua vida”– aliada a um talento incomum para fazer dinheiro também fez com que o baixista ressuscitasse a Gene Simmons Band. No projeto, livre da máscara e da pesadíssima indumentária dos tempos de Kiss, ele se une a veteranos dos estúdios para interpretar canções de sua banda, da carreira solo, e clássicos do rock. É com esse combo que Simmons faz uma única apresentação hoje, dia 26 de abril, em São Paulo, no Summer Breeze Festival. “Os responsáveis pelo festival insistiram e não pude dizer não”, diz ele, em entrevista à Billboard Brasil. “Mas só deixarei de tocar no dia em que morrer.”
Nascido na cidade de Haifa, em Israel, há 74 anos, Chaim Witz (seu nome de batismo) é de uma perseverança e senso de oportunidade incomuns. Tinha oito anos quando emigrou com a mãe para os Estados Unidos e mal sabia balbuciar algumas palavras em inglês. Aprendeu na marra e de tanto sofrer bullying por parte dos outros alunos.
Durante a adolescência, Chaim mudou seu nome para Eugene Klein e decidiu seguir pela música quando assistiu aos Beatles na histórica apresentação no programa de Ed Sullivan. Um dos motivos, segundo ele em entrevistas anteriores, foi porque as meninas eram doidas pelo quarteto inglês. Mas, dessa vez, o baixista preferiu uma resposta mais filosófica. “Foi a primeira banda a me fazer querer estar numa banda intensamente.”
E bota intensamente nisso. O Kiss, formado no início dos anos 1970 por Gene (que adotou o sobrenome Simmons), pelo guitarrista e vocalista Stanley Eisen (Paul Stanley), pelo guitarrista Paul Frehley (Ace Frehley) e pelo baterista Peter Crisscuola (Peter Criss), deu um novo sopro para o rock daquele período. Cada um tinha uma persona e muitas vezes adotavam poderes especiais. Gene, por exemplo, cuspia sangue e fogo, atos de acordo com sua personalidade, a de um demônio.
O Kiss vendeu 100 milhões de discos no mundo inteiro e elevou o padrão das apresentações –afinal, aquela parafernália era fruto de anos de experiência. “A gente fez o espectador sentir que o dinheiro gasto no ingresso valeu a pena. Shows custam caro, sempre nos preocupamos em fazer o melhor no palco”, diz. O instrumentista confessa que estudou cada banda dos anos 1960 para criar a receita ideal de música para ele e seus amigos mascarados. “Eu vi todos os shows e anotei quais as qualidades que eu deveria assimilar.”
Os caminhos, porém, nem sempre foram tranquilos. Peter e Ace foram demitidos por consumirem álcool e drogas em excesso e a queda de popularidade fez com que eles largassem o visual mascarado de 1983 a 1996. Mais problemas? O baterista substituto Eric Carr morreu em decorrência de complicações causadas por um câncer no coração e nos pulmões. Peter e Ace retornaram em 1996, somente para provar que não tinham superado os antigos vícios e foram sumariamente demitidos. “A banda não pode ter álcool, drogas ou mesmo cigarro. Você tem de se portar como uma atleta às vésperas de uma competição olímpica”, teoriza Gene.
O amor pelo rock’n’roll é acompanhado por uma paixão por ganhar dinheiro. Gene se meteu em vários negócios relacionados à marca Kiss. Alguns deles, bem estapafúrdios: como criar uma linha de caixões customizados, que fariam o defunto passar a eternidade escutando os álbuns do quarteto. Atualmente, tem uma rede de lanchonetes e se arrisca como produtor de cinema. Em agosto, chega às telas “Deep Water”, thriller estrelado por Ben Kingsley e Aaron Eckhart, no qual um avião cai num mar infestado de tubarões.
Em 2011, Gene finalmente casou-se com Shannon Tweed, estrela de filmes adultos e que deu a ele o casal Nick e Sophie, hoje com 35 e 31 anos. O sujeito que certa vez alegou ter feito sexo com mais de 5 mil mulheres admite ter assentado o facho de vez. “A aids tornou a vida do rockstar muito difícil. E depois… sinto te dizer isso, meu amigo, mas a idade chega para todo mundo. Você aos 70 anos não terá a mesma disposição de décadas atrás.”
A origem judaica do músico atrai a inevitável pergunta sobre os conflitos em Gaza. “Eu acho que tudo é uma questão de tempo e de conversa. Os japoneses e alemães lutaram contra os EUA na Segunda Guerra e hoje são aliados. Tenho esperança numa solução civilizada.”