Gabriel O Pensador conta os segredos do DVD ‘acústico com pegada e beat’
Leia a entrevista exclusiva com o rapper
O multifacetado Gabriel O Pensador é chamado de “pai’ por parte da nova geração de fãs e também por artistas do rap. Ele conta isso em um papo exclusivo à Billboard Brasil de forma bem humorada.
“A molecada adolescente me chama de “pai”, “paizão”, num jeito carinhoso, muito nas redes, TikTok e tal”, conta Gabriel entre risadas.
No papo, ele fala do seu mais novo projeto, a gravação do DVD que celebra 33 anos de carreira no formato acústico. O show terá 10 convidados para relembrar grandes sucessos do rapper e apresentar três músicas inéditas no dia 03 de dezembro na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio de Janeiro.
O DJ, beatmaker e produtor musical Papatinho acaba de ser confirmado para a gravação e se junta aos outros convidados do show, que conta ainda com Mano Brown, Lulu Santos, Armandinho, MV Bill, Cidade Negra, Rael, Ventania, Negra Li e Xamã.
No repertório, hits de que atravessaram décadas como “Retrato de um Playboy”, “Racismo é burrice”, “2345meia78”, “Cachimbo da Paz” ,“Astronauta” e “Até Quando?”, além de hits mais recentes, como “Solitário Surfista”, “Linhas Tortas”, “Fé na Luta”, “Chega”, e a vencedora do Grammy Latino 2024 “Cachimbo da paz 2”.
Gabriel conta na entrevista os momentos que fazem ele sempre se reinventar e ter fôlego para novas ideias junto de pessoas queridas como o baixista Ciro Cruz que derrotou uma leucemia e da noiva Gabriela Vicente, que ele pediu em casamento durante um show de Armandinho em dezembro de 2024. Agora, o cantor gaúcho é um dos convidados na gravação do DVD do rapper.

Confira a entrevista de Gabriel O Pensador à Billboard Brasil
Salve, Gabriel. É um prazer falar contigo. O DVD de 33 anos é um acústico, um formato curioso porque ele é festivo, mas também intimista. Por que a escolha por um acústico?
Valeu, Alexandre. Prazer também. Olha, eu quis um acústico porque ele permite detalhamento musical, novas harmonias e arranjos em músicas que já existem, trazendo um lado emocionante e delicado, mas sem perder energia. Nosso acústico não é “suavezinho”. É um acústico com pegada e beat: a banda toca em pé, a atitude de show continua, só mais organizada. Tem o momento “super acústico”, com todos sentados e o baterista no cajón, mas o projeto mantém beats, peso e a “minha onda” de sorrir e agitar. Isso acompanha a característica do meu trabalho desde o início, de misturar gêneros, melodias e convidar artistas diferentes. O repertório traz músicas já conhecidas como “Para Onde Vai” e algumas faixas inéditas, com sopros e melodias, sempre mantendo essa energia festiva.
Alguma música do repertório fazia tempo que você não tocava e pensou: “Vou trazer especialmente para esse trabalho acústico”? E por quê?
Olha, com a sua pergunta eu lembrei de “Se Liga Aí”, que quase não entrava nos shows e era um ‘coringa’. Ela é pra frente, cheia de hits marcantes, e acabou indo direto para o “super acústico”, só com dois violões, num jeito novo que eu adorei. Também trouxe “Tás a Ver”, que eu quase só canto fora do Brasil, em Portugal, Angola ou Europa, porque fala de distância e semelhanças culturais. No Brasil, ela quase nunca entra no show, mas agora vai aparecer nessa parte mais suave do acústico. Essas escolhas matam a saudade e colocam músicas menos óbvias em evidência para as novas gerações, trazendo canções que estavam “escondidas” de volta para a luz.
Como foi o critério para escolher as participações especiais, Gabriel? Gostaria que você contasse um pouco da ligação que você tem com cada um.
Chamei artistas com quem tenho ligação musical e afetiva. O Xamã, por exemplo, tem a história de ter feito “O Cachimbo da Paz” na escola e diz que é “Gabriel o Pensador desde a sexta série”. Hoje está consolidado no rap.
Tem gente que veio antes de mim, como o Lulu Santos, que eu já admirava e virou amigo e parceiro.
Ventania entra pela vibe sincera e pela energia boa, alguém de quem eu gosto como pessoa, sabe? O MV Bill é amigo de longa data, um cara verdadeiro, assim como todos que convidei: gente que trabalha com alma e sinceridade.
O Armandinho trouxe “Liberdade”, que batizou meu último álbum, e ainda tem o lado afetivo da Fundição Progresso, onde pedi minha noiva em casamento durante um show dele. Faz todo sentido ele estar conosco agora.
Cidade Negra faz parte da minha história desde a primeira gravadora, desde “Retrato de um Playboy” e “Mucama”, e das nossas peladas de futebol e muitas resenhas. A Negra Li já gravou comigo e agora vem em outra faixa; para mim, ela é nossa “Lauryn Hill”, canta, rima e é versátil.
O Rael é outro que admiro muito, forte no rap, no reggae e na escrita; acompanhei o crescimento dele desde que nos conhecemos num festival. No fim, o critério foi simples: vozes, personalidades e pessoas que admiro como artistas e como gente.
(Papatinho ainda não tinha sido confirmado no momento da conversa com a Billboard Brasil).
Após décadas de trabalho e pioneirismos, você se sente abraçado pela galera do rap?
Eu sinto muito carinho, tanto dos artistas quanto do público. A molecada me chama de “pai”, “paizão”, com afeto nas redes. Quando o trap, o 1Kilo e os “Poesia Acústica” ganharam força, eu já sentia respeito dessa galera nos bastidores, e sempre fiz questão de incentivar. Lá no começo, ao chegar em São Paulo com minhas letras, fui muito bem recebido, mesmo com a polêmica de “Eu Matei o Presidente”. Eu mostrava respeito por quem veio antes e sempre deixei claro que aquilo era um movimento coletivo, levando outros rappers comigo na TV. Discos como o de 1993 e “Quebra-Cabeça”, em 1997, abriram portas para o rap nas rádios e gravadoras. Sinto que ajudei a aproximar o rap de quem nem sabia o que era o gênero.
E o que anda instigando o Gabriel O Pensador a escrever hoje? Portugal, o amor, as indignações… O que te move mais agora?
Eu escrevo o tempo todo, em fases mais intensas e outras de mais observação. Na pandemia, escrevi muito. Hoje nem sempre lanço tudo; às vezes escrevo só para mim e guardo para os momentos certos. Não sigo um tema único: posso falar de amor, surf, amizade, coisas inspiradoras, e também de indignação, protestos, angústias pessoais, temas sociais ou do mundo. Meu trabalho sempre foi livre, sem regras rígidas.
Você consegue definir uma marca pessoal após esse tempo de estrada?
Acho que deixo muito essa ideia de tirar as pessoas da alienação, estimular pensamento próprio, não seguir modas ou sistemas cegamente. Desde músicas como “Retrato de um Playboy” e “Loura Burra”, esse sempre foi meu norte: liberdade de expressão e consciência crítica.
Tem uma música que eu gosto muito, que vai entrar no projeto, chamada “Boca Seca”, que parece mais abstrata, mais profunda, mas no fundo tem esse mesmo motivo. No final da letra eu falo:
“O mundo é mesmo de imagem,
e a verdade é tão nojenta que a gente inventa miragens
na nossa massa cinzenta, manipulando as imagens
o mundo nos alimenta
de imagens falsas que a massa aceita, abraça e sustenta,
e segue como uma seita de cegos que se contenta
com a fé que afaga o seu ego no fogo da morte lenta,
e haja spray de pimenta para quem não entra no jogo,
a fé do cego é na imagem, na cor, no slogan e no logo,
se você vê diferente vão te tratar feito louco,
tentando tirar teu foco para te fazer ficar fraco.
Não me contento com pouco, mas não preciso de muito
para ler pequenos assuntos na luz do meu microscópio.
Às vezes eu penso grande, a consciência se expande,
como se eu fosse uma onda migrando em seu rumo próprio.
Eu sou mar e uma outra gota, sou eterno e sou um instante,
cada fração de segundo que torna o tempo constante.
Procuro ser como a água, seguindo puro e fluindo,
contando para cada gota que toda gota é gigante.”
Esse final resume muito do que quero passar: que cada pessoa é gigante e precisa acreditar na própria voz e no próprio brilho.
Qual momento da carreira te marcou e faz pensar: “Valeu as minhas escolhas no caminho”?
Sou muito emotivo. Quase todo show me arrepia. Os momentos que mais marcam são os detalhes: o público cantando junto, grupos de amigos abraçados, pais com filhos no ombro, pessoas chorando ou sorrindo com intensidade. Quando canto músicas sobre meu pai ou sobre amizade, sinto a carga emocional de quem está ali ouvindo.
Também me marcam histórias com os músicos. O caso do meu amigo e baixista Ciro Cruz, que enfrentou uma leucemia gravíssima. Ele passou por mais de cem transfusões e voltou a tocar comigo ainda fraco, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Estar ao lado dele no palco foi muito forte. Mais do que grandes eventos, são esses momentos humanos que ficam. E sou muito grato por nunca ter enjoado do que faço.
E como você faz para não enjoar? O trabalho com música é lúdico, mas é trabalho. O que você faz para se manter motivado?
O improviso me mantém motivado: eu mudo setlist, crio coisas novas ao vivo e deixo os músicos brincarem também. Isso evita repetição. Cada turnê traz pessoas novas e novas vibrações. Mas o principal é a conexão real com o público. A renovação da audiência me lembra da responsabilidade que descobri aos 19 anos, quando vi crianças ouvindo minhas letras. Professores usam minhas músicas em escola, redações, provas. E isso me emociona e me faz querer fazer tudo com ainda mais verdade.
Você tem fãs de várias gerações. O que cada geração pode esperar do acústico?
Pois é. Penso muito no fã antigo e no fã novo. Gosto de trazer arranjos novos para surpreender quem me acompanha desde o começo e, ao mesmo tempo, manter a identidade para quem chegou agora. O time é muito especial: os músicos que já estavam comigo e o novo time de sopros, duas cantoras e outro violão, comandados pelo Maurício, meu amigo e diretor musical, essencial em todo o processo. Ele esteve comigo desde a ideia inicial até as decisões finais.
E tem também meu escritório, a Estreia Produções, composto por amigos com quem já trabalhei antes e que voltaram recentemente. Estou muito feliz com eles. Estamos curtindo cada detalhe com carinho e competência. Por isso, esse projeto vai além de um show: é quase um “Pensador Fest”, um grande encontro celebrando minha trajetória.
Serviço: Gabriel O Pensador: Acústico 33 anos de Carreira (Gravação do DVD)
Data: 03 de dezembro de 2025
Local: Fundição Progresso – Rua dos Arcos, 24, Lapa, Rio de Janeiro
Abertura da casa: 19h
Classificação etária: 18 anos. Menores de 18 anos somente acompanhados pelos pais ou responsável legal.
Ingresso Solidário: Pague meia entrada doando 1kg de alimento não perecível no dia do evento. A doação é obrigatória neste caso.
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