Formado no blues, Adriano Grineberg celebra canções de Dorival Caymmi
Pianista e cantor faz apresentações do repertório no Sesc Pompeia (SP)
Uma das principais qualidades do musicista Adriano Grineberg é sua versatilidade. Em quase três décadas de carreira, o pianista e compositor nascido em São Paulo tem participações ao lado de grandes estrelas do Brasil e do exterior –a lista, extensa, vai de Gilberto Gil e Ira! a John Pizzarelli e Magic Slim. Sua discografia, contudo, privilegia o lado mais dançante do blues. Foi a pegada que ele aderiu em “Key Blues”, de 2010, e “Blues for Africa”, de 2013, onde envenenou o gênero com diversos elementos sonoros.
Mas, a exemplo de Jerônimo, personagem do romance “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo (1857-1913), Adriano “abrasileirou-se”. O mais recente lançamento do músico, “Eufótico” (que dizer “que tem euforia”) é uma homenagem ao cancioneiro do compositor Dorival Caymmi (1914-2008).
No caso de Adriano Grineberg, essa homenagem passa longe do trivial. Canções como “Promessa de Pescador”, “Lenda do Abaeté” e “Noite de Temporal” ganham arranjos modernos e improvisações. Um Caymmi turbinado.
O pianista apresenta o repertório do álbum neste sábado e domingo no Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93), em São Paulo. As performances terão participação especial da violonista e cantora Badi Assad. Ingressos pelo site.
https://www.sescsp.org.br/programacao/adriano-grineberg-2/
Na entrevista abaixo, Adriano Grineberg fala sobre a construção do disco, os shows no Sesc e novos projetos.
Por que, depois de uma carreira consolidada no blues, um ritmo bastante específico no Brasil, você partiu pra gravar um tributo a um compositor brasileiro? E por que Dorival Caymmi?
Sempre enxerguei o blues como a minha principal expressão na minha formação musical. E quanto mais me distancio de uma suposta cena do gênero, mais sou surpreendido por suas nuances em meus novos caminhos. Já no meu segundo disco “Blues for Africa” (2013), comecei uma peregrinação em busca das suas raízes no continente-mãe: acredito que isso já me fazia alguém que trilharia um caminho próprio, me concedendo maior liberdade nas escolhas e buscas. Sinto isso como a verdadeira mensagem do blues. Sempre vi o fato de estar no Brasil como uma espécie de “camarote” onde conseguimos, além de nossa música, observar de forma singular a música dos Estados Unidos como também as nossas fortes conexões e laços com a África. Dorival Caymmi tem de tudo isso e num grau amplo de encanto e maestria que me cativou desde o primeiro contato. Em “Eufótico”, meu quinto álbum, priorizei as canções praieiras em versões foram se aprimorando dentro dessa pesquisa nos últimos dez anos.
Como você sente que está aceitação do disco pelo público? E na familia Caymmi, houve algum contato ou aceno?
A reação é surpreendente, tanto para o público como para mim como algo delicioso de ser vivido. Em 30 anos de estrada, sempre cantei em muitas línguas ancestrais por acreditar que isso acessa um portal lúdico nas pessoas. Cantar em português tem sido um processo de descontração ao qual estou aberto e me redescobrindo. Hoje contemplo o estado de espírito que esse álbum está me trazendo em um momento único da minha vida. Nos shows vejo as pessoas cantarem as músicas dentro da métrica intuitiva que as versões trazem. Ainda não tive nenhum aceno da família Caymmi e confesso que ficaria muito feliz pela admiração que tenho por cada um deles e –por que não?– sonhar com uma participação.
O que significa pra você chegar ao palco do Sesc Pompeia, um dos locais mais icônicos e importantes da música em São Paulo?
O lugar por si expressa a história viva da nossa cultura. Já estive muitas vezes como músico acompanhante nesse palco, como na gravação do programa “Bem Brasil –TV Cultura” em 2007 com a banda Ira!, com o Blue Jeans, histórica banda do blues brasileiro, e outros artistas com quem já toquei. Chegar a esse palco com meu som próprio será mais que especial e me faz sentir um agradável e motivador frio na barriga.
Além da participação especial de Badi Assad, você está preparando alguma novidade pras apresentações do Sesc?
Vamos tocar uma música do meu álbum “Blues for Africa” dedicada aos orixás em forma de medley com uma das canções de Seu Dorival dentro da mesma temática. Além, faremos três músicas em novas versões que não foram gravadas em “Eufótico”. Com a própria Badi, vamos fazer alguns temas de Caymmi que ainda não apresentamos, além de, claro, “O Vento”, que ela participa no disco. Me encanta esse frescor de primeira vez, algo que aprendi a apreciar no universo blueseiro e isso será levado ao público que estiver presente nos shows.
Já têm planos pros próximos passos da carreira? O que vislumbra pra 2025?
Além da turnê que seguirá no próximo ano, novas versões serão gravadas como conclusão desse olhar sobre a obra de Caymmi. A participação da Badi Assad e o disco como um todo me aproximaram de alguns artistas brasileiros, uma empatia interessante para seguir o projeto com participações especiais –algo que terá início em estúdio justamente após os shows no Sesc Pompeia no formato de singles que vão se transformar em um novo álbum em 2025.