Quem é DJ Méury, a primeira mulher a produzir tecnobrega?
Artista contou sua história no Festival MANA
Em Cametá, cidade do interior do Pará com forte cultura musical de bandas, nasceu a primeira mulher produtora de tecnobrega. DJ Méury não afirma nem nega tal informação. Mas todos a sua volta ressaltam que, de fato, a artista é dona desse feito.
“Comecei já quando as coisas rolavam no computador. Não sou dessa época do vinil, não é do meu tempo, até porque onde eu morava em Cametá, não tinha nem energia elétrica. Não sei como eu caí aqui, mas foi uma paixão que eu me identifiquei demais”, revelou a artista durante o painel “Tecnobrega, a música eletrônica do Pará”, dentro do Festival MANA, o maior festival de mulheres da música da Amazônia, que ocorreu em Belém no final de setembro.
Sua jornada na música começou aos 15 anos, quando tocava em algumas festas. Aos 18, encantada com o que ouvia pela rua, se interessou em saber mais sobre o processo de como eram feitas as faixas e as vinhetas, as tradicionais assinaturas sonoras dos produtores musicais. Seu primeiro mentor foi o amigo e DJ Gilberto Mix.
“Pensei comigo: ‘por que não conseguiria?’. Ele [Gilberto] foi me dando o passo a passo. Me ensinou tudinho. E primeiro ele disse que tinha que instalar o Fruity Loops. E esse software é fatal, todo mundo começou nele. Ele [Gilberto] também foi me mandando os projetos dele [as músicas criadas] e eu ia vendo tudo, tentando entender e estudando”, contou Méury em conversa com Claudia Assef, Keila e Hellen Patrícia no palco.
“Aí depois eu comecei apanhando, apanhando. Cheguei a fazer remixes até com nota errada. Fui muito criticada. Diziam: ‘ela vem só pra estragar. Ela vem pra acabar com o nosso ritmo, tá fazendo as coisas tudo errado’. Muito machista, né? Mas pensei: ‘calma. Vou dar uma pausa e estudar mais ainda’. E comecei a estudar notas musicais na própria internet. Hoje em dia eu não sei tocar o instrumento, mas no Fruity Loops sou uma maestra”, brincou.
Méury passou a saber tudo sobre notas musicais. Foi lapidando suas habilidades. Além das vinhetas, foi construindo remixes que ganharam corpo. Mas chegou um momento que ficou cansada de só produzir versões. Queria algo para chamar de seu. Foi aí que começou a produzir músicas autorais.
“Isso dava mais evidência do que um remix. Porque, por exemplo, se eu fizesse um remix de uma música que já tinha sido lançada, poderiam ter dez remixes daquele som, o meu ia ser só mais um. Mas se eu fizesse uma música autoral, eu ia ser a única. E foi isso que aconteceu”, continuou.
Méury já tinha his tem territórios paraenses, mas em 2018, veio o primeiro a nível nacional. “Faz a Boquinha do Animal”, produzida pela DJ com os vocais de MC Dourado, ganhou versão também com Mr Catra e foi a primeira produção paraense a ter um videoclipe no KondZilla, um dos maiores canais brasileiros do YouTube.
Méury também conquistou as redes sociais. Em 2021, a paraense foi uma das responsáveis pelo viral “Faz a dancinha” no TikTok, misturando reggae, brega funk, Mamonas Assassinas e Michael Jackson. A produção ganhou vídeos com diversas celebridades dançando, como Marta – da Seleção Brasileira de Futebol -, Simone e Simaria, Marcos Mion e mais.
Em 2023, veio o primeiro álbum: “Só As Top Da DJ Méury”. O mais recente feito de 2025 é o remix de “Sequência Feiticeira”, de Pedro Sampaio, tornando a faixa de funk em rock doido.
Em conversa exclusiva com a Billboard Brasil assim que desceu do palco no Festival MANA, DJ Méury contou que se inspira em DJs internacionais e fica impressionada com as performances que misturam efeitos especiais e pirotécnicos durante o show.
David Guetta é uma referência. E tem muitos DJs de fora do Brasil que, na verdade, eu nem sei o nome. O meu foco é nas performances que me conquistam, nos repertórios e nos shows de fogos. Aqui no Brasil também tem o Alok e o Dennis DJ. Cara, tanto os DJs de fora quanto os do Brasil me inspiram totalmente sobre performance, playlists e até mesmo roupa.
A artista também revelou o desejo de que o tecnobrega, o rock doido e as próprias aparelhagens do Pará ganhem mais espaço a nível nacional:
Algumas aparelhagens estão tendo oportunidade de estar fora do Pará, como a Aparelhagem Crocodilo, que já fez a Virada Cultural em São Paulo, vai fazer Brasília agora, fez também Rio de Janeiro, no Festival Paredão. Mas falta valorização do próprio estado, assim como oportunidade. É isso que as aparelhagens precisam para mostrar pro Brasil e pro mundo. Para estar em todos os estados. Mas eu sei que um dia vai acontecer isso. Com certeza.
Com seus cabelos vermelhos que já se tornaram uma marca registrada, DJ Méury carrega o legado de outras gerações de DJs mulheres do Pará a serem pioneiras em aparelhagens, como Patty Potência, Dani Cabrita, Ágatha e Nanda Fly. Mas escreve, ou melhor, produz próprio destino ao tomar seu espaço nas pick-ups e nos estúdios.
DJ Méury no Festival MANA
Além de fazer parte do painel que discutiu sobre a história da música eletrônica do Pará, bem como a importância da aparelhagem e da identidade sonora e visual para o povo paraense no dia 25 de setembro, DJ Méury também se apresentou no festival. Ela fez um DJ set no palco Petrobrás no dia 27 de setembro.
O Festival MANA ocorreu entre os dias 24 e 28 de setembro em Belém, reunindo artistas, jornalistas, cantoras, instrumentistas, compositoras, técnicas, produtoras e demais profissionais do mercado da música numa conferência que contou com shows, oficinas, painéis e feiras.









