Diretoras criativas do show de Ludmilla no Coachella se pronuciam
As profissionais emitiram comunicado após acusações de intolerância religiosa
Nidia Aranha e Drica Lara, diretoras criativas do show de Ludmilla no Coachella, se pronunciaram após a cantora receber acusações de intolerância religiosa. Na segunda dia da brasileira no festival, no último domingo (23), em um dos vídeos exibidos na apresentação, foi exibida a frase “Só Jesus expulsa o Tranca Rua das pessoas” (uma das entidades espirituais de religiões de matriz africana).
A cantora rebateu as críticas nas redes sociais e alegou que as imagens foram tiradas de contexto.
Confira o comunicado das diretoras criativas na íntegra
“Ludmilla chegou no Coachella, uma artista com apelo popular. Uma mulher preta, lésbica e da favela, que representa uma galera gigante que se identifica com cada passo dela.
O show começa com uma mensagem bem explícita pelo fim de preconceitos e discursos de ódio na voz de uma das figuras políticas brasileiras mais emblemáticas da atualidade. É como se fosse um convite pra gente se autovalorizar e ser quem a gente é, sem se preocupar com o que os outros vão dizer, seja qual for nossa classe social, gênero, raça, religião ou origem.
Origem da favela, a “Rainha da Favela”. O que significa ser rainha da favela, se não falar pela favela e abraçar esse contexto de maneira mais verdadeira possível? Quando a representamos a favela nos vídeos do show da Ludmilla, escolhemos trabalhar com uma mulher negra e de comunidade, que quer mostrar a rua e a periferia do jeito que são: lugares onde a violência e a injustiça social são rotina. As imagens de “Rainha da Favela”são uma denúncia para o que acontece nas comunidades do Brasil: pobreza, violência, abuso policial, racismo, lgbtfobia, crimes de ódio, intolerância, trabalho informal, pessoas em situação de rua e tantas outras.
A ideia nunca foi maquiar essa realidade, mas mostrar de forma direta tanto as expressões socioculturais e o lazer desse contexto, mas também o sofrimento da favela, vítima da negligência histórica do Estado. Isso é vivido por muita gente, e é isso que uma artista como a Ana Julia Theodoro quer passar para outra artista como a Ludmilla.
Sabemos que no mundo das redes sociais, com todo mundo rolando a tela, uma única imagem pode ser interpretada de mil maneiras, e muita gente viu nela intolerância religiosa. Mas a imagem não estava lá para glorificar nada, mas sim para mostrar a realidade. A intolerância religiosa contra as crenças de matriz africana é uma triste realidade em nosso país, assim como qualquer tipo de discriminação contra grupos marginalizados em uma nação com tantos problemas e questões.
Mas como dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, trazemos aqui outras imagens do mesmo vídeo , que infelizmente não chamaram tanta atenção quanto aquela que está em tantas manchetes hoje em dia.
O antigo ditado Iorubá que diz “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje” é tão rico em significados quanto a vida mesma. Hoje, trazemos uma interpretação que nos agrada muito: as batalhas que travamos agora já têm raízes
profundas no passado, e Exu está em cada uma dessas lutas desde muito antes até muito depois. Lutar pela democracia, pela arte, pela cultura, pelos direitos das minorias, pela igualdade, contra o racismo e em apoio às comunidades LGBT, entre outras
questões, não é novidade para aqueles que reconhecem o pássaro que Exu derrubou no passado.
No entanto, este espaço é constantemente disputado. Não há um dia de trégua, nenhum momento em que possamos descansar sem bandeiras brancas ou de paz. Aos que agora se unem nesta batalha contra a intolerância, nós os saudamos.
Para aqueles ofendemos com o vídeo, nossas mais sinceras desculpas. Mesmo quenossa intenção fosse denunciar discursos de ódio, sabemos que as pessoas são afetadas de maneiras diferentes. A essas pessoas, pedimos perdão.
Aos que estão aqui apenas para atacar Ludmilla e sua arte com informações distorcidas e inflamadas… a mensagem por trás do figurino é clara: depois de tantos golpes, estamos blindados com coletes de ouro.
Favela Chegou e a Preta venceu.”
Artista audiovisual também se pronuncia
“Minhas captações pela rua são voltadas para a retratação de tudo o que eu vejo sem filtro”, começou.
“Ó Jesus expulsa o tranca-rua das pessoas” e “Deus acima de todos” foram algumas das escolhas imagéticas. Além disso, há uma pessoa pisando em uma oferenda, ato que denuncia a intolerância religiosa crescente no Rio de Janeiro.
“Estão associando esse frame com intolerância religiosa tirando todo o contexto de denúncia”, completou a videomaker.
Najur, videomaker de Ludmilla, se pronuncia em seu Instagram:
“Minhas captações pela rua são voltadas para a retratação de tudo o que eu vejo sem filtro. Estão associando esse frame com intolerância religiosa, tirando todo o contexto da denúncia”. pic.twitter.com/avBC6Go5X6
— TrackChart (@trackchartt) April 22, 2024
Veja pronunciamento de Ludmilla nas redes sociais
“Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar para falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe”, começou Ludmilla
“Traz diversos registros de espaços e realidades que cresci e vivi por muitos anos, querendo reescrever o significado dele, e me colocando em uma posição que é completamente contrária a minha”, argumentou.
“Rainha da Favela apresenta a minha favela, uma favela real, nua e crua, onde cresci, mas infelizmente se vive muitas mazelas: genocídio preto, violência policial, miséria, intolerância religiosa e tantas outras vivências de uma gente que supera obstáculos, que vive em adversidades, mas que não desiste”, continuou a cantora.
Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar pra falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe.
Hoje tiraram do contexto uma das imagens do video do telão do show em Rainha da Favela, que traz diversos registros de espaços e realidades a qual eu cresci e vivi por muitos… pic.twitter.com/sdP8JhoLmh