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Funk de São Paulo é agente de renovação e mira o mundo

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Funk de São Paulo é agente de renovação e mira o mundo

Submundo 808, baile de Campinas (@TONYALVVES)

O pancadão atual é o som da favela com estética global, é produto exportação e ocupa um pedaço do imaginário cultural contemporâneo. Mas, sempre que falamos de funk brasileiro, o primeiro lugar que vem à mente é o Rio de Janeiro. Natural, já que foi a partir da capital fluminense que esse gênero musical eletrônico saborosamente nacional foi acelerado para o resto do país e pro mundo. Comum também afirmar que essa música é moldada pelo miami bass. 

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O baile funk Submundo 808 (@juulios)

Porém, outras capitais, como São Paulo e Belo Horizonte, também tinham seus bailes black da década de 1970 fazendo a transição para sons mais eletrônicos no começo de 1990. Prova disso são discos como o 2º álbum do grupo de rap paulistano Região Abissal, que em 1990 traz um miami bass, e a coletânea mineira de funk “Fábrica Ritmos”, lançada em 1992. Tudo pertinho do nascimento do estilo na indústria fonográfica, em 1989, quando DJ Marlboro lançou o LP “Funk Brasil”. Quanto ao caldo musical: o electro de Los Angeles e Nova York e o latin freestyle também foram fundamentais — aliás, Volt Mix, a batida que difundiu o funk nacionalmente, é um sample de um electro. 

De lá pra cá, muita coisa foi cozinhada nos quatro cantos do país e demorou pra sair do forno, mas, quando veio, abalou. Em São Paulo, houve um hiato em que o rap nacional eclipsou tudo, porém havia bailes na Baixada Santista e o funk carioca inspirava DJs, dançarinos e MCs. 

“Pude ver o funk chegar no interior muito pela força da juventude, que sempre se conectou com a música vinda das capitais como o Rio e, depois, São Paulo”, conta Vinícius de Melo Mariano, 33, sócio e cofundador da Submundo 808, produtora que transformou a cena a partir de Campinas (SP) e que estará com Club Social Snack no The Town 2025. 

Criado na Vila Costa e Silva, periferia da cidade, ele testemunhou o funk se consolidar: “Nas caixas de som improvisadas nos bairros, nos fluxos, com CDs de artistas da região e depois se popularizando muito rapidamente com o avanço da internet, do YouTube e das redes sociais, que democratizaram o acesso”, relembra.

Na década de 2010, explodiu o estilo ostentação, com alguns dos maiores sucessos do funk até hoje. Vinícius recorda que sua primeira experiência foi como ouvinte: “Eu cresci vendo o funk extremamente presente na rua. Com o tempo, fui entendendo que não era só música. Era comportamento, estética, cultura em movimento. Percebi que o funk se reinventava e segue assim até hoje”.

 “É uma parada muito louca porque dentro do funk de São Paulo existem outros subgêneros”, observa DJ Perera, pilar de inovação do funk, produtor de músicas que mudaram o cenário, gravadas por MCs como Livinho, Kevin, IG e Kekel.

O fluxo como estética

DJ é a estrela na Submundo 808 (@Cavassam019)
DJ é a estrela na Submundo 808 (@Cavassam019)

O funk de São Paulo ficou ainda mais eletrônico. Os fluxos — festas de rua com um formato mais livre que os bailes cariocas, já que as músicas são disparadas de sistemas de som de carros — foram fundamentais para a formação da estética local. “É justamente desses espaços que nasce a linguagem real do funk e criam-se muitos artistas que hoje rodam o Brasil e o mundo”, conta Vinicius.

Ele avalia que a Submundo 808, festa fechada com o DJ no meio da arena, sem área VIP,  dá estrutura para que essa cultura chegue a públicos diferentes, com qualidade de som, luz, LED e palco. “O que a gente fez foi justamente ligar esses dois mundos através do DJ: respeitar a raiz do fluxo e dar ao artista e ao público uma experiência que ele ainda não tinha no interior.” A festa, criada em 2022, surpreendeu. Eventos que começaram com 600 pessoas hoje ultrapassam 10 mil, conectando interior, capital e o Brasil inteiro.

O funk de São Paulo se tornou referência pela maneira antropofágica que deglute e devolve as mais diversas influências de música eletrônica global, do trance ao tecno, sem esquecer da house e nem do industrial. Como no início formativo dos bailes mais da pesada, lá no Rio, a paleta vai de EBM ao EDM . “O funk paulista é marcado por batidas mais agressivas, como a energia da rua”, define Vinícius.“O funk é hoje a  maior força de renovação da música brasileira porque fala a língua de uma geração que cresceu conectada.”

A consolidação do funk de São Paulo como força cultural também abriu espaço para parcerias com marcas. Club Social investiu em ativações para buscar proximidade com o público jovem, viabilizou gravações e remixes inéditos com artistas consagrados, web séries feitas sob medida para redes sociais e até gamificação de produção musical. Tudo isso, usando como local de difusão os festivais de música, em que as pessoas historicamente comparecem para conhecer coisas novas e se permitir experiências ousadas e seguras. 

É uma lógica parecida com a da Submundo 808: criar experiências autênticas, sem barreiras artificiais entre artista e público. Ao apostar no funk como linguagem central, Club Social Snack se torna atração para um público que traz o gênero como trilha sonora da vida. “O futuro do funk é a internacionalização ainda mais forte e o funk já está posicionando o Brasil dessa forma globalmente”, aposta o cofundador do baile funk mais badalado do momento. DJ Perera concorda: “O futuro do funk é a expansão dele mesmo, com outras línguas cantando nosso gênero originalmente brasileiro”.

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