Fazer parte do conglomerado da HYBE naturalmente coloca os artistas em uma posição de visibilidade desde o primeiro dia. O porte financeiro e estrutural da empresa é inegável, mas no K-pop, onde a concorrência é feroz, dinheiro não compra talento e nem garante um impacto duradouro. Nesse cenário, com apenas dois meses de carreira, o CORTIS chama a atenção por mérito próprio.
Com coreografias afiadas e carisma fora dos moldes engessados da indústria, o quinteto formado por James, Juhoon, Keonho, Martin e Seonghyeon, garantiu o posto de destaque entre os novatos do ano com muita personalidade. Com idades entre 16 e 20 anos, os jovens formam o primeiro grupo lançado pela BIGHIT MUSIC em seis anos – após TOMORROW X TOGETHER, em 2019, e BTS, em 2013 –, com o mote de ser uma equipe de criativos e de se autoproduzir.
A HYBE é dona de subsidiárias responsáveis por vários grupos de K-pop. Para entrar na empresa como trainee, os candidatos passam por uma série de avaliações e testes. Em 2024, a empresa teve receita de mais de US$ 1,65 bilhão. No ano anterior, os artistas da gigante venderam mais de 43 milhões de discos.
O primeiro EP do grupo, “Color Outside the Lines”, foi lançado no dia 8 de setembro e estreou em 15º lugar na Billboard 200 – ranking semanal dos discos mais populares nos Estados Unidos. O projeto está há 10 semanas no chart World Albums. “Ainda parece surreal pensar que estamos realmente nos charts. Nós não tínhamos visto. Um dia, nosso manager nos disse: ‘Vocês estão na parada da Billboard!’. Eu fiquei tipo… ‘Espera, sério mesmo?’. E quando conferi, estávamos em 15º lugar”, conta Martin para a Billboard Brasil em uma chamada de vídeo.
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“É uma questão de gratidão aos nossos fãs e ouvintes. Sou muito grato por tudo isso e queremos continuar crescendo e ser lembrados por muito tempo”. Para James, a entrada nos rankings traz um impacto positivo para o grupo. “Representa um grande marco. E é apenas o começo. Só podemos melhorar daqui para frente e estamos trabalhando duro, como sempre, para fazer músicas ainda melhores.”
O sucesso do primeiro EP aumenta as expectativas para os próximos passos do CORTIS. E eles mesmos reconhecem isso. Martin descreve a cobrança como uma responsabilidade que orienta o que farão a seguir. Seonghyeon admite que a pressão existe (“Sem dúvida!”, ele responde).
“O objetivo do primeiro projeto era expressar nossas emoções e isso ressoou com muitas pessoas. Ao longo desses meses, nós mudamos. Com o segundo álbum, estamos pensando: ‘O que temos a dizer agora?’. Qual história contaremos aos fãs e como nos manteremos o mais autênticos possível? Esse é o objetivo”, avalia James.
Ouça ‘Color Outside The Lines’, do CORTIS
Mesmo recém-debutados, os jovens já têm milhares de fãs no Brasil. Nas redes sociais, viralizaram pela paixão por açaí e por lerem o apelido abrasileirado do fandom, “cortinas”, durante uma live recente. Questionados sobre as interações com o público brasileiro, a pergunta gera uma leve comoção e eles falam ao mesmo tempo.
“É incrível [receber mensagens do Brasil”, diz Keonho. “Mal posso esperar para visitar o Brasil”, diz Juhoon. “Nós somos muito fãs da cultura brasileira, principalmente dos festivais [como o Carnaval]. Queremos ir ao Brasil fazer um show”, acrescenta Martin. “Nós sabemos que vocês são divertidos”, emenda James. “Nós sabemos do açaí, nós precisamos provar [no Brasil]”, completa Seonghyeon.
O contraste entre quem o CORTIS era antes do debut e quem são hoje é falado durante o bate-papo. Para Martin, a maior mudança é emocional. “É difícil porque mudamos muito desde o ano passado”, diz o rapper. “Quando estávamos trabalhando no álbum, ninguém nos conhecia. Agora, temos fãs e quando saímos nos reconhecem na loja de conveniência e em qualquer lugar. Estou curtindo o momento e muito feliz por poder ver as reações à minha música”. Já para Keonho, a diferença principal faz parte do amadurecimento. “Minha voz [risos], a extensão da minha voz”.
Eles parecem lidar bem com a ascensão acelerada do grupo. James explica que, por mais clichê que pareça, o que os mantém com os pés no chão é lembrar por que começaram.
“Acho que nunca vamos esquecer isso. Embora tenhamos muitas coisas diferentes acontecendo no nosso caminho, no final das contas, a razão pela qual fazemos este trabalho é porque amamos música e amamos nos expressar da nossa maneira única.”
Rituais do dia a dia como andar de bicicleta, passear num parque, ouvir música e jogar basquete fazem com que os integrantes lidem com as dúvidas pessoais e o crescimento sob o olhar público. Eles falam diversas vezes sobre “abraçar os lados estranhos”, rir da própria vergonha para evoluir, e sobre usar a criatividade como forma de descobrir quem são.
“Com o passar do tempo, estou começando a entender quem eu sou. Agora sei o que realmente amo fazer, qual é o meu gosto musical, qual é o meu gosto. Isso vai tornando a minha personalidade mais vívida e distinta”, diz Juhoon.
“Eu acho que se aceitar em todos os sentidos também é um ponto importante, até mesmo seus lados estranhos. Existe uma frase que diz ‘ser constrangedor é ser livre’. É uma ótima frase. Se você quer melhorar em algo, você precisa se sentir desconfortável. Precisa se envergonhar de si para ganhar confiança. E eu acho que é essa mentalidade que levamos para as músicas”, acrescenta James. “Ainda somos adolescentes e estamos crescendo. Encontrar nosso estilo na música ou nos visuais é como encontrar em nós mesmos, investigar a nós mesmos”, completa Martin.

As peças do quebra-cabeça
As histórias individuais de cada integrante do grupo reforça o discurso do próprio mérito. Keonho usa a mentalidade competitiva da natação para evoluir como artista, sempre focando em superar a si. Seonghyeon se mudou ainda jovem para treinar em Seul, e o processo nunca o intimidou – ao contrário, só o motivou mais. Já Juhoon vê seu passado diverso em esportes, estudos e moda como uma base que o ajudou a entender melhor suas habilidades.
Líder do quinteto, Martin é coreano-canadense e passou seis anos trabalhando até o debut em setembro. Além de produzir as músicas do CORTIS, ele compôs singles para outros grupos da HYBE – como “Magnetic” (ILLIT), “Deja Vu” (TXT), “Pierrot” (LE SSERAFIM) e “Outside” (ENHYPEN).
“Para ser sincero, quando começo a perder a confiança ou duvidar de mim mesmo, tento me concentrar em pequenas coisas. Jogo basquete, ando de bicicleta, faço algo legal, saio para caminhar e ouço música”, diz Martin. “É uma meta que quero ter. Lembrar que [a música] é algo que realmente quero fazer para o resto da vida, que realmente amo, e que faço por diversão. Foi por isso que escolhi esse caminho. Nunca duvidei de mim mesmo, nunca quis ser outra coisa. Então, confiar em mim mesmo e encontrar pequenos hobbies ajuda a me afastar desses pensamentos de insegurança.”

James é tailandês-chinês. Nasceu em Hong Kong, mas cresceu em Taiwan. Foi trainee por cerca de cinco anos até debutar com o CORTIS. Além de coreografar e compor para o quinteto, ele foi dançarino de apoio para Jung Kook (BTS) e também escreveu para outros grupos, como ILLIT e TXT.
“No geral, meu gosto e minhas preferências são bem amplas… Para ser sincero, até mesmo a comida. Crescer em diferentes países, ir e vir entre eles, sempre me incentivou a experimentar coisas novas. Me abriu para novas experiências e acho que isso realmente me ajudou a descobrir novas músicas, filmes e a enxergar coisas que eu nunca tinha visto antes”, diz James. “Foi difícil se mudar tanto?”, pergunto para o cantor. “Não, mas é difícil quando uma parte da família fala uma língua e a outra metade fala outro idioma… Você fica no meio e vira o elo que fala todas as línguas e tem que se adaptar a cada segundo.”

Juhoon nasceu e cresceu na Coreia do Sul. Prodígio nos esportes, ele se destacou no basquete e no futebol. Foi modelo infantil e aprendeu inglês em uma escola internacional. Como trainee para debutar com o CORTIS, passou por aulas e treinamentos intensos por menos de dois anos.
“Cada momento me influenciou de alguma forma e todas essas experiências me fizeram quem eu sou”, diz o cantor. “Praticando esportes, aprendi a ser competitivo, e na escola aprendi a me comunicar. Felizmente, tive a oportunidade de explorar várias coisas e sempre me concentrei em quanto eu estava gostando de cada uma delas. Tentei descobrir o que me interessava, e foi assim que cheguei à música.”

O sul-coreano Seonghyeon foi recrutado no dia do aniversário em 2018, quando passeava em um parque de diversões. Ele está creditado como compositor em todas as faixas do EP do CORTIS: “What You Want”, “GO!”, “Joyride”, “FaSHioN” e “Lullaby”.
“Quando mudei para Seul para ser trainee, não foi muito difícil. Eu realmente gostei do processo e minha mãe me incentivou dizendo para tentar”, relembra Seonghyeon. “Quanto mais eu treinava, mais me interessava. Quero ser alguém cool. Alguém descolado por dentro e por fora, e bom no que faz, com confiança. Ainda estou descobrindo o que ‘descolado’ significa, mas espero continuar aprendendo à medida que cresço.”

Keonho passou três anos como trainee. O cantor sul-coreano era nadador e participou de campeonatos no país até decidir seguir o caminho da música. Ele também compôs faixas para o primeiro lançamento do CORTIS.
“Aprendi que a verdadeira competição não é com os outros, mas sim consigo mesmo. E acho que sempre quero manter essa mentalidade e continuar me esforçando”, diz Keonho, sempre muito sorridente. “Eu pensei muito, porque queria ser nadador e fazer parte do grupo. Mas meus pais me aconselharam: ‘É bom experimentar coisas novas, então por que você não tenta?’. Segui o conselho e realizei esse sonho de me tornar um artista. Estou gostando muito.”

Os jovens dividem os palcos e também o dormitório. Eles moram juntos em Seul e recebem apoio de uma equipe dedicada. A rotina dos bastidores também vira conteúdo no canal do CORTIS no YouTube. “A gente se aproximou naturalmente enquanto nos preparávamos para a nossa estreia e também compondo músicas. Moramos juntos, 24 horas por dia, 7 dias por semana”, diz Seonghyeon. “É difícil morar junto?”, pergunto. “Sim, às vezes, mas é divertido. Geralmente resolvemos as coisas conversando. Por exemplo, quando se trata de lavar a louça, temos uma regra de que cada um deve lavar a sua depois de usar. Isso mantém as coisas simples e justas.”
Os conselhos que receberam de outros artistas também ajudam a moldar o trabalho do grupo. James guarda como mantra a frase “one step at a time” (um passo de cada vez, na tradução livre), que ganhou em um autógrafo de Teezo Touchdown em um par de tênis.
“Essa é a tela de fundo do meu celular. Sempre me lembra de não ter muita pressa e que, às vezes, você realmente não sabe o que fazer e acaba atropelando tudo. É preciso ir devagar, um passo de cada vez, e focar no que está por vir”, diz James.
“O mais importante para mim é a paixão e a intensidade que tenho no palco. Quero que todas as apresentações tenham a mesma paixão e a mesma intensidade da primeira vez. É no palco onde me sinto mais livre. Desejo lembrar disso no futuro, mesmo que em alguns dias eu não esteja bem.”
Martin cita o encontro com os membros do BTS: permanecer humilde, cuidar da equipe, manter a paixão acesa mesmo diante das dificuldades. “
“Eles falaram: ‘Sempre sejam gratos e humildes’. E também disseram para cuidarmos bem das pessoas ao nosso redor, especialmente da equipe e com quem vamos trabalhar por muito tempo. ‘Cuidem bem delas, as tratem com gentileza e mantenham a paixão e a energia vivas. Mesmo que surjam grandes desafios, é só continuar perseverando e curtir o processo’. Foi isso que eles disseram, e é assim que estamos vivendo, dia após dia”, diz Martin. O CORTIS ainda não entrou em turnê, mas por aqui os “cortinas” já os aguardam com muito açaí.

