Barão Vermelho é jogo ganho
Grupo faz apresentação para um público mais tolerante que os metaleiros de 1985


O mundo era beeeem diferente no dia 15 de janeiro de 1985, quando o Barão Vermelho estreou no palco do Rock in Rio. O Brasil tinha acabado de eleger um presente civil, Tancredo Neves, depois 21 anos de ditadura militar. Internet e telefone celular, por enquanto, eram assuntos apenas para filmes de ficção científica e os discos de vinil estavam para ser substituídos por uma tecnologia chamada compact disco. E as bandas brasileiras iriam conhecer uma plateia atípica chamada headbangers – ou, como as televisões definiam na época, “metaleiros”.
O quinteto carioca aplacou uma multidão que ansiava por grupos mais pesados – Scorpions e AC/DC eram a atração da noite – e saudavam qualquer acento pop com lama e xingamentos. O Barão, no entanto, conseguiu segurar aquela plateia indócil com um rock’n’roll bem azeitado e a forte presença cênica do vocalista Cazuza.

Passados 38 anos, o grupo debuta em mais um evento com assinatura de Roberto Medina, sem três dos heróis daquela noite. Cazuza morreu em decorrência da Aids em 1990, o baixista Dé Palmeira saiu no mesmo ano por divergências musicais e o guitarrista e vocalista Roberto Frejat partiu para a carreira solo em 2017. Coube ao baterista Guto Goffi e ao tecladista Maurício Barros e ao guitarrista Fernando Magalhães, que entrou na banda em 1987, juntarem os caquinhos e segurarem as pontas ao lado do guitarrista e vocalista Rodrigo Suricato.
A apresentação foi mais em tom de celebração do que o desafio de 1985 – afinal, já não se fazem mais metaleiros belicosos como antigamente. O Barão Vermelho se alternou entre canções de sua própria lavra e duas homenagens a Cazuza – “Exagerado”e “Codinome Beija-Flor” – e a releitura de “Tente Outra Vez”, de Raul Seixas e Paulo Coelho. Samuel Rosa, ex-Skank, fez uma digníssima participação especial, cantando “Pense e Dance” e duas do repertório de seu antigo grupo – “Ainda Gosto Dela” e “Vou Deixar”. Um show correto e divertido.