Seu Osvaldo Pereira é o primeiro DJ do Brasil e completa 92 anos em 15 de dezembro. Depois de tantas pistas que o veterano agitou, ele segue com a mesma emoção para tocar novas e velhas playlists. No entanto, o filho pródigo de Muzambinho (MG) lembra bem da ideia original que teve e que mudou a sua vida.
“Em 1958, a coqueluche do momento eram as big bands que estavam começando a se apresentar no Brasil. Só que os meus vizinhos da zona norte não tinham dinheiro para ver algo assim. Aí eu pedi para os donos de alguns clubes deixarem eu fazer um baile especial.”
O baile do Seu Osvaldo era chamado de “Orquestra Invisível Lets Dance” e, pela primeira vez, lugares considerados de elite como o Edifício Martinelli e o Club Homs receberam o que muito mais à frente seriam chamados de bailes blacks.
Ele não tinha acesso aos bailes de orquestras big bands, mas tinha criatividade.
Na época, Osvaldo trabalhava vendendo discos, montando e consertando rádios nas casas de famílias ricas do centro de São Paulo. Com a sua experiência de técnico de eletrônica, ele montou o seu próprio sistema de som.
Nas festas da “Orquestra Invisível Lets Dance” o discotecário tocava com cortinas fechadas e, por isso, o público da época acreditava que era uma big band tocando. Na metade da apresentação, as cortinas abriam e as pessoas se espantavam com Osvaldo e seu som improvisado tocando Ray Conniff nos discos de vinil.
Após centenas de festas, Osvaldo pausou a vida de DJ para cuidar da família. Os bailes não rendiam tanto dinheiro. No entanto, ele passou o legado da discotecagem para a família, que tem entre os seus membros o DJ Grand Master Ney, visionário do clube de bailes Chic Show.
Na década de 2000, ele finalmente foi reconhecido como o pioneiro após sua história ser contada no livro “Todo DJ Já Sambou” de Claudia Assef.
“Eu sempre tive a caixa dos meus vinis guardadinha esperando novas oportunidades. Depois do livro, foi muito gratificante ser reconhecido por muitas pessoas e por DJs que eu gosto”, conta o modesto Osvaldo.
A partir deste momento, seu Osvaldo recebeu homenagem na Assembleia Legislativa de São Paulo, tocou em festivais como Batekoo e Marisco e sua história foi contada por diversas reportagens e programas como Metrópoles e Conversa com Bial.
Hoje, o legado de Osvaldo é visto na tradição da discotecagem que chegou no filho Tadeu e no projeto Veraneio, liderado pelo filho Dinho e o neto Jean.
Na sua carreira de DJ, Osvaldo tocou para diferentes públicos e já teve sets extremamente versáteis com funk dos anos 1970, samba, bolero, jazz instrumental e dance. No entanto, os bailes de nostalgia feitos para amantes da dança de salão e do samba rock eram as suas especialidades.
“Eu amo música. Ela trouxe toda a alegria para a minha família e amigos se reunirem e dançarem. Eu gosto de todas as épocas, mas me dá um conforto diferente músicas que eu tocava no meu começo”.
A seguir, confira uma lista especial das músicas que tocam fundo o coração do seu Osvaldo por ter tocado no começo da carreira de DJ ou por lembrar momentos importantes da vida.
Viva, seu Osvaldo, O pioneiro que abriu caminhos para as festas nos Brasil.
Playlist do coração do DJ Osvaldo Pereira
Ray Antony — “You Turned The Tables On Me” ( música originalmente trilha do filme “Sing, Baby, Sing”, 1936)
Glenn Miller — “Moonlight Serenade” (1944)
Ray Conniff — “Hollywood Please” (1958)
Arthur Muray — “Cha Cha”(1959)
Elza Soares — “Se Acaso Você Chegasse” (1960)
Elis Regina e Jair Rodrigues — “2 na Bossa” (1964)
Jamelão —“Matriz ou Filial” (1964)
Ed Lincoln— “Meu Querido Amor” (1966)
Frank Sinatra — “My Way” (1969)
Wilson Simonal — “Sá Marina” (1968)
