Quatro décadas após começar a cantar em rodas de samba no ABC paulista, Péricles permanece como um dos poucos artistas surgidos nos anos 1980 que ainda ocupam posição de destaque no pop nacional. Sua trajetória é tranquila, porém repleta de viradas impressionantes. Talvez por isso tenha se tornado uma figura quase consensual no país e um dos personagens mais queridos e respeitados da música brasileira.
Na reportagem de Guilherme Lúcio da Rocha e Yuri da BS, Billboard Brasil acompanha o cantor desde os primeiros passos, quando ainda participava de encontros informais com amigos que, mais tarde, se tornariam parceiros de vida e de profissão. Mesmo naquele cenário despretensioso, já chamava atenção a curiosidade incansável do “nerd do pagode”, capaz de guardar repertórios inteiros de memória e mergulhar na história da música como poucos. Essa característica o levaria ao Exaltasamba, onde, ao lado de Izaias Marcelo e outros colegas, ajudou a consolidar uma mistura que redefiniu o pagode e moldou o gênero dentro da indústria.
O texto também evidencia o lado afetivo de Péricles, aquele que amigos definem como “gentil” e “acolhedor”. É nesse ponto que surgem episódios marcantes — incluindo uma coincidência improvável envolvendo Thiaguinho, muito antes de o jovem integrar o Exalta. Da relação entre mestre e aprendiz, construída por meio de conselhos, convivências e madrugadas de hotel embaladas por música, revela-se o papel de Péricles como referência para toda uma geração.
Ao mesmo tempo, o perfil lembra que sua caminhada não foi linear. Antes da fama, ele atuou como inspetor de alunos, metalúrgico, sapateiro e cabeleireiro — experiências que moldaram seu olhar calmo, porém seguro, diante do mundo. Quando o Exaltasamba seguiu por rumos distintos, já nos anos 2010, Péricles decidiu assumir plenamente sua voz artística. Apostou na elegância, no samba de raiz, nas homenagens aos mestres e em incursões ousadas pela black music, que ampliaram sua conexão com o universo pop. Assim, consolidou uma carreira solo que não apenas prosperou, mas o transformou em parceiro desejado por artistas de diversas cenas.
As entrevistas destacam ainda outra virada tão crucial quanto a musical: a influência de Lidiane, sua esposa, que o ajudou a reencontrar autoestima, segurança e disposição para arriscar. Com ela, Péricles assumiu o controle completo da própria carreira, deixou uma grande produtora, voltou aos palcos com vigor renovado e expandiu sua presença além da música — da TV à publicidade, das redes sociais às pautas de representatividade negra. O movimento, inicialmente visto como incerto, acabou se tornando referência para uma nova leva de artistas do pagode.
Ao se aproximar de 40 anos de estrada, Péricles se reinventa sem abrir mão da essência. Entre festivais de música pop e rodas intimistas de samba, ocupa um espaço raro: o de quem atravessa décadas com frescor, reconhecimento e uma serenidade que só experiências profundas conseguem fornecer. Ainda assim, como ele próprio revela com humor, nem sempre acorda tão zen, mas fé, música e Bob Marley ajudam.
Esta matéria de capa apresenta um Péricles que o público talvez conheça pela voz, mas não pela profundidade: estudioso, sensível, resiliente, surpreendentemente atual e, acima de tudo, feito para durar. E cada capítulo dessa história merece ser descoberto na nova edição da Billboard Brasil.
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