Da serigrafia ao Imagine Dragons: a jornada criativa de Shane Gelinas
Designer fala sobre processo criativo para artistas internacionais
A trajetória de Shane Gelinas no design não começou nos palcos gigantescos de bandas internacionais – com as quais trabalha hoje –, mas em um ambiente familiar. Responsável pela identidade visual da turnê “LOOM”, do Imagine Dragons, o artista conversou com a Billboard Brasil sobre a carreira no mundo da música.
“Trabalhei em uma empresa de serigrafia para meu pai por alguns anos e aprendi muito sobre esse universo. Eu também era músico, então essas duas coisas se entrelaçaram”, conta Shane.
O ponto de virada aconteceu quando conheceu Aaron Hymes, que viria a se tornar seu parceiro criativo e sócio. Juntos, criaram a Great Work.
“Eu o conheci, fomos colocados em um projeto juntos e nos demos muito bem. Estávamos trabalhando juntos e pensamos: ‘Deveríamos começar nossa própria produtora de animação’, mas na época eu não sabia como animar tudo. Eu sabia ilustrar e fazer design gráfico. Então ele me ensinou o básico.”
O primeiro grande projeto da dupla foi o videoclipe de “Dark Heart”, do rapper Freddie Gibbs, que misturava anime, quadrinhos e CGI. “Era quase como se a trama do Roger Rabbit fosse uma mistura de vida real e animação. O que foi superlegal. Depois que fizemos isso, pensamos que deveríamos definitivamente abrir nossa própria empresa juntos e começar a fazer isso em tempo integral.”
Pouco depois, Shane e Aaron se aproximaram do Imagine Dragons. O convite surgiu de maneira inusitada. A banda buscava uma identidade visual para a próxima turnê mundial.
“Eles tinham recebido um número insano de submissões de designers e artistas renomados, mas nada estava funcionando”, conta Shane. Indicados por um colega em comum, a dupla conquistou o vocalista, Dan Reynolds, no primeiro rascunho.
“Ele me mandou um esboço do que ele tinha em mente e eu enviei uma arte. Para a primeira que mandei ele respondeu: ‘É isso. Nós amamos. Essa é a capa do álbum’. Foi super legal.”

A partir daí, a relação com a banda cresceu. “Eles precisavam de visuais para os shows e perguntaram: ‘Vocês conseguem fazer?’. Nós dissemos que sim, sem saber exatamente no que estávamos nos metendo [risos]. E acabamos criando um conjunto incrível de visuais para a turnê.”
O trabalho com o álbum “LOOM” foi para além do palco: “Construímos um mundo inteiro para o Imagine Dragons. Fizemos os visuais, o merchandising, os materiais de marketing, os outdoors. Até experiências para os fãs.”
O projeto levou seis meses para ficar pronto.
“Mostramos o show completo com os visuais. A banda fez apenas três observações em 28 músicas. Disseram que era o melhor conteúdo que já tiveram. Foi incrível. Eu não conseguia acreditar, porque era nossa primeira vez fazendo isso. Nós sabíamos que estávamos no caminho certo.”

Propósito de vida
A imersão em shows ao vivo trouxe de volta lembranças da época em que Shane era músico. “Estar nos concertos me levou de volta ao que eu costumava amar, que é me apresentar. Mas agora é sobre ajudar a trazer o show de outra pessoa à vida. É uma experiência única ter 100 mil pessoas assistindo ao mesmo tempo. Esse é o verdadeiro retorno.”
O estúdio segue crescendo e assumindo novos desafios. “Trabalhamos a turnê do My Chemical Romance, o que foi uma experiência incrível porque cresci ouvindo a banda. Depois estivemos com os Jonas Brothers, que são super envolvidos em cada etapa do processo.”
Apesar do sucesso, Shane destaca que o processo é árduo. “O fluxo de trabalho nunca é tão mágico quanto parece. Tudo é renderizado quadro a quadro, nada acontece em tempo real. A maior parte do processo é resolução de problemas. Assistimos a tutoriais todos os dias porque sempre há algo novo a aprender.”
Mais do que técnica, ele acredita que o diferencial está no olhar artístico e na dedicação. “Qualquer um pode aprender a apertar botões e fazer gráficos. Mas ter visão criativa, estilo e ser fiel a isso é o que deixa uma marca. É o seu legado.”
O segredo, segundo Shane, está na combinação entre criatividade, ética de trabalho e relações humanas.
“Eu diria que os relacionamentos são a parte mais importante. Você pode conhecer alguém quando eles ainda estão começando e, 10 anos depois, eles viram Imagine Dragons ou Phoebe Bridgers. O mais importante é nutrir essas conexões, acreditar na visão deles e se dedicar a criar algo inesquecível.”








