Trabalho há mais de 10 anos na construção de pontes entre o mercado latino e o Brasil. Sempre acreditei que a música em espanhol poderia dialogar diretamente com o público brasileiro, mesmo em um país com idioma diferente e um consumo cultural tão próprio. E, durante muito tempo, essa visão parecia isolada. Mas hoje, posso afirmar com clareza e felicidade: a música latina está vivendo um crescimento real no Brasil e o país passou a ser considerado uma prioridade estratégica para o mercado global.
Esse movimento, embora recente aos olhos do público geral, vem sendo cultivado há muitos anos por profissionais, artistas, gravadoras e plataformas que entenderam o potencial desse cruzamento cultural. O que vemos agora é o reflexo de anos de trabalho de base, somados a uma transformação no comportamento de consumo, especialmente das novas gerações, que são naturalmente plurilíngues, digitais e conectadas com o que acontece em toda a América Latina.
Nos últimos dois anos, esse crescimento se intensificou de forma visível e mensurável. A presença de artistas latinos em rankings brasileiros, o volume de conteúdos em espanhol nas plataformas, os números em redes sociais e os investimentos em campanhas regionais demonstram que o Brasil deixou de ser um “território difícil” e se tornou um dos mercados mais estratégicos da América Latina. Hoje, o Brasil importa nos resultados globais, tanto pelo tamanho do seu público quanto pela forma única como consome música: com intensidade, fidelidade e paixão.
Um exemplo recente é o crescimento da Karol G no Brasil, que em menos de um mês acumulou mais de 28 mil criações no TikTok, 18 milhões de views em perfis de entretenimento, e impacto em mais de 5 milhões de pessoas via influenciadores. Esses números, que antes eram quase exclusivos de artistas brasileiros, agora também acompanham grandes nomes latinos o que mostra não apenas aceitação, mas engajamento ativo do público.
Outro dado simbólico e poderoso foi o destaque de Bad Bunny durante o Carnaval de 2025. Mesmo sendo a maior festa popular brasileira historicamente dominada por ritmos nacionais, o artista porto-riquenho esteve entre os assuntos mais comentados, presente em blocos, playlists, editoriais e conteúdos espontâneos nas redes. O fato de um artista latino de língua espanhola ter tido tanto protagonismo em um evento tão culturalmente brasileiro reforça que a música latina deixou de ser nichada e passou a ocupar espaço de massa no Brasil.
Essa nova fase também é reflexo de um fenômeno que precisa ser reconhecido: a ascensão internacional da Anitta. De forma ousada e pioneira, ela reposicionou o Brasil como um produto de exportação relevante, despertando nos grandes players da indústria global um novo olhar para o país. Sua trajetória pavimentou caminhos para que outros artistas brasileiros e estrangeiros ocupassem espaços fora de seus territórios de origem. O holofote que ela trouxe ajudou a reposicionar o Brasil dentro da lógica da música pop global.
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Ao longo da minha trajetória com a Access Mídia, estive envolvida em momentos que considero marcos importantes nesse processo. Desde meus primeiros trabalhos com a Turma do Chaves no Brasil, passando pelo fenômeno RBD, o retorno de Luís Miguel, a era Despacito, Mon Lafert; Jesse y Joy até campanhas e ativações mais recentes com Karol G, Bad Bunny, venho acompanhando de perto os desafios e avanços da música latina no país. Sempre com uma abordagem adaptada à complexidade brasileira: um território continental, com hábitos de consumo distintos entre as regiões, que exigem estratégias segmentadas e sensíveis à diversidade do público.
Hoje, quando penso em uma campanha para um artista latino no Brasil, penso em múltiplas ações em paralelo. Cada região tem um comportamento próprio, e cada artista dialoga de forma diferente com o público. Não há fórmula única, e talvez seja isso que torne esse trabalho tão desafiador, tão apaixonante e tão potente.
O que vejo agora é um ciclo virtuoso se consolidando. O público brasileiro está mais aberto. As plataformas estão mais atentas. As gravadoras estão investindo. E os artistas estão vindo para cá com interesse real de se conectar, de entender e de fazer parte da nossa cultura.
O Crescimento foi tão grande nos últimos 2 anos que hoje dentro da Access Midia temos um braço muito forte que opera Brasil e Miami só desenvolvendo as estratégias para os artistas globais, trazendo o Brasil como um dos destaques. Acho que isso é um grande termômetro.
O Brasil sempre foi gigante. Agora, finalmente, o mundo está escutando.
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Mariana Madjarof é fundadora e CEO da Access Mídia, agência referência em marketing e relações públicas para artistas no Brasil e no exterior. Com passagem pelo rádio e pela Disney, consolidou-se como uma das principais pontes entre artistas internacionais e o público brasileiro. Especialista em marketing estratégico e imagem, lidera campanhas para grandes nomes da música nacional e internacional. Sua atuação no mercado latino inclui projetos com Luis Fonsi, RBD, Mon Laferte, Karol G, Luis Miguel e Bad Bunny, entre outros. Sob sua liderança, a Access Mídia se firmou como principal hub de música latina no Brasil.