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Você conhece o Record Store Day, feriado não-oficial dos viciados em vinil?

Você conhece o Record Store Day, feriado não-oficial dos viciados em vinil?

Dia 15 de abril: dia de quem gosta de bolacha

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Numa era em que o streaming domina o consumo musical e o algoritmo dita descobertas, há um dia no calendário em que a experiência ocupa o centro da vitrola: o Record Store Day. Criado em 2007 por um grupo de donos de lojas independentes dos Estados Unidos, o eventose espalhou pelo mundo como um grito de resistência do vinil.

Em 2025, ele será comemorado neste sábado (12).

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O primeiro Record Store Day aconteceu em 19 de abril de 2008, reunindo centenas de lojas independentes que passaram a oferecer lançamentos exclusivos, shows ao vivo e promoções especiais. A lógica era simples e potente: transformar um dia comum num ritual de peregrinação para colecionadores e curiosos, reforçando o elo entre artistas, fãs e os pequenos comércios que sempre funcionaram como pontos de encontro musicais — antes mesmo da existência de redes sociais.

Qual é o lance do Record Store Day

Todos os anos, o evento acontece em abril (geralmente no terceiro sábado do mês), com uma edição secundária — chamada Black Friday Drop — em novembro. A grande estrela do dia são os lançamentos exclusivos em vinil: reedições raras, gravações ao vivo, box sets, picture discs e faixas inéditas, muitas vezes com tiragens limitadas numeradas. Artistas consagrados como David Bowie, Prince, Taylor Swift, The Cure, Radiohead e Caetano Veloso já participaram com materiais raros ou edições comemorativas.

Além disso, lojas promovem DJ sets, pockets shows, sorteios, bate-papos e descontos, tornando o dia uma celebração sensorial da música.

Abaixo, você pode assistir a quase uma hora de Metallica tocando em Berklee, nos Estados Unidos, em 2016, durante um Record Store Day:

 

Muito mais do que nostalgia

Embora à primeira vista possa parecer uma homenagem puramente saudosista, o Record Store Day reflete um fenômeno concreto: a volta do vinil. Segundo a RIAA (Recording Industry Association of America), as vendas de discos de vinil ultrapassaram as de CDs em 2022 nos EUA — algo que não acontecia desde 1987. No Brasil, selos independentes, feiras de discos e novos colecionadores têm movimentado esse mercado com vigor renovado.

Os desafios e as críticas

Nem tudo, porém, são faixas bônus. O evento já foi alvo de críticas por parte de pequenos selos e artistas independentes, que apontam a concentração das prensas em lançamentos de grandes gravadoras nessa época do ano. Em muitos casos, os discos de artistas menores são adiados por conta da demanda imposta pelo RSD. Ainda assim, muitos participantes reconhecem a visibilidade que o evento traz — e se preparam com meses de antecedência para conseguir um espaço na programação.

No Brasil: da Galeria do Rock ao Baixo Augusta

Por aqui, o Record Store Day tem ganhado força especialmente nas capitais. Em São Paulo, lojas como a Locomotiva Discos, a Sensorial e a Baratos Afins movimentam a cena com ações especiais. No Rio, a Modern Sound e a Tropi.Cália viram pontos de encontro para entusiastas. Em Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, iniciativas locais também têm se mobilizado para celebrar o formato físico e o contato direto com a música.

Um ritual em tempos líquidos

Em um mundo cada vez mais veloz, o Record Store Day se destaca por promover uma experiência tátil, coletiva e consciente. Ouvir um disco do início ao fim, ler os créditos do encarte, conversar com um vendedor que entende seu gosto musical — tudo isso compõe um ritual que desafia o consumo instantâneo e revaloriza o tempo dedicado à arte.

Mais do que apenas comprar discos, participar do Record Store Day é afirmar que a música também pode ser vivida fora do fone de ouvido — no som da agulha, no cheiro da capa nova, no gesto de virar o lado B.

Curiosidades inusitadas do Record Store Day

1. O disco que salvou uma loja

Em 2013, a loja americana Grimey’s New & Preloved Music, em Nashville, estava à beira da falência. A edição local do Record Store Day atraiu tanta gente — graças a um lançamento exclusivo do Jack White — que a loja teve um lucro equivalente a três meses de operação em apenas dois dias. O evento literalmente salvou o negócio e hoje eles têm até um palco fixo para shows no estacionamento.

 2. Discos com design insano

Alguns lançamentos do RSD são tão fora da caixa que viraram item de museu. Em 2012, o Flaming Lips lançou o “Heady Fwends”, um vinil translúcido com gotas de sangue real de vários artistas convidados, incluindo Chris Martin (Coldplay) e Ke$ha. A tiragem era minúscula, e hoje é disputadíssima em leilões.

Outro exemplo foi o lançamento de “Space Project” (2014), um álbum feito com sons captados de satélites da NASA, prensado em vinil colorido que imitava galáxias.

3. O problema das prensas e os vinis fantasmas

Como a produção de vinil ainda é limitada, o RSD acaba travando a cadeia de produção global. Nos meses que antecedem o evento, as fábricas priorizam grandes tiragens de edições RSD, fazendo com que lançamentos independentes fiquem literalmente “engarrafados” na fila. Em 2021, um selo francês denunciou que seu disco estava “prensado” há 7 meses por conta da fila RSD. Isso fez surgir o termo vinil fantasma, para discos anunciados, mas nunca entregues.

4. David Bowie é o “campeão” do Record Store Day

Nenhum artista tem tantos lançamentos oficiais exclusivos do RSD quanto David Bowie. Após sua morte, o espólio do cantor passou a liberar gravações raríssimas, demos e performances ao vivo todo ano — em edições limitadíssimas. Em 2018, uma edição de “Let’s Dance” com demo inédita de 1983 foi vendida em apenas 550 cópias no mundo inteiro.

 5. O dia em que Prince fingiu ser DJ

Na edição de 2016, uma loja em Minneapolis anunciou uma listening party de um lançamento póstumo de Prince. O evento viralizou porque Prince apareceu disfarçado, ficou no fundo da loja e depois tocou um set como DJ anônimo, usando só samples da própria discografia. Não há registros oficiais — só relatos dos que estavam lá. Virou lenda urbana instantânea do RSD.

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