Você está lendo
Virtuosismo + rock + pop + bom humor = Beat, que toca sexta-feira no país

Virtuosismo + rock + pop + bom humor = Beat, que toca sexta-feira no país

O grupo recria a fase mais acessível do ícone progressivo King Crimson

“Seu nome é Sérgio? Tem um restaurante perto de casa em que o barman se chama Sérgio. É um bom nome”, diz o guitarrista e vocalista Adrian Belew, numa inversão da ordem natural das entrevistas –em geral, são os jornalistas que fazem um afago no entrevistado antes de fazer as perguntas. Porém, nunca espere algo convencional desse americano de 75 anos.

VEJA TAMBÉM
Day Limns

Belew, que na próxima sexta-feira, dia 09 de maio, faz uma única apresentação em São Paulo à frente de Beat, grupo que relê o repertório dos mestres do rock progressivo King Crimson na década de 1980 –e que trazia o músico nas guitarras e vocais– traz um dos currículos mais ricos que um músico poderia ostentar. Em 1977, ele se apresentava num boteco em Nashville, cidade do Texas, quando foi descoberto pelo guitarrista e maestro Frank Zappa (um dos dos artistas mais completos em todos os tempos, cujo repertório vai do erudito ao popular). “Frank daria um ótimo presidente, sabia? Eu adorava o senso de humor dele.”

Durante uma excursão de Frank Zappa pela Europa, em 1978, Adrian Belew chamou a atenção de David Bowie, que morava então na cidade alemã de Berlim. O guitarrista foi um das peças chaves de uma fase experimental do cantor inglês, em especial no disco “Lodger”, de 1979 –posteriormente, os dois voltaram a se encontrar na turnê “Sound + Vision”, na qual Bowie revisitou seus sucessos apoiado pela banda de Belew. Foi uma fase em que se prestou a experimentos como ter seus solos editados pelo cantor e pelo produtor Brian Eno. “Nunca pensei que alguém se gravasse daquele jeito. Eles pediram para eu ir numa sala separada do estúdio, e fizesse os solos à medida em que a música ia tocando”, comenta o guitarrista, que dá a dica onde esse método teve o melhor resultado. “Escute ‘I’m a DJ’ e ‘The Boys Keep Swinging’.”

O período em que passou ao lado de Zappa e Bowie, além das temporadas ao lado do pop experimental dos Talking Heads –e sua “filial”, o Tom Tom Club, formado pela baixista Tina Weymouth e pelo baterista Chris Frantz, ou seja, 2/4 do grupo americano– o credenciou para integrar o King Crimson. Belew uniu-se ao também guitarrista Robert Fripp, fundador do ícone progressivo, ao baixista Tony Levin e ao baterista Bill Bruford e juntos fizeram um trabalho conhecido como “a trilogia das cores” – “Discipline” (1981), de capa vermelha; “Beat”, de 1982, de capa azul, e “Three of a Perfect Pair”, de 1984, de capa amarela. Eles apresentam uma nova estética: embora ainda fizesse música de toques experimentais e cerebrais, o grupo tinha um pé no pop e na música comercial. 

“O King Crimson sempre teve um equilíbrio entre as canções de tons mais sombrios e pesados. Mas pensei que seria interessante criar melodias e letras de inspiração pop, que poderiam figurar num repertório dos Beatles”, diz Belew. “Penso que Robert [Fripp] também desejou ir por esse caminho ao me convidar para integrar a banda.”

Uma das canções que apontam os novos ares para o King Crimson é “Matte Kudasai” (termo japonês que significa “por favor, espere”) que conta a história de alguém que espera pelo seu amor, naquele momento vivendo em terras distantes. “Quando entrei no King Crimson, eu travei uma luta interna porque não sabia que tipo de material deveria escrever. Foi então que Robert apareceu com o trecho de uma canção que estava compondo. Então pensei: ‘Ah, esse tipo de música eu consigo fazer!’ Assim nasceu ‘Matte Kudasai'”, diz Belew. “Foi então que percebi que tinha capacidade para estar no King Crimson”, completa o guitarrista.

Uma das brincadeiras favoritas do músico é dizer que entre as suas funções, além de cantar e tocar uma guitarra repleta de efeitos sonoros –que incluem até um bramido de elefante– é trazer uma luz de simpatia ao grupo, que tinha como integrantes seres sisudos. “É mais ou menos como dizer que é tranquilo gostar de King Crimson”, brinca. “Mas hoje eu vejo esse retrato que faziam de nós, como autores de um estilo intransponível, é coisa do passado. Há um público jovem muito interessado em nossa sonoridade.”

A fase de Adrian Belew no King Crimson durou de 1981 a 1984 e depois de 1994 a 2013. Cinco anos atrás, Belew deu início a conversas para criar um grupo e tocar especificamente o repertório do King Crimson nos anos 1980. “São canções boas demais para serem esquecidas porque muita gente que conheço diz que é sua fase predileta da banda”, explica. Seria uma pena que isso não pudesse ser revisitado porque existem fãs antigos e novos que gostariam de nos ver em ação.” Beat traz Belew e Tony Levin, que tocaram na trilogia das cores e nos discos posteriores do grupo –Levin, aliás, integrou até a formação que não tinha mais Belew à frente dos vocais e da guitarra. Os substitutos de Robert Fripp e Bill Bruford são nada menos que Steve Vai (a exemplo de Belew, um ex-Zappa) e Danny Carey, baterista do grupo de metal progressivo Tool

“Fripp e Levin tinham uma ideia mais cerebral de fazer música, a formação atual coloca um pouco mais de groove”, elogia o guitarrista. O “dono” do King Crimson, no entanto, não quis deixar sua criação de qualquer jeito. Cada mudança na guitarra foi discutida passo a passo por Vai e Fripp.

“Não perca”, diz Adrian Belew. “Será uma oportunidade única.” O fã da “trilogia das cores” concorda em gênero, número e grau. Abaixo o provável repertório do show.

 

BEAT

Onde: Espaço Unimed

Quando: sexta-feira, dia 09, às 22h

Onde comprar: Eventim 

 

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.