Crítica: com ‘Clancy’, Twenty One Pilots completa epopeia sobre saúde mental
Tyler Joseph e Josh Dun vêm ao Brasil em janeiro de 2025
O Twenty One Pilots lançou, nesta sexta-feira (24), o álbum visual “Clancy”. O duo, formado por Tyler Joseph e Josh Dun, apresenta nove faixas inéditas, além dos quatro singles lançados anteriormente –”Backslide”, “Next Semester”, “Overcompensate” e “The Craving”. Além de clipes para todas as músicas.
Vale lembrar que os dois têm data marcada para vir ao Brasil. Eles se apresentam em janeiro de 2025 em três cidades: Curitiba (22/1), Rio de Janeiro (24/1) e São Paulo (26/1). Os ingressos já estão à venda pelo site da Eventim.
Antes de falar sobre as faixas de “Clancy”, é necessário voltar um pouquinho na discografia do Twenty One Pilots. “Blurryface”, lançado em 2015, abriu o enredo seguido nos discos posteriores. Para abordar as questões de saúde mental, o duo criou uma história complexa, cheia de detalhes e digna de um filme sobre um mundo distópico.
Tyler é o grande protagonista e desde então adota o pseudônimo Clancy. Na cidade fictícia, Dema, nove bispos e o líder Nico controlam a população. Além disso, eles impõem o Vialismo –religião que prega que a autodestruição é o único caminho para o paraíso.
Assista ao clipe de “Overcompensate”:
Josh é tão importante quanto o protagonista na história: ele é a representação da possibilidade de salvação e da esperança por dias melhores. Por último, temos os Banditos –pessoas que escaparam de Dema e buscam acabar com o controle autoritário de Nico e os nove bispos.
Desde o disco de 2015, o duo coloca referências à história nas letras e nos clipes.
Em “Trench” (2018), a trama é abordada em “Jumpsuit”, por exemplo, em que começamos a entender os personagens e testemunhamos a dificuldade de Clancy em escapar do poder de Nico. O disco “Scaled and Icy”, de 2021, é uma propaganda dos bispos, que obrigaram o duo a entreter a alta sociedade de Dema.
Contador de histórias
Em 2019, o vocalista explicou à “NME” o motivo do storytelling: para entender melhor a própria psique. “Dando-lhe um destino e [entender] lugares que você deve ou não ir e personagens que você deve evitar. Isso pode ser encontrado na luta de cada pessoa”.
Em “Clancy” (2024), o talento de Tyler Joseph em metaforizar as próprias batalhas é, mais uma vez, provado. O álbum reforça as reflexões sobre os ciclos da depressão, ansiedade, insegurança, medo, sobrevivência e resistência.
“Next Semester” aborda a ideação suicida; “Backslide” é um desabafo sobre a repetição de ciclos e de tirar coragem para enfrentá-los novamente; “Navigating”, assim como “Snap Back”, fala do aprisionamento aos próprios pensamentos e sobre não conseguir sair do mesmo lugar.
“Paladin Strait”, fecha o álbum com chave de ouro. A faixa é melancólica e esperançosa ao mesmo tempo, com destaque para o trecho final a partir dos três minutos, quando a bateria de Josh entra e Tyler canta num tom de desabafo.
Completamente emocional e com uma sonoridade inédita para o Twenty One Pilots –que adotou um pop feliz demais em “Scaled and Icy” e tons mais obscuros nos discos anteriores –, Tyler/Clancy canta sobre entender que a luta com a saúde mental jamais tem fim.
A letra também cita diretamente o storytelling criado pelo duo e se refere ao clipe do single “The Outside”, do álbum anterior. Nele, Clancy foge do controle de Nico e chega nadando até outra praia, onde é socorrido por Josh (que segura uma tocha).
“Eu nadaria o Estreito de Paladin sem qualquer flutuação/ Apenas um vislumbre de você na outra costa/Esperando, expectativas de que eu vou conseguir [sobreviver]”.
A mensagem de toda a história, de forma bem resumida, é: nem sempre venceremos todas as batalhas, mas a meta é continuar vivendo, tentando e lutando (jamais sozinhos), apesar das dificuldades e momentos de desespero.
O encerramento é interrompido nos segundos finais com uma voz robótica: “So few, so proud, so emotional… Hello, Clancy” (os poucos, os orgulhosos, e os emotivos… Oi, Clancy). Se a frase é só uma referência à música de 2015 “Fairly Local”, a marcação do fim da era que durou nove anos ou o começo de outra trama… Só saberemos no próximo disco.