The Town 2025: Péricles e Dexter fazem o coração da quebrada pulsar mais forte
Samba e rap se uniram em show histórico, que mostrou que a periferia é o centro
		    Desde que soube que Péricles e Dexter dividiriam palco no The Town 2025, senti que seria algo além de um show: promessa de encontro de mundos, ponte entre histórias que se conectam para além dos territórios físicos, entre samba e rap. E foi exatamente isso que vi no Palco Quebrada – algo que reafirma quem eles são para uma porção de gente que se formou ouvindo caras como eles, inclusive eu, a repórter que vos escreve.
Péricles carrega há muito tempo a vontade de unir pagode, samba e elementos do rap, de trazer ritmos que exaltam a voz da periferia. “A gente vem do mesmo meio, a gente conta as mesmas histórias, de superação, de vitórias. A gente fala de amor também, de superação, do bem-sucedido, daquele que serve como munição…”, disse em entrevista à Billboard Brasil.

Quando o som começou, a plateia respirou fundo e vibrou de alegria. O repertório trouxe momentos de homenagem, como ao inesquecível Arlindo Cruz em “Favela”; emoções cadenciadas em “Até Que Durou”; sambas que aquecem o peito como “Melhor Eu Ir”; e pagodes que dão alma como “Jogo de Sedução”.
Com a entrada de Dexter, a energia se transformou. O público cantava junto “Saudades Mil”, reafirmando que emoção também é resistência:
 “Velha camarada, obrigada pela carta.
 Que saudade, preta rara, quero viver.
 De cabeça erguida, logo vou sair pra vida.
 Qualquer dia, eu vou te ver…”
O rapper celebrou 35 anos de carreira, 52 de idade e 14 de liberdade. “A gente tá no lugar certo com as pessoas certas. Mas também é uma vitória, porque por anos a gente foi excluído. Hoje, a gente tá sendo convidado e tá fazendo com excelência.”
Dexter assumiu um papel visceral: sua voz (às vezes rouca, às vezes urgente) trouxe os versos da vida real. Ele não canta para abstrair: canta para lembrar, confrontar, libertar. “Falar do cárcere no Brasil é um assunto tóxico, ninguém quer falar, mas eu não posso fazer isso. Eu insisto, porque é pertinente. Essas pessoas que são nossos irmãos e irmãs estão privados de liberdade.”
Trechos ecoaram como cicatrizes abertas e renascimentos possíveis em “Oitavo Anjo”: “Acharam que eu estava derrotado…”. O público se apertava, chorava, dava as mãos. E versos como “Se eu quiser fumar eu fumo” ou “Se eu ganho um beijo seu” soaram não como fuga, mas como emancipação: posso escolher, posso sentir, posso amar.
Quando veio “Stand by Me” na voz de Péricles, clássico de Ben E. King que atravessa gerações, o coro foi de união: samba, rap, periferia, amor e luta conectados.
Para mim, foi noite de reafirmação. Péricles, com sua voz que acolhe, lembra que cantar é cuidar de gente. Dexter, com sua lírica contundente, obriga a olhar para o que o país que insiste em esquecer questões fundamentais. Ver os dois ali, trocando olhares, dividindo o palco, é prova de que a cultura da quebrada respira alto.
O público vibrou — vibrou de alma. Pulso batendo no peito, mãos erguidas, olhos marejados. Foi mais do que ver dois shows; foi testemunhar duas histórias de vida, de luta, de arte que se recusa a calar. E eu, olhando, senti cada nota reverberar dentro de mim: referência que atravessa, que incendeia, que cobra dignidade.
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